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Seria muita pretensão em poucas linhas falar de “história da devoção mariana”, mas queremos elencar os personagens e os eventos que são os sinalizadores mais claros dessa expressão piedosa. O mais interessante é observar o modo como essas expressões de piedade, reunidas na palavra “consagração”, nos remetem à vivência batismal sob os cuidados da intercessão de Maria.
Além do mais, a ideia que põe em movimento toda essa questão da consagração mariana é que Maria é a consagrada pelo Senhor no mais elevado estado de graça e resposta à iniciativa divina, o que se expressa de modo muito evidente na evolução dos dogmas da maternidade e da virgindade perpétua de Maria.
Dessa forma, uma das vozes mais antigas que trazem a questão da consagração mariana está em solo patrístico, remonta a Santo Idelfonso de Toledo († 667). Para ele, Maria é a mais fiel seguidora do Senhor, longo, pode-se chegar mais fielmente a Deus nos entregando nas mãos de Maria. Em sua obra De virginitate sanctae Marie fala de uma consagração como uma atitude permanente de vida, que para servir o Filho, procura também viver o serviço como Maria viveu1.
Um século depois lembramos São João Damasceno († 749), que na sua homilia sobre a Dormição de Maria, não se esquiva de usar de expressões como “Nós nos consagramos a ti” , entendida como uma entrega da pessoa à Virgem Mãe de Deus2.
Na Idade Média toda essa questão alcança um status elevado e muito popular. Contudo, queremos apenas lembrar as significativas Ordens religiosas que nascem nesse espírito de serviço a Deus em consagração / união de vida a Maria, como por exemplo, a Ordem dos Servos de Maria.
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A figura mais perto de nossos dias e que deu grande destaque à questão da consagração mariana é São Luís Maria Grignion de Montfort († 1716). É seu o grande mérito de que, herdeiro da devoção mariana medieval, que trazia seus excessos, propaga uma consagração a Jesus, pelas mãos de Maria, como um eficaz meio de viver a graça do batismo.
Com as aparições da Virgem Maria, em Fátima (1917 - Portugal), um novo e forte apelo à consagração mariana envolve todo o mundo católico. Lembremos que
Fátima (1917) dá-se em plena guerra, a I Guerra Mundial, em seu ano mais difícil, e às vésperas da Revolução Russa, que iria determinar em seguida os destinos do mundo. O catolicismo em Portugal passava pelas duras provas que lhe infligia um regime anticlerical, e a sociedade portuguesa amargava uma grave crise social e política – situação que levaria ao golpe de Sidônio Pais no fim do mesmo ano das aparições3.
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De modo muito singular, vale lembrar a figura do Papa João Paulo II, cuja vida e devoção mariana se entrelaçam com os eventos de Fátima de modo único, realizando o pedido da Mãe do Senhor, consagrando a Rússia ao Imaculado Coração de Maria, no ano de 1984, em comunhão com todos os bispos católicos do mundo.
Frei Jonas Nogueira da Costa, OFM. Doutor em Teologia Sistemática (pesquisa em Mariologia) pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia – FAJE. Membro da Equipe Teológica da Academia Marial de Aparecida; vice-presidente da Associação Brasileira de Mariologia. Contato: [email protected]
1Homilia de São João Damasceno, PG 96,720.
2SOUZA, Antonio Elcio de. Considerações sobre a consagração a Nossa Senhora. In: GUIMARÃES, Valdivino (org.). Maria na liturgia e na piedade popular. São Paulo: Paulus, 2017, p. 207.
3BOFF, Clodovis M. Mariologia social. O significado da Virgem para a sociedade. São Paulo: Paulus, 2006, p. 596.