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Com ou sem desfile, fevereiro é sempre o mês do Carnaval, das festas, da folia. Infelizmente, é comum acontecer nessa época uma polarização entre aqueles que defendem o prazer total e aqueles que pregam mortificações ou uma vida sem prazer, como se o prazer em si fosse pecado, indigno da pessoa humana criada à imagem e semelhança de Deus.
Revendo as polêmicas
Qualquer um que já tenha entrado em uma polêmica sabe o que é sentir o sangue ferver e ter um desejo enorme de vencer o argumento do outro. De fato, a etimologia dessa palavra está unida a estratégias de combate, de guerra: do grego polemiké tékhné, a expressão indica exatamente a arte ou ciência do combate (Cf. Dicionário Houaiss).
É por isso que, em todo debate polêmico, não se consegue enxergar nem aceitar que haja algo de bom no outro lado da questão: há apenas um inimigo a ser destruído.
Nesse sentido, se posso dar a você um conselho é este: dobre sua atenção quando estiver envolvido em alguma polêmica. Geralmente ela nos cega, limita nosso entendimento e nos empurra a avaliações que podem ser desastrosas.
E, se desejar saber o que deve fazer, o meu segundo conselho é: procure ter bom senso, fazer uma avaliação justa dos dois pontos extremos.
Diante daqueles que exaltam o prazer total, questione o que isso significaria... Diante daqueles que o amaldiçoam, questione também. E não considere apenas um lado da questão.
A Igreja e o prazer: a necessidade da temperança
Apesar do que muitos costumam dizer por aí, a Igreja não é contrária aos prazeres da vida. O prazer nasce de nossa sensibilidade, da nossa condição corporal tão carente e necessitada do encontro. A presença do outro, o sabor dos alimentos, o clima de um ambiente e a alegria de uma música, por exemplo, são as situações mais básicas da nossa necessidade de prazer.
A palavra-chave do ensinamento da Igreja, em relação aos prazeres, é a moderação ou temperança, que permitem que a pessoa viva e experimente o prazer, sem, entretanto, ser por ele dominada. Nas palavras de São Paulo isso corresponde a saber o que convém e a não se tornar escravo dos prazeres:
“Tudo me é permitido”, mas nem tudo me convém.
“Tudo me é permitido”, mas não me deixarei escravizar por coisa alguma (cf. 1 Coríntios 6,12)
É este pensamento paulino que dá sentido à virtude cardeal da temperança. As virtudes cardeais são aquelas virtudes humanas que aperfeiçoamos, principalmente com nossos hábitos, nossos esforços.
São quatro as virtudes cardeais: a prudência, que nos faz ir em busca de nossos objetivos, empregando os melhores meios de alcançá-los; a fortaleza, que nos permite resistir às dificuldades exteriores ou às instabilidades interiores; a justiça, que nos faz atribuir a cada coisa seu valor correto, e, finalmente, a temperança.
É esta última virtude que nos permite temperar a experiência do prazer. Sal em excesso ou sal nenhum podem fazer a experiência do prazer ser um desastre.
Segundo o Catecismo da Igreja Católica, é a temperança que nos proporciona o domínio dos instintos e impulsos, fazendo com que sejamos conduzidos não por eles, mas pelo bom senso, pela nossa racionalidade. Além disso, e eis um elemento importante: a temperança mantém nossos desejos dentro do limite da honestidade (Cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 1809).
Temperar o prazer como caminho à vida adulta
Finalmente, o exercício das virtudes nos permite amadurecer. Uma criança pode ter como padrão de pensamento: tudo ou nada, agora ou nunca.
Já adulto sabe que, entre esses dois extremos, há uma infinidade de possibilidades, de exigências e responsabilidade. Nesse sentido, entendemos que tanto os defensores do prazer total quantos os que o condenam são mais infantis que virtuosos.
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Sem querer tornar sua leitura cansativa, vale a pena acrescentar mais essa explicação etimológica: a palavra latina virtus, da qual deriva o termo “virtude”, faz referência ao homem maduro ou à pessoa madura.
Humanamente falando, a pessoa madura sabe enxergar o mundo e ver que nem tudo é simplesmente isso ou aquilo. Há muitas outras coisas a considerar diante das diversas situações da vida. Saber lidar com os apelos ao prazer, por exemplo, pode ser um bom indicador de que amadurecemos.
A vocês, queridos jovens adultecendo, desejo um bom Carnaval.
Padre Cleiton Silva é doutor em Teologia Moral, pároco, pós-graduando em Marketing e Mídias Digitais, professor na Faculdade Paulo VI, em Mogi das Cruzes, e autor dos livros Confessar, Coração inquieto, Os laços entre nós e Enfrentar as inimizades, conservar a paz, pela Paulinas Editora. Gosta muito de futebol, de cozinhar e de participar das redes sociais para comunicar as riquezas da fé.
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