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De 18 a 22 de novembro, acontece em Piranhas (AL) e Canindé de São Francisco (SE) o reencontro dos 25 anos da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA).
Às margens do rio São Francisco, o evento tem como tema “Semiárido Vivo: por justiça socioambiental e democracia participativa”.
Abrangência do semiárido
O semiárido ocupa cerca 12% do território nacional (1,03 milhão de km²) e abrange 1.262 municípios brasileiros, considerando a delimitação atual divulgada em 2017 (Resolução 115, de 23 de novembro de 2017, da Sudene).
Aproximadamente, 27 milhões de brasileiros (12% da população brasileira) vivem na região, segundo informação divulgada pelo Ministério da Integração Nacional. Um dado interessante com relação à população do Semiárido é que se encontram nele cerca de 81% das comunidades quilombolas de todo o Brasil.
A maior parte do Semiárido situa-se no Nordeste do país e também se estende pelo Norte mineiro e o Vale do Jequitinhonha, ocupando cerca de 18% do território do estado. No Nordeste, dos seus nove estados, metade tem mais de 85% de sua área caracterizada como semiárida, sendo o Ceará o que possui a maioria de seu território com esse perfil.
Participantes do EnconASA
Neste mês, a ASA reúne num encontro 700 participantes. Desse total, 500 são delegados eleitos nos nove estados do Nordeste e em Minas Gerais, sendo 70% deles agricultores familiares. Todos participam na construção dessas ações com acadêmicos, técnicos, gestores públicos e outros parceiros.
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Em número de municípios, os estados com maior quantidade são Bahia (278), Paraíba (194), Piauí (185), Ceará (175), Rio Grande do Norte (147) e Pernambuco (123). O Maranhão passou a fazer parte do Semiárido Legal em 2017.
Sobre a organização e caminhada da ASA nestes 25 anos, conversamos com um membro da Comissão Especial de Ecologia Integral e Mineração da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Roberto Malvezzi.
Malvezzi, celebrando o jubileu de prata da ASA, fale-nos dela: como nasceu, por que nasceu, onde?
A ASA nasceu em 1999, no Recife, durante a COP da luta contra a desertificação. Mas já havia muitas experiências concretas da sociedade civil para superar aquele mundo da fome, da sede, das migrações, das frentes de emergência, dos saques, da mortalidade infantil no nordeste brasileiro, na região do semiárido.
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Um pedreiro baiano chamado Neo foi para São Paulo, onde aprendeu a fazer as placas de impermeabilização de piscinas.Voltando, foi morar em Sergipe e resolveu fazer uma tecnologia no pé da casa dele para armazenar água de chuva baseada nas placas das piscinas.
Criou uma grande invenção: as cisternas de placa. Começou o aperfeiçoamento destas placas e a replicação. Com a primeira eleição de Lula, em 2002, se levou a proposta de um milhão de cisternas. Era um sonho. Não uma realidade.
Agora, 25 anos depois, temos um milhão de cisternas para um milhão de famílias para armazenar água de beber. Depois surgiu outro projeto da China para cisternas de coleta da chuva para beber e produzir.
A sociedade civil, com cerca de 3 mil organizações, concretizou aquele sonho. A ASA conseguiu fazer em 25 anos o que o estado não conseguiu em 500 anos.
Com certeza, não foram poucas as dificuldades e as conquistas nestes 25 anos...
A grande dificuldade foi transformar esta iniciativa da sociedade civil, numa política pública, em programas que dessem escala para multiplicação das tecnologias. Foram criados dois programas: P1MC para um milhão de cisternas, no pé da casa, para que as famílias se beneficiem do armazenamento da água da chuva e possam ter esta água durante o ano, no período em que não chove.
O segundo programa é o P1+2, uma terra e duas águas, inspirado na reforma agrária chinesa, ecologia adaptada ao semiárido. A China deu um terreno para cada família, deu também, uma cisterna para cada família, e deu também uma cisterna ao pé da casa e a tecnologia para armazenamento de água de chuva para cultivo da roça e dessedentação de animais e canteiros em volta da casa.
No semiárido brasileiro temos agora uma agroecologia adaptada do modelo chinês.
Temos ainda o que se chama educação contextualizada, baseada na educação popular, de aprender ler a realidade, ou seja, voltada para entender como funciona o bioma caatinga, com seu clima, seu solo, a sua vegetação, os períodos em que chove, os que não chove, e, a partir deste contexto, construir uma cultura da prevenção. Isto leva ao hábito da fenagem, da silagem, armazenamento de ração para os animais.
Ainda, construindo uma cultura de prevenção, também para as próprias famílias. Por que os povos que vivem no gelo não morrem de frio, nem de fome? Por que os povos do deserto não morrem de sede e de fome? E por que havia tanta fome e tanta sede no semiárido brasileiro, nos períodos em que não chovia? Porque faltava a cultura da prevenção que é o que está sendo construído ao que chamamos de paradigma da convivência com o semiárido.
O que acontece no EnconASA?
Em vista deste paradigma de convivência no Semiárido, o X EnconASA favorece a troca de ideias e mistura de crenças e saberes, plenárias, painéis, visitas de intercâmbio, oficinas, feiras de inovações para a agricultura e apresentações culturais.
A programação visa também celebrar os avanços que os povos do Semiárido conquistaram em quase três décadas e se tornaram exemplo de resiliência climática para o Brasil e para o Mundo.
No CD Belo Sertão estão canções utilizadas didaticamente nos cursos de Educação Hídrica. É um diálogo com as músicas de Luis Gonzaga e composições de Roberto Malvezzzi, Targino Gondim e Nilton Freitas, já dentro do Paradigma da Convivência com o Semiárido!