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Outubro traz consigo vários eventos significativos: as eleições municipais; a segunda etapa do Sínodo sobre a Sinodalidade, e é o Mês Missionário, que neste ano tem como lema “Ide, convidai a todos para o banquete” (Mt 22,9) e o tema: “Com a força do Espírito, testemunhas de Cristo”. Está em sintonia com a Igreja da América, que se prepara para o 6º Congresso Missionário Americano, o CAM6, de 24 a 26 de novembro de 2024, em Porto Rico.
Na mensagem para o Dia Mundial das Missões (20 de outubro), o Papa Francisco convoca a Igreja a refletir sobre a missão como saída incansável ao encontro de todas as pessoas; rever a perspectiva escatológica e eucarística da missão de Cristo na Igreja e repensar o caráter universal do discipulado numa Igreja toda sinodal-missionária.
As “Dicas Bíblicas”, sempre nas pegadas do Mês da Bíblia, propõe a reflexão do capítulo 34 de Ezequiel, no qual o profeta faz uma longa crítica aos líderes do povo, que não souberam conduzi-lo pelos caminhos da justiça, na escuta atenta da vontade de Deus, mas se perderam em sua ânsia de poder, em privilégios e na satisfação de desejos pessoais.
Pastores que privaram o povo até mesmo da dignidade e da esperança. Ez 34 é extenso e complexo por conter vários blocos temáticos.
Num primeiro momento, critica os pastores prepotentes, que exploram as ovelhas (vv. 7-10). Os “pastores”, neste texto, representam os líderes políticos (reis, governantes) e religiosos (sacerdotes do Templo), e as “ovelhas”, o povo, que deveria ser guiado pelo caminho da justiça, ter suas necessidades básicas saciadas e ser libertado dos adversários. Esse tema é fundamental para o profeta, que vive num contexto no qual predomina a desorientação social e religiosa, que é o exílio promovido pela Babilônia contra os judaítas, dado que seus chefes foram incapazes de manter a fidelidade à Aliança com Deus.
Sem contar aqueles que tentam tirar proveito da fraqueza do outro, no período da queda de Jerusalém (os reis das nações vizinhas), a fim de se enriquecer e “salvar sua pele”, deixando o povo à deriva. Por isso, no segundo bloco (vv. 11-16), o profeta elenca as diversas situações nas quais se encontram as ovelhas e descreve a ampla busca das ovelhas por parte de “Deus-Pastor”.
Na terceira parte, Deus critica não somente os grandes líderes políticos e religiosos, daquele tempo, mas constata que entre as ovelhas há aquelas que exploram as outras, por meio da prepotência e da violência (vv. 17-22).
Assim, denuncia as atitudes violentas e injustas das ovelhas, que adotaram o proceder dos pastores iníquos. Por fim, há a promessa de um pastor bom, segundo o modelo de Davi (vv. 23-24) e de uma aliança de Paz (vv. 25-26).
Não basta somente eliminar a prepotência e a violência, é necessária uma renovação nos relacionamentos, uma confiança mútua, uma nova Aliança, que integrará o povo disperso em suas divisões. Ao proclamar a renovação dessa Aliança, Deus não impõe condições.
Mas, é necessário o povo aceitá-la e decidir livremente mudar de mentalidade, assumindo, com convicção, os caminhos da justiça, da solidariedade, da irmandade, do serviço, do poder compartilhado, da paz.
Esse texto é muito atual ao ter presente os grandes eventos que celebramos no decorrer do mês de outubro, de forma especial as eleições municipais e a segunda etapa do Sínodo. Por um lado, há uma crítica aos líderes, seja político ou religioso, por oprimir e explorar o povo.
Deste modo, podemos fazer uma avaliação para perceber se há entre nós e em nossos municípios líderes opressores, que tiram das pessoas sua dignidade e sua esperança.
Assim, somos convocados e convocadas a nos preparar para escolher prefeitas ou prefeitos, vereadoras e vereadores, pois são nossos representantes; nos envolver nas reflexões sobre nossos bairros e municípios, e após as eleições, acompanhá-los para que sejam fiéis às suas promessas.
Não basta votar, é importante participar das decisões dos problemas de nossas cidades e acompanhar nossos representantes! Por outro lado, também é um momento de profunda avaliação da forma como o poder é exercido em nossas comunidades, paróquias, nos locais onde trabalhamos e em nossas famílias.
É o tempo favorável para repensar a sinodalidade, como participação, comunhão e missão – temática tão difundida pelo Papa Francisco – e nos questionar como exercemos nosso poder e se estamos dispostos e dispostas a mudar a mentalidade.
De fato, a sinodalidade não é uma forma de proceder ocasional, nem um mero sentimento, mas é um modo de viver e agir da Igreja, é viver em constante discernimento e escuta do Espírito Santo, em nós e entre nós, e ter em nossas decisões e atitudes, o princípio sinodal: “o que afeta a todos e todas, deve ser tratado e aprovado por todos e todas”.
Pausa para reflexão
1. Quais iniciativas as comunidades, (arqui)dioceses, paróquias estão promovendo para conhecer melhor os candidatos à prefeitura de minha cidade?
2. Como estou me preparando para escolher meus candidatos e quais atividades assumirei para acompanhá-los após as eleições?
3. Nossas estruturas paroquiais ou comunitárias favorecem a participação efetiva de todos e o exercício do poder compartilhado? Como repensar as relações de poder em nossas Igrejas, tendo presente a proposta sinodal?
4. Nas decisões da comunidade e na missão levamos em consideração o princípio de que “o que afeta a todos/as deve ser tratado e aprovado por todos/as”?
5. Como podemos contribuir para a reforma eclesial proposta por Francisco, divulgando e assumindo as decisões dessa segunda etapa do Sínodo sobre o tema da Sinodalidade? Estou envolvido e envolvida nesse processo do sínodo convocado pelo Papa, por meio da participação, leitura e reflexão de seus resultados? Como manter a unidade como harmonia das diferenças?
6. Quais atividades propor para contemplar os três aspectos da missão abordados pelo Papa Francisco em sua mensagem pelo 98° Dia Mundial das Missões?
Sugestão de leitura
Livro: Ezequiel - "Eu vos darei um coração novo" (Ez 36,26)
Mensagem do Papa Francisco para o 98º Dia Mundial das Missões 2024: acesse aqui.
Zuleica Aparecida Silvano é irmã paulina e assessora do Serviço de Animação Bíblica – SAB/Paulinas.