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Em tempos em que os tablets e celulares se tornaram companheiros constantes das crianças, encontrar o equilíbrio entre o mundo digital e o real é um dos grandes desafios das famílias. No Dia das Crianças, a reflexão sobre esse tema ganha força: como garantir que a tecnologia, inevitável e presente, não substitua experiências fundamentais ao desenvolvimento infantil?

Juliana Gatti, do Instituto Árvores Vivas: "vivências sensoriais fortalecem a infância". Foto: Arquivo Pessoal
Para Juliana Gatti, doutoranda no Programa de Ecologia Aplicada da ESALQ/USP e diretora executiva do Instituto Árvores Vivas, é na relação com o ambiente natural e nas vivências sensoriais que a infância se fortalece. “As crianças precisam, desde a primeira infância, ter oportunidade de conviver e experenciar ambientes saudáveis e diversificados, que estimulem todos os sentidos: tato, visão, audição, olfato e paladar. É nesse contato com o mundo real que o cérebro estabelece conexões neurais essenciais para o desenvolvimento cognitivo, motor e emocional”, explica.
O tempo na natureza
A Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda que crianças menores de 2 anos não sejam expostas às telas. “As telas limitam experiências. Elas não oferecem textura, temperatura, peso, movimento. Já o contato com a natureza amplia o repertório da criança e desenvolve sua resiliência, ensinando, por exemplo, que o tempo de uma planta germinar é diferente do tempo de um vídeo carregar”, compara.

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Segundo a pesquisadora, pequenas práticas cotidianas podem transformar o convívio familiar. “Criar hábitos de conexão diários são tão simples como: cuidar de uma horta na janela, regar uma planta, observar o canto dos pássaros ou brincar ao ar livre. São experiências que fortalecem o vínculo com o tempo natural e reduzem a ansiedade gerada pelo imediatismo digital”, sugere Juliana.
Viagens para áreas protegidas distantes podem acontecer pontualmente. Mas criar hábitos de conexão diários são tao simples como cuidar de uma horta na janela,..
Adultos responsáveis
Enquanto isso, no ambiente doméstico, os pais também enfrentam o desafio de equilibrar rotinas entre telas e brincadeiras. Para Roberta e Taís Bento, educadoras e fundadoras do SOS Educação, o papel dos adultos é essencial. “Não temos mais a referência da nossa própria infância, em que as telas não existiam. Mas continua sendo nossa responsabilidade garantir uma infância equilibrada”, afirmam.

Roberta e Taís Bento, do SOS Educação: é possível combater os prejuízos dos excessos digitais. Foto: Divulgação
Elas estruturaram sete pilares que ajudam as famílias a promover o desenvolvimento saudável das crianças e a convivência harmoniosa entre o mundo real e o digital:
1. Noites completas de sono, sem interferência de telas;
2. Atividade física frequente;
3. Hora do estudo regular, de segunda a sexta;
4. Momentos de leitura em família, pelo menos 20 minutos, duas vezes por semana;
5. Responsabilidade compartilhada nas tarefas domésticas;
6. Brincadeiras presenciais e ao ar livre, sem dispositivos;
7. Refeições em família, sem a presença de telas.

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“Quando esses sete pontos estão presentes, conseguimos mitigar ou eliminar os prejuízos do excesso de mundo digital”, destacam as especialistas. O segredo está na consistência: pequenas doses de presença e rotina fazem toda a diferença.
Tempo e exemplo
Para Juliana Gatti, a questão vai além do comportamento: é também um compromisso social. “As famílias podem se unir em comunidade para criar ou revitalizar espaços de convivência e natureza. Parques, praças e jardins não exigem grandes investimentos, mas representam enormes ganhos para a saúde emocional e coletiva”, ressalta.
No fim das contas, o equilíbrio entre o digital e o natural não se constrói com proibições, mas com presença, tempo e exemplo. O Dia das Crianças é um convite para isso: sair das telas e descobrir, junto com os pequenos, que a melhor conexão ainda é aquela feita olho no olho — e de pés descalços no chão.
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