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É um caminho sem volta! Não há como pensar a vida atual totalmente desconectada da tecnologia e do mundo virtual. Exceto por algumas iniciativas individuais e coletivas que ainda resistem, a era digital está instalada e, especialmente para as novas gerações, é um fato consumado. E isso, por si só, não é negativo!

Se você está lendo este texto, é exatamente porque se encurtaram as distâncias e se facilitou o alcance e a amplitude da mensagem, nas suas mais diversas perspectivas e propósitos. É um caminho sem volta, e mais ainda, é um caminho para frente, de evolução, crescimento e aprimoramento.

Mas (sempre tem um “mas”), temo que nossa evolução, crescimento e aprimoramento emocional e espiritual ainda estão penando para alcançar e lidar com as nuances do mundo digital.

É preciso um equilíbrio, uma dosagem, um filtro adequado, para não se perder em meio ao caos da informação em excesso, da desinformação disfarçada de informação, e das armadilhas de linguagem e estratégias que se apresentam diante de nós o tempo todo, em todos os meios. 

Estou aqui tentando escrever este texto, enquanto meu celular avisa que chegou mensagem, a tela do computador me dá notificações constantes (visuais, pois já desliguei o som... rs), e já estou tentado a conferir qual o conteúdo na resposta daquela mensagem que estava aguardando.

Pronto, perdi o foco! Rezo o “Vinde Espírito Santo” e já retomo o foco, mas não é fácil! Observação: Resisti! Ainda não vi a mensagem! 

A espiritualidade exige de mim concentração

É justamente no contexto da espiritualidade, que gostaria de refletir um pouco, pois diante desta hiperconexão, a distração se faz constante, e a vivência adequada e eficaz da espiritualidade exige concentração, foco, atenção personalizada e interiorizada, enfim, um hiperfoco para combater a hiperconexão.

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Há diversas maneiras de viver e alimentar a fé no mundo digital: acompanhando a transmissão da Santa Missa, de um terço, de momentos devocionais, formativos, vigílias, filmes ou qualquer material, ou transmissão com a intenção de rezar, ou crescer na fé. Embora tenha seu valor e grande valor, é preciso achar o foco adequado para o momento vivido. 

A lente certa para a distância certa

No conceito da óptica, uma lente multifocal é aquela que tem a capacidade de, com 3 focos, ajudar na correção da visão em distâncias distintas: para perto, distância média ou longe.

Penso que este conceito possa ajudar nesta reflexão. Alguns momentos vão exigir uma correção da visão, alguns assuntos precisarão ser olhados com um foco mais atento e com as lentes adequadas.

Há situações em que as lentes nos são fornecidas pela própria Igreja, em seus documentos, vida dos santos, pronunciamentos dos papas, com o cuidado de não olharmos esses conteúdos com as lentes de apenas um ou outro formador ou influenciador religioso, o que tornaria nossa espiritualidade forjada por um ângulo de visão monofocal, que pode ser acertado ou equivocado.

Há vivências religiosas no mundo virtual que nos exigirão uma lente de distância média, talvez permeada por uma boa conversa com alguém experiente na fé, ou uma adequada direção espiritual.

Foto: Juliene Barros

E há, por fim, momentos de fé que só terão sentido e força se forem ampliados e fortalecidos com momentos de oração individual ou comunitária sem o intermédio de uma tela digital, ou de algum som que ajude a rezar.

Nestas ocasiões, é que se exige mais concentração e que nossa lente precisa estar focada na distância mais curta, porém mais difícil e necessária, da mente ao coração, do exterior para o interior, do eu, para Deus que me ama e quer dialogar comigo.

Os influenciadores digitais que evangelizam, e entenderam isso, já ajudam neste caminho para viver a fé de forma íntima e pessoal, virtual e presencial, individual e comunitária: dimensões essenciais para uma vivência coerente da fé! Foco, Pe.

Reginaldo! Foco, meu irmão e minha irmã! Olhemos para Aquele que nos olha com infinito amor! 

Observação: Ainda não vi a mensagem! Ufa!!!

 

Padre Reginaldo Carreira é sacerdote há 25 anos, pároco na Paróquia Nossa Senhora das Dores, em Casa Branca (SP). Também é escritor, compositor, cantor e apresentador de TV.