Irmã Sebastiana Onofre de Lima. Foto: Arquivo Pessoal

Primogênita de uma família de 14 irmãos, era Sebastiana Onofre de Lima quem cozinhava e dava conta de todo o serviço da casa desde criança por conta da saúde de sua mãe, que sempre inspirava cuidados.

Dentro do seu coração, nutria o sonho de tornar-se freira. Só que mal conseguiu frequentar a escola. Até aprendeu a ler e a escrever, mas seu pai, com medo de que ela fosse para o convento, arranjou-lhe um marido aos 17 anos.

Sebastiana assumiu o matrimônio com muita fé, amor, responsabilidade e oração. Conseguiu converter o marido, um homem trabalhador, corajoso, mas de até então pouca fé. “Minha mãe dedicou nossa família a Deus e a Nossa Mãe Maria Santíssima, rezando o Santo Rosário todas as noites. A mãe e o pai trabalhavam na roça, tiveram 9 filhos, sendo que 3 faleceram. Além dos trabalhos em casa, a mãe ajudava os vizinhos e as crianças desamparadas”, lembra Maria Salete de Lima, filha de dona Sebastiana.

Dona Santa

Assim que Henrique, o primogênito, conseguiu concluir os estudos de primeiro grau, a família se mudou do Paraná para o estado do Pará. Foram literalmente desbravar as terras paraenses: moravam numa região de mata sem acesso a recursos na área da saúde e educação. Sebastiana atuava na Igreja como catequista e missionária e aperfeiçoou seus conhecimentos em tratamentos com ervas medicinais. “Ela atendia muitas pessoas e por isso ganhou o apelido de ‘dona Santa’. Meu pai a chamava de ‘doutora’”, lembra Maria Salete.

Sebastiana e a família que construiu ao lado do esposo. Foto: Arquivo Pessoal

A alegria de ver o filho Henrique se tornar padre aconteceu no ano de 1999. No mesmo mês, veio a notícia da doença já avançada do marido, que faleceu em seis meses. “Ele morreu cantando ‘está na hora, o Senhor me chamou, Senhor, aqui estou’. Meu irmão deu a extrema unção e, no dia seguinte, mesmo com muita dor, celebrou a missa de corpo presente”, conta Maria Salete.

A chance de vida religiosa

Depois de viúva, Sebastiana ainda trabalhou por cinco anos na Pastoral da Criança e seguiu ajudando as pessoas com seus remédios naturais, banhos, chás e dando assistência em hospitais e nas casas dos enfermos. Até que aconteceu o contato com as Irmãs da Copiosa Redenção, onde viveu o Postulantado, o Noviciado e consagrou-se a vida religiosa.

“Tenho paixão pela minha congregação, sou muito feliz e me sinto cada dia mais perto de Deus. Já são 20 anos da realização do sonho de ser freira, sonho que nutri ao longo da minha vida e que só foi possível após ficar viúva. Meu filho foi o meu orientador vocacional”, declara Ir. Sebastiana.

Irmã Sebastiana e o filho, dom Henrique. Foto: Paulo Takarada

Orgulho do filho bispo

A reação diante de uma freira que é mãe causa estranhamento em algumas pessoas. Mas não há nada de errado nisso, pois a Copiosa Redenção aceita vocações tardias, assim como viúvas que já criaram seus filhos, como a Ir. Sebastiana.

“Muitos não entendem, não têm consciência de que isso é fruto de um projeto de Deus na nossa vida. Tenho muito orgulho de ter um filho sacerdote, chorei de emoção quando soube que ele seria bispo”, destaca Ir. Sebastiana.

Irmã Sebastina com o filho bispo, dom Henrique Aparecido de Lima e a filha, Maria Salete de Lima. Foto: Paulo Takarada

O filho de Ir. Sebastiana é dom Henrique Aparecido de Lima, CSsR, bispo diocesano de Dourados (MS). Se a mãe se orgulha do filho religioso, este se derrete em agradecimento à mãe: “Uma das coisas que chamava a minha atenção quando criança era ver a minha mãe rezando diante de uma pequena imagem de Nossa Senhora Aparecida com uma velinha acesa. Eu perguntava o que ela estava fazendo e ela respondia que estava conversando com Deus! Eu a enchia de perguntas e ela precisava se virar para me explicar. Era muito divertido porque ela tinha muita paciência com a gente para falar sobre Deus e tirar as nossas dúvidas. Sua atitude perante a oração e suas explicações sobre Cristo despertaram em mim o chamado de Deus para a vida consagrada”, afirma dom Henrique.

Celebração em família

A família da freira – que é mãe do bispo – se reuniu numa celebração que comemorou 25 anos de ordenação presbiteral e 9 anos de episcopado de dom Henrique, além dos 80 anos de vida da Ir. Sebastiana.

“Celebramos os 80 anos dessa grande mulher, esposa, mãe e freira, uma testemunha de que quem confia em Deus jamais é desamparado. Sou grata por ela trabalhar arduamente na nossa criação, orientando para uma vida de oração, educação, honestidade e de fidelidade a Deus”, declara Maria Salete.

“É Deus quem faz o nosso caminho, é Ele quem prepara. Fui sempre muito abençoada, sabia que já sou tataravó? Se apeguem a Deus, confiem Nele!”, finaliza Ir. Sebastiana.