Foto: Matheus Miguel Jacinto
A música sempre desempenhou um papel fundamental na expressão da fé cristã, desde os tempos bíblicos até os dias atuais. Dentro da liturgia, o canto cumpre uma parte integrante e vital do culto, capaz de elevar a alma e unir os corações em louvor a Deus.
Portanto, como a escolha e o uso adequados dos cantos durante as celebrações litúrgicas devem ser pensados? O principal objetivo é garantir que a música sirva ao propósito de glorificar a Deus e santificar a assembleia.
O que é o canto e a música na liturgia?
O canto e a música na liturgia têm um papel essencial na vida da Igreja, servindo como meio de expressar a fé, elevar a alma em oração e facilitar a participação ativa dos fiéis nas celebrações. No Antigo Testamento, encontramos como conhecido exemplo o livro dos Salmos, que são cânticos de louvor, súplica e ação de graças, utilizados no culto israelita.
No Novo Testamento, a música continua a ter um papel significativo na vida da comunidade cristã. Em Cl 3,16, o Apóstolo Paulo exorta os fiéis a ensinar e admoestar uns aos outros com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando a Deus com gratidão em seus corações. Com o passar dos tempos, o canto e a música mantiveram-se como elementos constantes na liturgia, apesar das mudanças vividas na Igreja.
Atualmente, é necessário àquele que se dedica ao estudo, à composição e à execução do canto e da música litúrgicos considerar tudo quanto foi dito no capítulo VI do documento do Concílio Vaticano II para a liturgia, Sacrosanctum Concilium.
Também sejam estudados os documentos publicados pela Igreja na América Latina e no Brasil, como o cap.7 do Manual de Liturgia II do Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM) e o Nº 79 dos Estudos da CNBB, que diz que “o canto cria comunidade, liga as pessoas entre si, e mais eficazmente as põe em sintonia com o Mistério de Deus” (CNBB Nº 79, 6).
A música litúrgica deve estar em harmonia com o rito e a ação litúrgica, contribuindo para a edificação espiritual dos participantes e refletindo o mistério que se celebra.
A diferença entre um canto litúrgico e outros cantos pastorais...
Consiste na sua finalidade e no contexto em que são usados. Um canto litúrgico é especificamente composto para ser utilizado dentro do contexto da celebração litúrgica, como a missa, a Liturgia das Horas ou outros sacramentos e ofícios. Ele está sedimentado nos textos e nas ações da liturgia, sendo elaborado para expressar e realçar a sacralidade dos ritos e deve ter grande valor nas celebrações (IGMR nº 20).
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Por outro lado, os cantos pastorais, embora possam tratar de temas religiosos e espirituais, não são necessariamente destinados ao uso litúrgico, podendo ser usados em encontros de oração, retiros, catequeses ou outros contextos pastorais. Enquanto os cantos litúrgicos seguem normas específicas quanto à sua adequação à liturgia, os cantos pastorais têm maior liberdade criativa e temática.
Os cantores, instrumentistas e instrumentos musicais na liturgia
Cantores e instrumentistas atuam como ministros da música sacra. Os cantores, especialmente aqueles que compõem o coro, têm a responsabilidade de guiar e sustentar o canto da assembleia, promovendo a participação ativa de todos os presentes.
Os instrumentistas devem complementar o canto, assegurando que a música esteja sempre em harmonia e a serviço da ritualidade litúrgica. Ambos necessitam de uma formação litúrgica adequada, para que desempenhem suas funções de maneira que contribua positivamente para a celebração.
Os instrumentos musicais cooperam para o ambiente de oração ajudando a realçar o canto e as ações litúrgicas. Para o rito romano, o órgão é tradicionalmente considerado o instrumento litúrgico por excelência, devido à sua capacidade de sustentar o canto e criar uma atmosfera solene (SC nº 120). Outros instrumentos podem ser utilizados, respeitando a dignidade da celebração, em harmonia com o caráter da liturgia e as possibilidades da inculturação.
Como saber quando um canto não é litúrgico?
Para discernir sobre isto, é importante avaliar a adequação do canto ao contexto da celebração, à ação ritual proposta e à fórmula ritual. Um canto não é litúrgico se não estiver em harmonia com o rito que acompanha, ou se seu texto não estiver diretamente relacionado às Sagradas Escrituras, à doutrina da Igreja ou às orações próprias da liturgia (SC nº 121).
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É necessário atentar-se ao calendário litúrgico, colocando o canto de acordo com o mistério celebrado no dia. Além disso, cantos que enfatizam mais o indivíduo do que a comunidade, que possuem uma linguagem ou melodia que distrai ou que não respeitam a dignidade do momento litúrgico, são indicativos de que não são apropriados para o uso litúrgico.
Para bem celebrar...
A música e o canto litúrgico são elementos basilares na composição da ritualidade litúrgica, ajudando a elevar a oração comunitária e a unir a assembleia em um só corpo em louvor a Deus. Escolher corretamente os cantos litúrgicos requer discernimento e um bom entendimento da ação ritual a ser celebrada e do papel da música, para que verdadeiramente cumpra seu propósito de glorificar a Deus e edificar os fiéis.
Embora haja funções específicas para o desempenho do canto e da música litúrgica, como as dos cantores, instrumentistas e ministros, todo o povo é chamado a louvar a Deus, por meio do rito, com o canto e a música.
Referências
A Bíblia. São Paulo: Editora Paulinas (1ª ed.), 2023.
CNBB. A música litúrgica no Brasil. Coleção: Estudos da CNBB Nº79. São Paulo: Paulus (1ª ed.), 1999.
CNBB. Instrução Geral do Missal Romano e Introdução ao Lecionário. Brasília: Edições CNBB, 2011.
PAULO VI. Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia. São Paulo: Paulinas, 2002.
Karoline Menezes é mestre em Teologia pela Universidade Católica de Pernambuco. Integrante do Instituto Humanitas UNICAP e da Comissão Regional de Liturgia da CNBB NE2. E-mail: [email protected].