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 O que aprendemos com os Migrantes? 40 anos de caminhos, desafios e esperança

O Serviço Pastoral dos Migrantes (SPM/CNBB), em parceria com outras pastorais sociais, entidades e organizações em geral, promove a  40ª Semana do Migrante 

Foto: Freepik

O processo vai de 15 a 22 de junho de 2025, tendo como tema Migração e Esperança e como lema Sempre no caminho com os migrantes.

O evento celebra os 40 anos do SPM, fundado oficialmente em outubro de 1985. Porém, celebra igualmente as lutas, sonhos e esperanças de quem, forçado à fuga por distintos fatores, busca um novo solo pátrio.

Os termos migração, de um lado, e esperança, de outro, de certa maneira não deixam de ser sinônimos. Com efeito, quem se põe à estrada, só ou com a família, é porque carrega no peito alguma forma de esperança. E a esperança, por sua vez, ao despertar e rejuvenescer a alma, nos coloca em marcha.

Uma e outra se configuram, ao mesmo tempo, como causa e efeito de transformações sociais, políticas e culturais. Quem espera e quem migra torna-se simultaneamente artífice, profeta, peregrino e protagonista de tempos recriados.

A esta altura, entretanto, cabe distinguir com maior precisão a diferença entre esperança e expectativa. Enquanto esta última tenta responder a desejos e interesses imediatos e normalmente materiais, a esperança tem os olhos fixos em metas de longo alcance e elevada altura. A primeira pode ser satisfeita pelo impulso frenético da produção, do consumo e da moda.

Dobra-se facilmente ao mercado, ao ter ou ao aparentar. A segunda amplia os horizontes para além dos bens visíveis e palpáveis, cultivando os atributos do ser pessoa. Uma se satisfaz com os analgésicos da farmácia; outra, sóbria e sábia, será capaz de submeter-se a um sério e profundo exame de consciência sobre o sentido da existência humana.

Ademais, a esperança reconhece as fraquezas e debilidades da condição humana, colocando-se com fé nas mãos de Deus. Quando tudo parece escuro, incerto, inseguro e instável, sabe que o Espírito vela por quem bate à sua porta. A expectativa, pelo contrário, conta tão somente com a própria força.

Foto: Freepik

Quando esta desfalece, faltam-lhe as energias para levantar a cabeça, caminhar com as próprias pernas e seguir adiante.

Voltando aos migrantes, quem muito caminha, encontrando fronteiras e portas fechadas, aprende a arte de “esperançar”, de esperar pela hora de Deus, que nem sempre coincide com a hora de nossos medos e males, dúvidas e inquietações, sejam eles pessoais ou coletivos.

Nas atitudes e atividades do SPM, sempre no caminho com os migrantes, como reza o lema citado no início, são eles mesmos, os forasteiros, que nos ensinam a não confundir esperança com expectativa.

Foto: Freepik

Certamente, todo migrante é movido por expectativas, como qualquer pessoa. Expectativas de profissão, trabalho, moradia, salário justo e outros direitos humanos básicos.

Mas vai descobrindo que a esperança o conduz mais além: ao encontro e ao diálogo, à convivência e à solidariedade com o outro, o diferente, o estrangeiro. E que, se a expectativa nos faz viver e sobreviver, mal que seja, só a esperança nos leva à paz, ao amor e à gratuidade – numa palavra, à vida justa, digna e plena, sempre em sintonia com o ritmo da natureza e a herança a ser deixada às futuras gerações.
 

 Pe. Alfredo J. Gonçalves,cs, é sacerdote da Congregação dos Missionários de São Carlos (scalabrinianos), cujo carisma é atuar com migrantes e refugiados. Durante 5 anos, foi assessor do Setor Pastoral Social da CNBB, depois Superior Provincial e Vigário Geral na Congregação supracitada. Hoje, exerce a função de vice-presidente do Serviço Pastoral dos Migrantes (SPM). Recentemente lançou o livro Retratos da Metrópole, organizado pela Missão Paz.

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