Foto: Zuleica Silvano
É novembro! O fim do ano espreita na trilha sinodal que a Palavra alumia. Palavra que lembra a Carta aos Efésios, livro refletido e rezado por milhares de comunidades e grupos em todo o Brasil, no mês de setembro.
A Carta aos Efésios, comentada mês a mês nas Dicas Bíblicas, fez-nos conhecer as igrejas da Ásia Menor próximas a Éfeso, onde pessoas das primeiras gerações cristãs, convertidas da religião judaica ou dos ritos dos gentios, esforçavam-se por seguir a Cristo em comunidade.
Para confirmá-las na fé, a primeira parte da Carta, (capítulos 1 a 3), mostra a revelação do Evangelho na Igreja, e a segunda (4-6) explica o modo de responder a Deus em comunhão. A parte que veremos agora (6,10-20) propõe a vida cristã na forma de uma luta contra o mal com as armas de Deus (6,11.13).
A Carta garante que a luta da fé é diferente dos combates esportivos e das batalhas militares conhecidos naquele tempo, pois não é contra a carne e o sangue (6,12). Ao dizer isso, talvez o autor pensasse no que o Apóstolo Paulo contou aos gálatas sobre sua resposta a Deus: “não consultei carne nem sangue” (Gl 1,16).
Ao reler a experiência de Paulo, o texto incentiva as pessoas batizadas a confiarem em Cristo e superarem as crenças vindas da astrologia e das religiões dos gentios e o medo supersticioso de “dominadores do mundo das trevas” e de “espíritos do mal que habitam os lugares celestiais” (6,12).
O autor, na árdua missão de esclarecer a prática cristã, pode ter-se inspirado nos militares romanos cuja farda é visível no texto: cingir o cinto da verdade, vestir a couraça da justiça, calçar as sandálias da prontidão, levar o escudo da fé, o capacete da salvação e a espada do Espírito que é a Palavra de Deus (6,13-17).
A luta de Efésios ecoa o Gênesis (32,22-23), quando o patriarca Jacó enfrenta de noite um ser misterioso e, na luz da manhã, recebe o nome de Israel, porque viu Deus face a face. A carta sugere que a vida cristã consiste em deixar-se renomear por Deus como pessoa nova, apta a usar as armas da luz: a Palavra, a oração, a vida no Espírito, a vigilância, a perseverança, a intercessão (6,18-20).
A seguir, o autor da Carta aos Efésios fala em nome do Apóstolo Paulo, confia às comunidades a sua dolorosa luta pelo anúncio do Evangelho e promete enviar o missionário Tíquico com notícias mais consoladoras (6,19-23). O fim da Carta revela relações humanizadas, nominais e confiantes, típicas do chamado de Deus que nos convida a viver a compartilhar fé nos tempos atuais.
Neste tempo, a Igreja da terra celebra a comunhão com a Igreja celeste, na solenidade de todos os Santos e Santas. No dia 02, a comemoração litúrgica dos fiéis defuntos recorda-nos que o prêmio da luta é a vida eterna. Por isso, o Ano Vocacional que agora se encerra na Igreja do Brasil, nos apresentou a vocação para “Viver na graça da missão”, com os “corações ardentes e os pés a caminho”. Caminho este, que leva ao Reino anunciado aos pobres.
Pensando neles o Papa Francisco instituiu no penúltimo domingo de novembro, o Dia Mundial dos Pobres. E recomenda na mensagem de 2023: “nesta casa que é o mundo, todos têm direito de ser iluminados pela caridade, ninguém pode ser privado dela. Possa a tenacidade do amor de Santa Teresinha inspirar os nossos corações neste Dia Mundial, ajudar-nos a ‘nunca afastar de algum pobre o olhar’ e a mantê-lo fixo no rosto humano e divino do Senhor Jesus Cristo” (10).
O caminho sinodal na esperança une aos pobres todos e todas que, na fé, empunham as armas da luz, com os corações ardentes e os pés na missão, ao lado de Cristo Rei do Universo, cuja solenidade conclui o Ano litúrgico. Por ele nos vem a bênção proferida nas últimas frases da carta aos Efésios: “Que o Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo conceda a todos os irmãos, paz e amor com fé. E que a graça esteja com todos os que amam nosso Senhor Jesus Cristo para sempre” (cf. Ef 6,23-24) . Amém!
Para refletir
• O que existe em minha comunidade de fé, que me faz contemplar o mistério do Evangelho?
• Conservo superstições e medos contrários à fé e à cofiança em Deus?
• Quando encontro uma pessoa necessitada: sinto o coração arder? Ou desvio os olhos para outro lado?
• Conheço fatos da vida dos santos, santas ou de meus entes queridos falecidos, que lembram a luta com as armas da luz?
• Que tipo de reinado Cristo exerce no universo?
Irmã Maria Inês Carniato é irmã paulina e assessora do Serviço de Animação Bíblica (SAB)