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A escola católica tem uma identidade singular, enraizada em valores cristãos, princípios éticos e sensibilidade humanista. Mais do que um espaço de aprendizagem, ela promove uma formação integral, com metas pedagógicas claras e um compromisso profundo com a sociedade e a Igreja: formar cidadãos éticos, conscientes e comprometidos com o bem comum.
Em um cenário educacional cada vez mais competitivo, as escolas confessionais são chamadas a reafirmar os princípios que as diferenciam — como a valorização da dignidade humana, a justiça social, a solidariedade e o respeito à diversidade — que se refletem em todas as dimensões da vida escolar.
Essa missão se traduz em resultados concretos. Um estudo da Associação Nacional de Educação Católica do Brasil (ANEC), com dados de 2022, mostra que mais de 115 mil alunos recebem bolsas em colégios católicos, sendo que 20% estudam com bolsa integral. Além disso, os estudantes dessas escolas tiveram desempenho médio quase 20% superior na redação do ENEM 2019. A taxa de assiduidade é 27 vezes maior e a de aprovação, 6 vezes maior do que nas demais escolas.
Nos municípios com presença de escolas católicas, os índices de analfabetismo entre maiores de 15 anos são 42% melhores. No ensino superior, o país conta com 111 instituições católicas em 81 cidades, que apresentam desempenho 15% superior no IDD e índice de conclusão de cursos 36% acima da média nacional.
Esses dados reforçam o papel essencial da educação católica no Brasil: formar, com ética, fé e excelência, cidadãos preparados para transformar o mundo.
A seguir, confira o bate-papo com o reitor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Vidal Serrano Júnior, sobre os desafios e oportunidades da educação católica no país.
Vidal Serrano Júnior, reitor da PUC-SP. Foto: Arquivo Pessoal
- Como se dá, na prática, o alinhamento entre a instituição educacional e a Igreja Católica?
Essa relação depende do nível de ensino ao qual a instituição está vinculada. É importante destacar que uma instituição de ensino fundamental ou médio opera em um contexto diferente daquele de uma instituição de ensino superior.
No ensino superior, por exemplo, é indispensável garantir a liberdade acadêmica — tanto no campo da especulação teórica quanto na prática didática, ela é essencial à produção de conhecimento, sem perder a identidade católica.
Identidade que se expressa por meio de três pilares: na dimensão ética, que segue um modelo voltado à promoção da dignidade humana, do respeito ao outro e da busca pelo bem comum; uma vocação humanitária centrada na formação integral da pessoa e um forte compromisso social com a justiça e a inclusão.
- Quais são os principais desafios enfrentados pelas instituições de ensino católicas nos dias de hoje?
As instituições de ensino católicas no Brasil, tanto no nível básico quanto no superior, mantêm um alto prestígio e reconhecimento. Muitas universidades católicas, incluindo algumas pontifícias, destacam-se entre as mais respeitadas do país. O mesmo ocorre com os colégios católicos, frequentemente incluídos entre os mais conceituados. Esse prestígio está ligado à tradição, à qualidade de ensino e ao compromisso com valores formativos.
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Contudo, essas instituições enfrentam o desafio de se modernizar continuamente. É essencial que adotem práticas pedagógicas dinâmicas, integradoras e atualizadas, alinhadas às transformações tecnológicas e sociais do mundo atual. A evolução da comunicação, o acesso facilitado à informação e as novas exigências da pesquisa acadêmica exigem uma constante adaptação das metodologias, da didática e das estruturas de ensino. O desafio central, portanto, é equilibrar a tradição e os valores da educação católica com a inovação necessária para responder às demandas contemporâneas.
- E quanto às oportunidades? As transformações recentes na educação abriram novos caminhos para a expansão e o fortalecimento da educação católica?
Acredito que sim. Especialmente no campo do ensino superior, observamos uma grande expansão do setor privado no Brasil. No entanto, esse crescimento veio acompanhado de um processo de barateamento do ensino e de um aumento da oferta, sem que isso tenha necessariamente refletido em melhorias na qualidade.
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É justamente nesse cenário que as instituições católicas ganham destaque. Elas se diferenciam por manter um compromisso sólido com a qualidade acadêmica, com parâmetros éticos bem definidos, vocação para a pesquisa e uma formação integral, alinhada à missão institucional e aos valores da Igreja. Isso faz com que a proposta educacional católica seja substancialmente diferente da oferecida por muitas outras instituições privadas. A comparação, nesse sentido, é praticamente inviável.
- A escolha de um novo Papa pode impactar a educação e as instituições ligadas à Igreja?
Acredito que sim, há impacto direto. Hoje, por exemplo, o Dicastério para a Educação é liderado pelo cardeal José Tolentino de Mendonça, uma referência em educação e cultura. Isso já sinaliza a valorização da formação integral no contexto da Igreja.
Além disso, o Papa Francisco — recentemente falecido — deixou um legado muito forte marcado pela defesa da igualdade, da justiça social e por valores profundamente humanistas. Ele foi uma liderança significativa, não apenas dentro da Igreja, mas também no cenário mundial, por seu compromisso com a paz, com o diálogo e com as causas sociais.
Nossa expectativa, portanto, é que o próximo Papa dê continuidade a esse legado: que mantenha o foco em uma Igreja acolhedora, promotora da paz e defensora da dignidade humana.
- E quanto ao futuro da educação católica no Brasil?
A educação católica deve continuar sendo uma referência importante no país, justamente por sua tradição de qualidade e por seu compromisso com a formação ética e humana. No entanto, será essencial que as instituições se atualizem constantemente — incorporando novas tecnologias, metodologias inovadoras e formas de ensino mais conectadas à realidade dos jovens.
Com esse equilíbrio entre tradição e inovação, acredito que a educação católica continuará sendo muito relevante e influente na formação das novas gerações.