Estamos assistindo a uma transformação na maneira como os alunos aprendem e como os professores ensinam. A aplicação da Inteligência Artificial (IA) no setor educacional dá margem para a personalização do aprendizado e abre possibilidades para um ensino híbrido, além de integrar diferentes tecnologias digitais.
Este é o assunto da conversa que tivemos com o mestre em Educação Matemática, especialista em Formação Docente para o Ensino Superior e diretor da Faculdade SESI-SPde Educação, Luis Paulo Martins. Falamos sobre a integração de tecnologias educacionais, como fica o papel do professor e o futuro da educação no país. Confira a entrevista a seguir:
Luis Paulo Martins, diretor da Faculdade SESI-SP de Educação. Foto: Divulgação
- Quais são as principais mudanças na educação geradas pelo crescente uso de ferramentas digitais?
É inegável que a interação entre as pessoas, o saber e o meio ambiente, mediados pela tecnologia, tem passado por transformações. É essa relação que possibilita o aprendizado, pois é por meio dela que os saberes são compartilhados, transmitidos e transformados em conhecimento para cada indivíduo. Assim, a presença das ferramentas digitais altera a forma como a humanidade assimilava o aprendizado no passado e como o faz atualmente.
Os saberes construídos estão disponíveis e acessíveis, e a forma como nos apropriamos deles está em sintonia com os dias atuais. Se as tecnologias congregam esses conteúdos, a forma de apropriação está alinhada a esse lugar tecnológico.
- Quando relacionamos educação com ferramentas digitais, pensamos em: ensino híbrido, integração de tecnologias digitais, realidade aumentada e virtual, gamificação... Podemos afirmar que se tratam de competências e conhecimentos essenciais para o profissional do futuro?
Aqui, duas questões são importantes. A primeira refere-se às próprias ferramentas: sua existência, funcionamento e operação. A segunda trata da forma como nos apropriamos do conhecimento que essas tecnologias podem proporcionar. Em ambos os casos, são competências que devem ser desenvolvidas tanto por quem aprende quanto por quem ensina.
Dominar o uso das ferramentas, estar preparado para lidar com novas tecnologias à medida que surgem e compreender suas potencialidades são habilidades no campo prático. Quando desenvolvidas, essas competências permitem ao profissional operar as tecnologias de forma eficiente, adaptá-las aos seus contextos e manter-se atualizado.
As outras habilidades estão associadas à maneira como nos apropriamos das aprendizagens que a tecnologia possibilita. O profissional deve desenvolver pensamento crítico, capacidade de investigação tecnológica, científica e acadêmica, além de habilidades de verificação de informação, pois, dependendo da tecnologia utilizada, os dados podem ser equivocados e incompletos, exigindo um olhar atento e criterioso para garantir a qualidade e a confiabilidade.
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- A aplicação da IA no setor educacional tem o potencial de transformar a forma como os alunos aprendem e como os professores ensinam. Quais são suas vantagens e “perigos”?
A inteligência artificial é um grande avanço. No meu entendimento, ela tem a capacidade de ‘encurtar’ o tempo e o espaço. O acesso é otimizado e os saberes mais acessíveis. Essa potencialidade favorece o conhecimento de mundo e amplia oportunidades. Entretanto, é preciso considerar que essa mesma capacidade também é carregada de um certo teor provisório em alguns casos, sobretudo nas IAs que oferecem informações customizadas. Esses casos carecem de críticas e contra argumentações.
É evidente que isso exige dos professores e, consequentemente, dos alunos, a habilidade de equilibrar o fácil acesso e a praticidade na obtenção do conhecimento com o teor provisional que algumas informações geradas pela IA podem apresentar.
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- Como fica o papel do professor?
O professor assume, cada vez mais, o papel de problematizar a realidade imposta pelas tecnologias digitais. Por meio da mediação no uso dessas ferramentas, aceitando-as em vez de negá-las, ele se posiciona como o profissional que propõe um debate crítico e consciente sobre as questões do mundo.
A informação, que há algumas décadas era mediada apenas pelos professores, depois expandiu-se para livros didáticos e materiais impressos, passando a circular de forma híbrida por mídias físicas e digitais (com ainda maior peso para as mídias físicas). Agora, está amplamente disseminada nas plataformas digitais, tornando-se extremamente acessível.
Ao longo desses períodos, a principal responsabilidade do professor tem sido a de questionar a realidade, analisando diferentes perspectivas por meio da mediação dos recursos disponíveis. Esse é o seu grande papel na educação contemporânea.
- É possível integrar essas tecnologias de maneira eficaz e segura?
Certamente. Não mais do que possível, é preciso. Isso acontece por meio da educação voltada para a cidadania digital, cada vez mais presente na sociedade. O desenvolvimento das habilidades mencionadas anteriormente são formas de fazer essa integração: habilidades de uso, de adaptação e apropriação da tecnologia, além da capacidade crítica, do debate e da consciência sobre o que é apresentado pelos meios digitais.
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- Qual é o futuro da educação?
O alicerce para o futuro da educação é a humanização. Não há outra forma de desenvolver mentes pensantes, pessoas capazes de transformar a realidade e de construir um mundo melhor sem considerar as relações humanas, independentemente da mediação tecnológica. É fato que as ferramentas digitais estão e estarão cada vez mais presentes e nós, dependentes delas. Nesse contexto, é essencial que a escola se aproprie dessas inovações e utilize os recursos disponíveis para aprimorar o ensino e a aprendizagem. No entanto, esse avanço só será eficaz se for sustentado por conexões humanas que favoreçam o desenvolvimento educacional.
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