Ela é natural de Louveira, interior de São Paulo. Aos dois anos de idade, Monica Lavinhati muda-se com a família para Vinhedo, onde cresce, sempre participando de grupos e ações pastorais da Igreja.
Começa a cursar a faculdade de Letras, mas desiste. Depois vai para o Jornalismo, curso que só termina por insistência de sua mãe. Atua em alguns veículos de comunicação e trabalha também como secretária. Cultiva boas amizades e desfruta da companhia delas em muitas viagens pelo mundo.
Tudo caminha bem, mas uma dúvida paira no ar. Ela não se sente completa, falta algo, há uma inquietação... Aos 30 anos, Monica entra em depressão e alicerçada pelos pais e pela irmã Leda inicia um tratamento com uma psicóloga.
Um determinado dia, diante de uma boa oferta de emprego, ela se ajoelha na frente de uma imagem de Nossa Senhora das Graças e abre a Bíblia: “Escuta filho, e acolhe o meu parecer e não rejeiteis meu conselho” (Eclesiástico 6, 23).
A fase não é boa, desempregada, morando na casa dos pais ela segue sentindo um vazio até o dia que resolve abrir a Sagrada Escritura mais uma vez: “O espírito do Senhor Deus está sobre mim e me ungiu para levar a Boa Nova” (Isaias 61,1-9 ou Lucas 4, 18).
“Tive um acesso de choro, corri para os braços da minha mãe, não sabia o que estava acontecendo. A gente muitas vezes não é fiel, mas Deus é fiel. É ele quem conduz”, comenta. A inquietação persiste, mas agora a dúvida era em relação à congregação que a aceitaria como religiosa. O chamado vocacional aconteceu. Monica decidiu que dedicaria sua vida como uma freira consagrada. Aos 32 anos, Monica agora assume o nome de Irmã Cristina e se transforma em monja beneditina no Mosteiro Nossa Senhora da Paz, em Itapecerica da Serra (SP).
Confira na entrevista a seguir, mais sobre sua vocação e vida monástica:
- O que aconteceu com esta jovem de família católica, formada, bem empregada, que largou tudo para seguir a vida monástica?
Pode parecer um pouco de romantismo, mas isso aconteceu por causa de um grande amor. E quando eu digo um grande amor, me refiro à busca de Deus que se deu de variadas formas na minha vida, às vezes até mesmo não achando que aquilo era a busca de Deus.
Uma inquietação que fazia com que eu viajasse muito. Uma inquietação que me fez cursar Letras, depois Jornalismo e sentir que não era esse o caminho. A decisão não foi fugir do mundo para ficar alheia a ele, mas para encontrar-me. Hoje não uso mais a expressão “deixei tudo”, porque na realidade não deixei, trouxe tudo comigo para viver essa maior intimidade, essa busca de Deus na vida monástica.
- Não acha que foi uma opção radical?
Uma pessoa casada também pode viver isso, ela tem sua vocação no seu cônjuge, nos seus filhos, ela tem sua vocação no seu matrimônio, no seu trabalho.
O monge e a monja vão para o mosteiro para viver isso numa dimensão mais radical. Tudo o que eu faço é inserido nessa união com Deus, nesse tempo Kairós.
Temos o tempo Chronos que é o tempo medido e o Kairós onde eu rezo sete vezes por dia e dali eu realizo os outros trabalhos. É uma vida exigente como tantas outras, mas é viver radicalmente. O monge é um cristão que está vivendo o batismo na sua radicalidade.
- Por que o mosteiro?
Antes de pensar em ser monja eu relacionava o mosteiro como algo da Idade Média. A gente esquece que vive a Regra de São Bento, presente há 1500 anos e que pela sua adaptabilidade faz com que os mosteiros permaneçam não como museus ou coisas do passado, mas como lugares onde podemos realizar a nossa vocação na Igreja, junto com todas as outras Igrejas.
Nós somos Igreja junto com você, Juliana, que é casada e tem uma profissão, junto com as irmãs paulinas. Fico encantada com a diversidade de carismas da nossa Igreja, quem quiser seguir a Cristo na Igreja Católica conta com uma série de lugares e novos movimentos. Eu queria algo mais, a gente fala que escolhe vocação, mas a gente também é escolhida, você sente aquele pulso interior, é algo que vem de Deus, é um chamado.
- Todo jovem vive essa fase de inquietação, de não saber o que quer, mesmo estando próximo do vestibular. O que dizer para eles? Esperar em Deus é uma opção?
Esperar em Deus, ter paciência e colocar nas mãos de Deus são orientações sim. Assumi para a minha vida como monja o que diz João 15, 5: “...sem mim nada podeis fazer”.
Estamos nos referindo a um processo e é muito importante nessa hora a pessoa ter uma orientação, antes de tudo da própria família, depois da Igreja, da escola.
Sempre tive o apoio da minha família, entrei no mosteiro já mais velha, mas naquele momento houve uma frase que me tocou muito, que é o início da Regra de São Bento: “Escuta filho, os preceitos do Mestre, e inclina o ouvido do teu coração; recebe de boa vontade e executa eficazmente o conselho de um bom pai...”.
Eu liguei para os meus pais diante da oportunidade de um novo emprego, já tinha mais de 30 anos, mas liguei para saber deles o que fazer. Obedecer na vida monástica não é apenas cumprir uma ordem, mas é antes de tudo, escutar. É importante a gente ouvir, o jovem deve ouvir e ter ao seu lado pessoas dispostas a ouvi-lo.
- Como é o dia a dia de uma monja beneditina?
A vida monástica é uma vida cristã vivida em plenitude. Tem a questão da missão, mas a essência não é o que a gente faz, é o que a gente é. Somos cristãos e o cristão realiza qualquer coisa, em qualquer lugar, por isso não deve haver divisões.
Estamos presentes em todo o mundo, a nossa missão é ser Igreja onde estamos. Ser Igreja junto com vocês. No encontro das beneditinas com o Papa Francisco ele olhou bem para nós e disse: “Vocês são o ícone da Igreja”.
Nosso dia é composto por sete momentos de oração. Nos reunimos para rezar o ofício divino, a liturgia das horas, que para nós é ofício monástico (rezamos os 150 salmos em uma semana).
Acordamos às 4h15 e o dia se encerra às 20h. Na verdade esse é o horário que passa a vigorar o silêncio noturno, a partir desse momento até a vigília do outro dia a gente não pode dizer nenhuma palavra.
Em meio a tudo isso, atendemos aqui 200 famílias pobres por mês. Desde a fundação, há 50 anos, as pessoas da região nos procuram e felizmente damos suporte, fornecemos cesta básica e, mais do que isso, somos presença na vida delas. Essa humanidade está presente no mosteiro, somos um pontinho de luz nesta região, no morro de Itapecerica. A ajuda não se resume ao material, mas a toda essa fome e sede de Deus.
Assista ao vídeo e confira a mensagem de Ir. Cristina dedicada a quem está em busca da sua vocação: