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Silêncio. Palavra. Evangelização. Elementos essenciais evidenciados na mensagem do papa Bento XVI para o 46º Dia Mundial das Comunicações de 2012, a ser celebrado no domingo da Ascensão (20.05): Silêncio e palavra: caminho de evangelização.
O tema pode suscitar algumas reações, por exemplo, de estranheza ou de pensamento paradoxal do Magistério da Igreja, em relação às mensagens precedentes no que diz respeito à comunicação, especialmente a cultura digital. Se isto ocorreu, é sempre importante lembrar o objetivo do Dia Mundial das Comunicações: refletir, analisar, rezar o complexo mundo das comunicações e, portanto, descobrir caminhos de evangelização na cultura vivida na sociedade contemporânea.
Pelo contrário, se analisadas em profundidade as três últimas mensagens de Bento XVI, verificar-se-á grande sintonia, um link apropriado para uma reflexão progressiva do cristão dentro do mundo digital.
Constatamos que na mensagem de 2009, “Novas tecnologias, novas relações: promover uma cultura de respeito, de diálogo, de amizade”; na de 2010, “O sacerdote e a pastoral no mundo digital: os novos mídia ao serviço da Palavra”; e na do ano passado (2011), “Verdade, anúncio e autenticidade da vida na era digital”, o Papa demonstra não somente que a Igreja, em termos de conceitos, está atualizada a respeito das mudanças que ocorrem na área da comunicação, mas também, consequentemente, que o ser humano se move em meio a novos paradigmas, novas realidades e relacionalidades inéditas na cultura digital.
Insiste o Papa que devemos conhecer, realizar o diálogo entre fé e cultura, e, por isso, um olhar atento do cristão para “estar dentro” daquilo que são ocasiões inéditas de diálogo e que vão exigindo novas expressões da fé, novos métodos para a evangelização e a catequese. Daí a decorrência do que nos lembrava o Papa (2011), de que não se trata de um fato reduzido somente a “novidades” das tecnologias, mas “está nascendo uma nova maneira de aprender e pensar”.
Uma conexão fundamental com a mensagem precedente é quando o Papa afirma que a “tecnologia, por si só, não pode estabelecer a credibilidade do comunicador, nem servir como uma fonte de valores que guia a comunicação” (2011). Daí o seu discurso sobre a posição do cristão nos mídia, a sua postura e necessidade de “aplainar a estrada para novos encontros, oferecendo, às pessoas que vivem nesta nossa era ‘digital’, os sinais necessários para reconhecerem o Senhor, dando-lhes a oportunidade de se educarem para a expectativa e a esperança, abeirando-se da Palavra de Deus que salva e favorece o desenvolvimento humano integral” (2011).
Encontramos, então, o pensamento lógico de Bento XVI para o tema deste ano, 2012. Ele incentivava, na mensagem anterior, a descobrir a maneira cristã de “estar” no mundo digital. E na presente mensagem, o Papa inicia dando os elementos essenciais, já que, como se disse acima, a tecnologia, por si só, não pode estabelecer a credibilidade do comunicador. Por isso, “Silêncio e Palavra: caminho de evangelização”.
É inegável o que assistimos na sociedade, hoje, e muito intensamente na Igreja também: uma sociedade, uma vivência pautada e inculcada cada vez mais pelo pragmatismo. É preciso fazer, agir, mover-se, também na evangelização. Mas diante de tanta complexidade, fazemos uma pausa… pensamos na natureza do ser humano, refletimos o que é essencial e o que são os contornos que se modificam.
E por que se transformam? Em função de quem, de que sistema? Onde está o Reino de Deus? Então, nasce, neste mundo da comunicação, o “dever” cristão do silêncio, do refletir “sobre um aspecto do processo humano da comunicação”, descreve o Papa, “que, apesar de ser muito importante, às vezes fica esquecido… Trata-se da relação entre silêncio e palavra: dois momentos da comunicação que se devem equilibrar, alternar e integrar entre si para se obter um diálogo autêntico e uma união profunda entre as pessoas”.
O silêncio ao qual o Papa se refere não é algo vazio, mas, como ele mesmo diz, “é parte integrante da comunicação”. Podemos dizer que a comunicação é um ato interno e um ato externo, como elementos integrados.
Em outras palavras, o Papa está enfocando o sentido antropológico da comunicação, quando se considera, se envolve na comunicação a pessoa humana, dado que o senso comum nos leva a pensar que a comunicação é sempre um ato externo.
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Pois bem, são sábias as palavras descritas na mensagem: “No silêncio, escutamo-nos e conhecemo-nos melhor, nasce e aprofunda-se o pensamento, compreendemos com maior clareza o que queremos dizer ou aquilo que ouvimos do outro, discernimos como exprimir-nos. Calando, permite-se à outra pessoa que fale e exprima a si mesma, e permite-nos não ficarmos presos, por falta da adequada confrontação, às nossas palavras e ideias. Desse modo abre-se um espaço de escuta recíproca e torna-se possível uma relação humana mais plena”.
Do silêncio, nasce uma comunicação muito mais exigente, pois ao contemplar o cenário do mundo digital, onde a comunicação se move hoje, a atitude de silêncio percebe os valores e “desvalores”, sabe discernir, fazer escolhas, optar pelo que é mais importante, daquilo que é inútil ou acessório.
E como grande parte do fluxo da comunicação se desenvolve através dos motores de pesquisa, e as redes sociais são ponto de partida da comunicação para muitas pessoas que procuram informações, conselhos, respostas, o Papa afirma ser o silêncio muito precioso “para favorecer o necessário discernimento entre os inúmeros estímulos e as muitas respostas que recebemos, justamente para identificar e focalizar as perguntas verdadeiramente importantes”.
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Assim, as respostas (a palavra, o ato externo da comunicação!) não serão apressadas, mas fruto de um diálogo amoroso e contemplativo do que, verdadeiramente, Deus quer falar por meio de nós.
Se Deus fala ao homem mesmo no silêncio, também o homem descobre no silêncio a possibilidade de falar com Deus e de Deus. “Temos necessidade daquele silêncio que se torna contemplação, que nos faz entrar no silêncio de Deus e assim chegar ao ponto onde nasce a Palavra, a Palavra redentora” (Homilia durante a Concelebração Eucarística com os Membros da Comissão Teológica Internacional, 6 de outubro de 2006).
Trata-se de uma necessidade imperiosa na e para a evangelização: um caminho que nasce da contemplação (espiritualidade do evangelizador), que se torna força interior na missão e, portanto, a urgência de ir “anunciar o que vimos e ouvimos” (cf. 1Jo 1,3). Conclui Bento XVI que é necessário educar-se em comunicação, isto é, aprender a escutar, a contemplar, para além do falar. Atitude indispensável para os agentes de evangelização.
Trata-se de “dois elementos essenciais e integrantes da ação comunicativa da Igreja para um renovado anúncio de Jesus Cristo”: silêncio e palavra.
Se sentirmos a necessidade de renovação, de vigor apostólico e sabedoria dentro do complexo mundo das comunicações, na sociedade contemporânea, voltemos aos elementos essenciais do processo de comunicação como ato interno, lembrando as palavras de Paulo apóstolo: “até que Cristo se forme em mim”; e um ato externo: “tudo faço pelo Evangelho” (cf. Gl 4,19 e 1Cor 9,23).