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O período da Quaresma nos proporciona um tempo de reflexão e meditação para que possamos nos aproximar do mistério de Deus. A oração, o jejum e a esmola são, sem dúvida, importantes, mas tudo isso deve ser feito para vivermos mais plenamente nossa vocação cristã, que é uma vocação de entrega a Deus para vivermos plenamente o seu amor.
A liturgia, as leituras bíblicas e a atmosfera geral desse período que antecede a Semana Santa nos oferecem uma oportunidade única de reconciliação com Deus, com a Criação, com o próximo e com nós mesmos.
Em um mundo de eficiência e desempenho, de exigências e obrigações, a Quaresma pode ser mal interpretada, pois podemos simplesmente cumprir as práticas, mas esvaziá-las de conteúdo. Muitos cristãos cumprem regras, obedecem a preceitos religiosos, mas não buscam de fato conhecer Cristo e viver uma vida plena com ele, para ele e por meio dele. Ainda sofremos de uma religiosidade da conformidade, resquícios de um cristianismo que gerou uma mentalidade de aparência, de intimidade espiritual, sem entender que o evangelho nos impele a sair de nós mesmos e ir até os mais necessitados.
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O que ainda nos falta é uma experiência verdadeiramente transformadora de Deus, que muitas vezes não acontece porque não a incentivamos. Como diz González: “A experiência mística é um dom que Deus concede a certas almas e que não pode ser construído ou reivindicado. A vida cristã não pode se basear nela como um ideal conquistável, embora o sujeito deva ser purificado e liberado, aberto e expectante de tal forma que Deus não encontre nele nenhum obstáculo para se comunicar com ele quando quiser e da maneira que quiser”.
O mais importante aqui é essa atitude de espera e abertura. Buscar a Deus por sua própria causa, buscá-lo porque ele é Deus e nós somos suas criaturas, obra de suas mãos... não o buscar por outros motivos, não para satisfazer, não para fingir, não para nos dar algo em troca, não apenas para pedir algo a ele, não apenas quando precisamos dele.
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Mas buscar a Deus por sua grandeza, por sua própria existência que envolve o universo e nos dá a oportunidade de conhecê-lo, de experimentá-lo em nossa pequenez, de tomá-lo como companheiro de jornada, como amigo, como irmão, como esposo.
Aproveitemos ao máximo a Quaresma e vivamos intensamente a Semana Santa, para treinar nosso corpo e nossa alma a experimentar Deus nas profundezas de nosso ser, e tomemos isso como um impulso para fazê-lo durante todo o ano.
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A vida cristã não é por um tempo. Não buscamos Deus por um tempo - ou não deveríamos - mas devemos desejar encontrá-lo em todos os momentos, em tudo o que fazemos.
Que possamos experimentar isto: “Sim, temos tudo dentro de nós: Deus, o céu, o inferno, a terra, a vida, a morte e toda a história. As aparências são meros adereços; tudo o que precisamos está dentro de nós”1.
1 Hillesum, Etty, Escritos esenciales, Santander: Sal Terrae, p. 195. Tradução pessoal do original em espanhol.