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Dicionário mariológico - Círio de Nazaré: uma luz que ilumina o Brasil

Nossa Senhora de Nazaré. Foto: Cristiane Melo

A devoção mariana do Círio de Nazaré, em Belém (PA), é uma das maiores manifestações de afeto a Maria do mundo. Nas últimas décadas tem congregado mais de dois milhões de fiéis, reunidos no segundo domingo de outubro, tendo na procissão um momento que particulariza essa expressão de devoção mariana de modo muito marcante (vale dizer que, muito provavelmente, é a maior procissão católica do mundo)1

Uma corda que nos enlaça no amor 

Um símbolo muito marcante nessa procissão é a corda, que representa a confiança do povo paraense na Virgem. Ela possui aproximadamente 400 metros e é feita de sisal torcido.

O ato de “segurar na corda” é uma atitude física, emocional e espiritual que vincula o fiel naquele momento sagrado, trazendo um novo sentido para a vida à luz da devoção mariana. 

Para muitas pessoas pode parecer algo desnecessário, fruto de um catolicismo mágico e supersticioso. Contudo, convida-se a enxergar de modo totalmente diferente. Para o Papa Francisco, uma devoção não tem nada de abstrato. Ela é uma forma de congregar e interpretar as pequenas coisas do dia a dia e iluminar a vocação de cada pessoa2

Nessa perspectiva, as pessoas que fazem a experiência de fé ao “segurar a corda” trazem toda a sua vida para aquele momento, ordenam seus sentimentos, alegrias e angústias nos passos da procissão e saem “revigoradas” desse contato com o sagrado pela mediação da devoção. É uma forma de “acertar os passos da vida com os passos da Virgem Maria”, saindo, muitas vezes, do caos do sofrimento humano para a ordem da graça.

Não é algo alienante, mas a sincera busca de viver uma experiência de graça em que a bondade de Deus ali manifesta se estende para outras áreas da vida. Assim, estamos falando de um evento original (ponto de partida) que se torna originante de uma experiência concreta (nesse caso, uma profissão) e que origina algo novo (um novo sentido para a vida ou encorajamento diante dos desafios).

Uma imagem que ilumina 

Como ponto de partida, temos a lenda de que São José teria esculpido, em Nazaré, uma imagem em madeira de sua esposa, Maria Santíssima. Essa imagem teria sido venerada até por volta do século IV, quando se perdeu. Num salto no tempo, vamos ao século XII, quando, numa manhã de 1182, o dignitário português Fuas Roupinho de Acaide, do Castelo do Porto de Mós, estava perseguindo uma corça, quando ela, do precipício, se lançou no mar.

O local estava coberto de névoa e o cavalo ia disparado rumo ao abismo. O nobre português lembrou-se de uma capela da Virgem Maria que tinha encontrado no caminho e invocou o socorro da Mãe do Senhor, o que fez o cavalo imediatamente parar, evitando sua morte3

Em gratidão, retorna à capela da Virgem Maria da qual havia se lembrado na hora do desespero e descobre, por meio de um pergaminho, que a imagem de Maria era a venerável imagem esculpida por São José. A ele, ergue um santuário para perpetuar o seu culto, sob o título de Nossa Senhora de Nazaré. 

Uma luz que se acende em terras paraenses 

A devoção a Nossa Senhora de Nazaré foi trazida ao Brasil no século XVII. 

Em terras paraenses, conta-se que, em 1700, o caboclo Plácido José de Souza achou uma imagem de Nossa Senhora de Nazaré num córrego. A imagem era esculpida em madeira e tinha 28 cm de altura. Sempre que se tentava retirar a imagem de junto do córrego, a imagem, misteriosa e milagrosamente, voltava para seu lugar no riacho.

Foto: Cristiane Melo

Esse sinal foi interpretado como o desejo da Virgem Maria de que sua imagem devesse permanecer naquele lugar, onde se ergueu uma capela, e hoje está a Basílica de Nossa Senhora de Nazaré. 

Ó vem conosco, vem caminhar / Santa Maria, vem!

A palavra “Círio” era utilizada em Portugal, desde o século XIV, para designar “procissão”. A palavra vem do latim “cereus”, que significa uma vela grande, usada nas procissões que eram realizadas ao entardecer. Assim, quando falamos do Círio de Nazaré, estamos falando da procissão de Nossa Senhora de Nazaré4

Assim, a espiritualidade dessa devoção tão marcante do povo do Norte do Brasil é um convite a vermos Maria como uma luz que caminha conosco. Uma luz que irradiava a graça de Deus em Nazaré, iluminando Portugal e todo o nosso Brasil.

Uma luz que não abandona a margem do riacho, que ilumina as “realidades marginalizadas” da vida e convida-nos a caminhar com ela em direção da escuridão da morte à luz da vida. 

1BOFF, Clodovis Maria. Mariologia social. São Paulo: Paulus, 2006, p. 579.
2FRANCISCO. Carta Apostólica Totum amoris est no IV centenário da morte de São Francisco de Sales. Brasília: Edições CNBB, 2022, p. 20.
3CAMPOS, José Freitas. Valei-me, Nossa Senhora! Invocações marianas no Brasil: história e espiritualidade. São Paulo: Paulus, 2023, p. 305.  
4ZANON, Darlei. Nossa Senhora de todos os nomes. Orações e história de 365 títulos marianos. 2. Ed. São Paulo: Paulus, 2019, p. 373.

 

Frei Jonas Nogueira da Costa, OFM. Doutor em Teologia Sistemática (pesquisa em Mariologia) pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia – FAJE. Vice-presidente da Associação Brasileira de Mariologia e membro da Equipe de Assessoria Teológica da Academia Marial de Aparecida. Contato: [email protected]r  

 

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