Benedito Salvador Ataguile, misisonário brasileiro em Moçambique. Foto: Arquivo Pessoal
Estou em missão aqui em Moçambique, mais especificamente na região de Moma, já faz um ano. Meu trabalho é voltado à Educação, no projeto Murima wa Mwana que em Macua, significa Coração de Criança.
Também produzimos mudas de espécies nativas, frutíferas e hortaliças, distribuímos essas mudas para os alunos e a comunidade de entorno do projeto. Construímos uma horta no espaço do Murima além de outras 8 hortas, aqui, na cidade.
A Missão muda muito a nossa concepção de ver a vida e os valores que temos. Aqui, a vida é muito simples, mas nem por isso é mais triste. A solidariedade das pessoas e a educação que a população tem é algo cativante.
A missão, na verdade, tinha começado em minha vida bem antes de estar aqui. Durante todo o processo de encaminhamento, até a chegada, passamos por várias etapas. Tudo isso fez com que estivéssemos mais preparados para viver a missão ad gentes.
Nos primeiros dias, a adaptação do corpo com o clima, fuso horário e o espaço físico compartilhado fazem bastante diferença, mas nada que comprometa a missão.
As visitas às comunidades com missa, nossa apresentação à comunidade e a fala em Macua são o grande diferencial, porque nesse processo há um contato direto com a comunidade.
Esse contato mexe muito com nosso sentimento. As celebrações são lindas, muito cantadas e cheias de simbologia. Ao final das celebrações, vêm as ofertas, nesse momento aflora um sentimento até então nunca sentido. De onde vem tanta solidariedade?
Quem ensinou a esse povo ser assim, com essa bondade tão espontânea? Nós que viemos de um meio onde bens de consumo determinam por muitas vezes nosso ser.
Foto: Arquivo Pessoal
Como eles conseguem doar o que há de melhor que têm para um estrangeiro que mal chegou em suas terras. Esse doar, de forma tão espontânea e humana, nos remete à necessidade de que todo o planeta venha ver como vive esse povo.
Até hoje me comovo muito com essa parte da celebração. Fomos educados no Brasil a doar, partilhar, fazemos isso, sim, no entanto, doamos os pertences que não mais usamos e gostamos, oferecemos o alimento que nos sobra. Aqui doa-se o tudo de quem nada tem, ou quase nada tem.
O tempo vai passando e o amor por essa gente vai aumentando dentro da gente. Aqui a fome é uma constante, mas não falta afeto deles para nós.
Aquela força espiritual que existia dentro da gente antes da Missão, hoje é uma certeza de que essa Missão em que Deus nos coloca faz da gente um ser humano mais humano; dessa forma, percebemos que a Missão existia há muito tempo dentro dos meus sentimentos. Era necessário um sopro divino para que esse caminho fosse trilhado.
Benedito Salvador Ataguile, missionário leigo em Moçambique.