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Você já ouviu falar dos vapes? Eles têm se tornado cada vez mais populares entre os jovens, que são atraídos por sua aparência moderna, variedade de sabores e pela falsa ideia de que são menos prejudiciais que os cigarros tradicionais. Estamos falando dos cigarros eletrônicos, cuja venda têm crescido exponencialmente no Brasil, apesar da proibição imposta pela Anvisa desde 2009.
Dra. Silvana Rubano Turci, esquisadora e coordenadora do Centro de Estudos sobre Tabaco e Saúde (CETAB/Fiocruz)
Dados do Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica) apontam que o uso de cigarros eletrônicos no Brasil aumentou em 600% entre 2018 e 2023. “A ideia de que os cigarros eletrônicos são menos agressivos ou mais seguros para a saúde é uma construção enganosa da indústria do tabaco. Os aerossóis gerados pelos vapes contêm cristais de nicotina, substâncias cancerígenas como o formaldeído e compostos tóxicos que podem provocar danos severos ao organismo”, afirma a pesquisadora e coordenadora do Centro de Estudos sobre Tabaco e Saúde (CETAB/Fiocruz), dra. Silvana Rubano Turci.
Saúde em risco
Em países onde o uso dos cigarros eletrônicos já está mais disseminado, os profissionais de saúde relatam um aumento de casos de problemas respiratórios, cardiovasculares e neurológicos entre os usuários. Entre os principais sintomas identificados estão:
- Problemas respiratórios: tosse persistente, falta de ar, chiado no peito e aumento da frequência de infecções pulmonares;
- Sintomas cardiovasculares: elevação da pressão arterial, arritmias e aumento do risco de doenças cardíacas;
- Sintomas neurológicos: tonturas, dores de cabeça, dificuldades de concentração e impacto no desenvolvimento cerebral em adolescentes;
- Transtornos psiquiátricos: maior predisposição à ansiedade, depressão e dependência química severa devido à alta ingestão de nicotina.
“Nos Estados Unidos, por exemplo, houve um aumento preocupante de casos da EVALI (lesão pulmonar associada ao uso de cigarros eletrônicos), que já resultou em hospitalizações e mortes. Muitos desses dispositivos contêm substâncias desconhecidas e pouco reguladas, tornando seus efeitos ainda mais imprevisíveis para os usuários”, adverte a pesquisadora.
Produto ilegal
O uso, comercialização, importação e propaganda de todos os tipos de dispositivos eletrônicos para fumar são proibidos no Brasil, por meio da Resolução de Diretoria Colegiada da Anvisa RDC nº 46, de 28 de agosto de 2009. Ou seja, além de nocivo à saúde, o cigarro eletrônico é um produto ilegal.
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Como explicar que, apesar do embargo, seu consumo vem crescendo? Como conter o avanço do consumo desses dispositivos eletrônicos? A dra. Silvana Rubano Turci aponta quatro caminhos:
- Reforço da fiscalização: Apesar da proibição pela Anvisa, o mercado ilegal de vapes cresceu exponencialmente. É fundamental que o governo aumente a vigilância e coíba a comercialização irregular desses produtos.
- Campanhas de conscientização: Muitas pessoas ainda desconhecem os reais riscos dos cigarros eletrônicos. Precisamos intensificar a educação sobre os impactos na saúde, especialmente entre adolescentes e famílias.
- Regulamentação da publicidade e redes sociais: A indústria do tabaco usa influenciadores digitais e plataformas como Instagram e TikTok para normalizar o uso de vapes. Medidas para coibir essa publicidade ilegal são urgentes.
- Políticas públicas baseadas na ciência: O Brasil já foi referência no combate ao tabagismo e não pode permitir que os vapes revivam a epidemia da dependência da nicotina entre jovens.
Ameaça à saúde pública
Especialistas defendem a necessidade de intensificar a fiscalização e a punição dos envolvidos no comércio ilegal de vapes. A regulamentação do mercado é vista como uma ameaça à saúde pública, pois ela pode legitimar o uso de um produto altamente viciante e prejudicial.
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“A regulamentação dos vapes no Brasil é uma pauta impulsionada pela indústria do tabaco, que busca legitimar esses dispositivos sob o pretexto da "redução de danos". No entanto, a experiência internacional mostra que a regulamentação não impede o aumento do consumo, especialmente entre jovens. Liberar é melhor para quem? Nem mesmo para o Estado é vantajoso. O cigarro convencional, por exemplo, arrecada pouco mais de R$13 bilhões de impostos federais, mas gera R$57 bilhões em custos diretos para a saúde”, defende a coordenadora do CETAB/Fiocruz.
O uso de cigarros eletrônicos também representa um risco ambiental, liberando microplásticos e substâncias químicas, como metais pesados provenientes das baterias. Além disso, podem causar lesões físicas, incluindo queimaduras por explosões causadas pelas baterias.
O avanço dos cigarros eletrônicos representa uma grave ameaça à saúde pública. É preciso reforçar políticas preventivas, combater a desinformação e garantir que os vapes não se tornem uma nova epidemia de dependência da nicotina no Brasil. “Sem ações firmes e coordenadas, corremos o risco de perder os avanços conquistados no controle do tabaco ao longo das últimas décadas”, finaliza a dra. Silvana Rubano Turci.