Foto: Karina Carvalho
“A vocação é um ato do amor de Deus, e por isso provoca um ato voluntário de amor para ser seguida, correspondida”. Com essas palavras, definia a vocação o bem-aventurado Tiago Alberione, apóstolo da comunicação social e fundador da Família Paulina. E definiu muito bem, porque na base de toda vocação está a iniciativa amorosa de Deus que chama, que convoca, que apela a uma resposta que pode ser generosa ou não...
O amor não é uma mera palavra, um banal sentimento, e muito menos aquilo que se dar e recebe de modo proporcional. Tudo isso, na lógica do mundo se encaixaria, mas na ótica de Deus, o amor que envolve o mistério da vocação e de toda existência humana, não.
Por isso, quem foi chamado pelo Senhor para exercer alguma missão neste mundo – na vida presbiteral, religiosa, secular, matrimonial - sabe que em primeiro lugar está um encontro com a vontade de Deus, olhando para aquele que é o modelo perfeito, o perfeito vocacionado do Pai, Jesus Cristo que disse: “Eis-me aqui, ó Deus, para fazer a tua vontade” (Hb 10,9).
Como afirmou o Papa Francisco em sua Mensagem para o Dia Mundial de Oração pelas Vocações de 2023: "a vocação é uma combinação entre a escolha divina e a liberdade humana”, uma relação dinâmica e estimulante que tem como interlocutores Deus e o coração humano. Assim, o dom da vocação é como uma semente divina que germina no terreno da nossa vida, abre-nos a Deus e abre-nos aos outros para partilhar com eles o tesouro encontrado. Esta é a estrutura fundamental daquilo que entendemos por vocação: Deus chama amando, e nós, agradecidos, respondemos amando".
E esse “amando” da resposta humana é paradoxal num mundo em que tudo tem que ser recompensa ou ganho, num mundo em que se propaga que receber é mais importante que dar, que aparecer é mais importante que fazer acontecer em silêncio. Esse “amando” da resposta à iniciativa amorosa de Deus passa por renúncias de gostos pessoais, preferências, planos, pessoas queridas, para por em primeiro lugar o bem que deve ser comunicado ao outro, e até mesmo, as necessidades de uma multidão de pessoas sedentas da Palavra de Deus.
Exemplo testificável desse movimento são os missionários e missionárias que deixam as suas terras, as pessoas queridas, seus projetos para irem a outras terras, outras regiões, outros países, e levarem uma boa notícia, transmitirem com a própria vida o amor com que foram amados.
Eis aí uma questão muito forte e indispensável em todo caminho vocacional: só quem sentiu o chamado como uma iniciativa amorosa, e respondeu com liberdade, sem medo e sem pesar, permanecerá nesse percurso. Só quem continua nutrindo-se todos os dias desse amor que chama, para servir melhor na realidade em que se encontra, não esmorecerá no caminho.
Foto: Karina Carvalho
Como foi dito no início, o amor que perpassa o quesito vocacional, a vida cristã, a relação com a vontade divina, é algo concreto. As Palavras do Papa Bento XVI permanecem atuais: “É preciso anunciar de novo, especialmente às novas gerações, a beleza persuasiva deste amor divino, que precede e acompanha: este amor é a mola secreta, a causa que não falha, mesmo nas circunstâncias mais difíceis” (Dia Mundial de Oração pelas Vocações, 2012).
Quem fez verdadeiro encontro com esse amor, sabe profundamente que nada pesa, nada falta, nada custa. Mas, sabe que, quanto mais ama sua vocação, tanto mais está em contato com aquele que o amou e chamou, maior é a alegria, maior é o sentido da vocação que brotou da iniciativa amorosa de Deus.
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