Em espanhol, existe a expressão “desplazados ambientales”, cuja tradução mais próxima de sua poderosa expressividade talvez seja “desterrados ambientais”. Não é apenas uma questão de desalojados, ou deslocados, ou relocados, porque carrega a carga da expulsão forçada e do não-retorno.
Ao redor de todo o mundo, os desterrados ambientais sabem que não podem mais voltar, ou se voltarem, sabem que poderão morrer, ou serem expulsos mais uma vez pelas forças da natureza.
Assim, estão nações inteiras, sobretudo ilhéus, que veem os territórios onde residem serem ocupados pela água, ou por secas, ou por ondas de calor insuportáveis para a pessoa humana.
Foto: Pexels/Pixabay
Infelizmente, as lideranças mundiais já decidiram que não irão tentar reverter as causas das mudanças climáticas. As petroleiras já decidiram que vão continuar aumentando o consumo de petróleo até 2050, isto é, até ele se tornar inviável economicamente. Essa é a transição energética que existe de fato. Em relação às mudanças climáticas, de nada valem outras fontes de energia se o consumo de petróleo continuar aumentado.
No Brasil, o agronegócio continua desmatando como se não guardasse nenhuma relação entre as mudanças climáticas e a devastação dos biomas brasileiros.
Nem mesmo uma tragédia socioambiental como essa que se abateu sobre o Rio Grande do Sul parece demover os que mandam no mundo – e no Brasil – dos rumos adotados por essa civilização predadora.
Nos meios ambientalistas, muito se fala em “adaptação e mitigação” dos efeitos extremos, mas também pouco se fala em ir às causas dessas mudanças. É como se elas fossem controláveis e amenizáveis por alguns cuidados compensatórios.
O Rio Grande do Sul demonstra que não temos poder algum sobre as forças da natureza, até porque não sabemos até onde elas poderão chegar.
Apostar em simples mitigação e adaptação, sem levar em conta as causas, é como uma guerra de espada na escuridão. Como dizem os cientistas ultimamente, “mergulhamos no desconhecido”.
Foto: Pexels
Como diz o Papa Francisco na Laudate Deum, já estamos mergulhados nas mudanças climáticas. Muitos desses fenômenos já são irreversíveis. Se, de fato, conseguíssemos equilibrar a emissão de CO2 e outros gases de efeito estufa na atmosfera, então teríamos alguma esperança mais factível. Afinal, é ciência, não religião.
Do contrário, só resta esperar pelo imponderável, no sentido de que a Terra seja mais generosa para conosco do que somos para com ela. Ou então, apelar para uma intervenção divina.
Oremos!
Roberto Malvezzi, graduado em Filosofia, Teologia e Estudos Sociais. Membro da Comissão Especial de Ecologia Integral e Mineração – CNBB. Membro da Equipe de Assessoria da REPAM-BRASIL – CNBB. Escritor e Compositor. Concorreu com Targino Gondim e Nilton Freitas ao Grammy Latino na categoria Raízes da Língua Portuguesa, em 2022, com o CD “Belo Chico”, disponível no Spotify e outras plataformas digitais.