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Deficientes visuais têm motivos para comemorar?

Desinformação prejudica a inclusão social das pessoas com deficiência visual

Foto: Freepik

Começo este texto propondo um exercício: convido você a fechar os olhos e perceber o que está à sua volta. O que você ouve? Que objetos consegue tatear? Será que você consegue dar alguns passos pela casa sem esbarrar nos móveis? Se sentir sede, consegue encher um copo com água?

Embora muito já se tenha feito, a sociedade brasileira ainda não está preparada para atender os deficientes visuais no seu dia a dia. Ao fazer o exercício proposto, temos uma pequena noção dos inúmeros desafios enfrentados por eles. Imagine andar pelas ruas, usar o transporte público, navegar pela internet, estudar e trabalhar.

Desinformação

Segundo Regina Oliveira, coordenadora de revisão da Fundação Dorina Nowill para Cegos e membro do Conselho Mundial e do Conselho Ibero-americano do Braille, a desinformação cria barreiras atitudinais e interfere na inclusão das pessoas com deficiência visual em instituições de ensino, ambientes de trabalho, áreas de lazer e convívio social.

“Na Fundação Dorina Nowill para Cegos, oferecemos uma série de serviços gratuitos para que cegos e pessoas com baixa visão conquistem sua independência e autonomia. Mas a sociedade, as instituições, os estabelecimentos e as cidades precisam ser mais inclusivas. Para isso, basta olhar com mais empatia para as pessoas com deficiência visual e compreender que pequenos gestos e adaptações nos ambientes podem viabilizar a inclusão delas na nossa sociedade”, comenta.

Dia Mundial do Braille

Pensando justamente na inclusão e na promoção dos direitos humanos e liberdades fundamentais no contexto do acesso à linguagem escrita, a Organização das Nações Unidas (ONU) proclamou o dia 4 de janeiro como o Dia Mundial do Braille. Uma data que destaca a importância do sistema inventado por Louis Braille na primeira metade do século XIX, uma representação tátil de símbolos alfabéticos e numéricos que representam letras, números e até símbolos musicais, matemáticos e científicos.

Toda criança que nasce cega ou perde a visão na primeira infância precisa do braille para se alfabetizar. Nesse caso, não existe outra maneira de ensinar ortografia, pontuação, matemática, física ou fonética, que não seja por meio da escrita e da leitura do braille. 

Assim como existem metodologias de ensino para a alfabetização das pessoas que enxergam, também existem os métodos para o braille. A diferença é que as letras, números e sinais são representados com combinações de pontos que fazem parte do sistema. Ao passar os dedos, a pessoa com deficiência visual compreende o significado de cada ponto em alto-relevo sobre o papel.

“A criança cega precisa receber estímulos táteis para lidar com esse tipo de leitura. A aprendizagem do Sistema Braille promove a independência delas, abrindo as portas para a comunicação e a escrita, para a educação e o trabalho, vida social e cultural”, explica a diretora pedagógica do Colégio Vicentino Padre Chico, de São Paulo (SP), Ana Maria Pires Alvarez.

Foto: Freepik

Livros em braille

A perda de visão aumenta as desigualdades, por isso o acesso a esta linguagem escrita é pré-requisito essencial para a plena realização dos direitos humanos para cegos e deficientes visuais. O acesso aos livros em braille é essencial para a promoção do conhecimento e o desenvolvimento desta população.

“A produção, a distribuição e o acesso a livros em braille possibilitam que as pessoas com deficiência visual possam praticar e se entregar à leitura. O único contato natural que elas têm com a escrita é por meio do braille. As novas tecnologias são importantes e têm ajudado muito os cegos e as pessoas com baixa visão. Mas, por meio delas, essas pessoas apenas escutam. O ato da leitura e da escrita, de fato, só é possível via braille”, acrescenta Regina Oliveira.

Formatos acessíveis

Falando em livro... Quem já experimentou o poder transformador de um bom livro? Quanto conhecimento adquirimos lendo histórias, biografias, contos e poesias! Pensando nestas características do livro, além de no seu poder de integração e socialização, a Paulinas Editora publica livros em braille desde 2005. 

Já são cerca de 15 obras dedicadas ao público infantil e infantojuvenil. “Através da leitura em braille, as pessoas com deficiência têm a possibilidade de uma maior integração e inserção na cultura, além de desenvolver o seu potencial humano e social”, destaca Flávia Reginatto, fsp, da Paulinas Editora.

A atuação da Fundação Dorina Nowill para Cegos na distribuição de livros é referência em todo o País. A instituição é responsável por um dos maiores parques gráficos de braille no mundo. “Produzimos e distribuímos materiais nos formatos acessíveis (braille, áudio, impressão em fonte ampliada e digital acessível), incluindo o envio gratuito de livros para milhares de escolas, bibliotecas e organizações de todo o Brasil”, acrescenta Regina Oliveira.

Foto: Freepik

Inclusão social

Locais com pisos táteis, semáforos sonoros, embalagens em braille, sites e aplicativos acessíveis para leitores de tela, audiodescrição e sinalização em braille são algumas das necessidades dos deficientes visuais, difíceis de encontrar pelas cidades brasileiras. 

Entretanto, ao combater a desinformação, ajudamos a construir uma sociedade mais inclusiva e igualitária. A Lei Brasileira da Inclusão (13.146/2015), conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência, estabelece as condições mínimas de acessibilidade para garantir os direitos e promover a inclusão social das pessoas com deficiência. Que, a cada ano, os deficientes visuais tenham mais motivos para comemorar o Dia Mundial do Braille.


Livros de Paulinas em braile

Serviço

Instituto de Cegos Padre Chico 
Fundação Dorina Nowill para Cegos 

 

Juliana Borga é jornalista, três vezes vencedora do Prêmio Dom Hélder Câmara de Imprensa. É mãe coruja da Helena e adora escrever sobre temas que colaboram para um mundo mais humano e solidário.


 

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