Papa Leão XIV. Foto: @Vatican Media
A escolha do nome do pontífice eleito obedece a critérios pastorais precisos. Enquanto Francisco nos remetia ao pobre de Assis, Leão XIV nos remete a Leão XIII. Leão XIII, por sua vez, foi o Papa que teve a coragem de publicar a Carta Encíclica Rerum Novarum, em 1891, que tinha como subtítulo "a condição dos operários".
Carta que se tornaria o primeiro documento da Doutrina Social da Igreja (DSI). Cabe lembrar que esse subtítulo havia sido estudado por um livro de F. Engels - "a condição dos operários nas fábricas da Inglaterra" - em 1884, praticamente meio século antes.
Isso coloca o novo pontífice na esteira dos papas que se preocuparam com a chamada questão social. Questão que emerge com força na segunda metade do século XIX, no auge da Revolução Industrial.
O sistema capitalista de produção, nas oficinas que se convertem em fábricas incipientes, revela toda sua perversidade em explorar os bens naturais, por um lado, e o trabalho da mão-de-obra humana, por outro. Disso decorre a precariedade de sua situação.
Da mesma forma que nasce nu, em sua exploração perversa, o capitalismo atual mostra toda sua nudez em submeter a natureza e a vida humana a condições extremamente precárias.
Nesse retorno à barbárie, concentra renda e riqueza no topo da pirâmide socioeconômica e, por outra parte, aumenta a exclusão social, a pobreza e a fome na base.
Em sua nudez, o sistema de produção e consumo, tanto ontem como hoje, tem como motor o lucro e a acumulação de capital, criando gigantescas desigualdades sociais e migrações compulsórias. Daí o desemprego e subemprego, o trabalho informal e/ou análogo à escravidão.
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Leão XIV experimentou essas contradições como missionário americano nas terras do Peru. Ali desempenhou seu ministério sacerdotal, chegando a ser bispo e cardeal de Chiclayo.
Depois foi chamado para trabalhar no próprio Vaticano. Como dizia alguém, "um Papa das Américas". Buscando inspiração em Leão XIII, pastor dos operários e da DSI, e dando seguimento a Francisco, pastor dos pobres e migrantes, é de se esperar que o novo sucessor de Pedro seja firme na defesa dos direitos humanos e na promoção da dignidade humana, linha mestra do ensino social da Igreja.
Não custa lembrar, ainda, que mesmo antes de ser eleito para conduzir a Igreja Católica, emitiu opinião contrária à política de deportação do governo Trump. O que retoma a postura profética de Francisco, cujo nome fez questão de trazer à tona no discurso que se seguiu à sua eleição e ao "habemus papam".
Pe. Alfredo J. Gonçalves,cs, é sacerdote da Congregação dos Missionários de São Carlos (scalabrinianos), cujo carisma é atuar com migrantes e refugiados. Durante 5 anos, foi assessor do Setor Pastoral Social da CNBB, depois Superior Provincial e Vigário Geral na Congregação supracitada. Hoje, exerce a função de vice-presidente do Serviço Pastoral dos Migrantes (SPM). Recentemente lançou o livro Retratos da Metrópole, organizado pela Missão Paz.