Participantes do Encontro Internacional sobre os Direitos da Criança. Foto: Vatican Media
O Encontro Internacional sobre os Direitos da Criança aconteceu na segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025, no Vaticano, quando o Papa Francisco anunciou seu desejo de dar continuidade ao compromisso assumido por meio de uma Exortação Apostólica dedicada às crianças.
O encontro e seus participantes
Com informações do Vatican news, cerca de 40 oradores de alto nível, entre políticos, Prêmios Nobel, representantes do mundo da cultura, da economia, da Igreja, do judaísmo e do islamismo, revezaram-se na mesa oval montada da Sala Clementina para o Encontro Internacional sobre os Direitos da Criança.
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Um evento desejado pelo Papa Francisco e organizado pelo Pontifício Comitê para a Jornada Mundial da Criança, dividido em duas sessões e marcado por sete painéis temáticos. O Papa abriu o encontro com um longo discurso no qual reiterou a importância da vida, da infância, dos sonhos das crianças e também dos seus silêncios.
"As crianças nos observam"
O Papa citou o padre Ibrahim Faltas, vigário da Custódia da Terra Santa, que falou um pouco antes. Disse que ficou impressionado com a frase: "As crianças nos observam". "Foi também o título de um filme famoso: as crianças nos observam", acrescentou em referência ao famoso filme de 1944 de Vittorio De Sica. As crianças "nos observam para ver como seguimos na vida", sublinhou Francisco.
A carta das crianças
Noutro momento, o Papa quis ler alguns trechos da carta que um grupo de crianças das escolas católicas de Roma, da comunidade indonésia e das Escolas da Paz de Santo Egídio e Auxilium deram a ele com alguns desenhos.
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"Querido Papa Francisco, escrevemos a você em nome das crianças de toda a Terra", diz a carta.
"Queremos agradecer porque você se preocupa conosco e com o nosso futuro, nos ama e nos protege. Muitas crianças sofrem devido à fome, à guerra, à cor diferente da pele e pelos desastres ambientais".
"Queremos um mundo mais justo, sem divisões entre os povos, entre ricos e pobres, entre jovens e idosos", continua a carta.
"Um mundo que seja também mais limpo, onde a poluição não destrua as florestas, não suje o mar e não mate tantos animais. Entendemos que é mais importante salvar a Terra do que ter muito dinheiro".
A exortação do Papa
A Exortação Apostólica sobre as crianças anunciada, na segunda-feira (03/02), pelo Papa Francisco será a oitava do seu pontificado, começando com Evangelii Gaudium de 2013 e terminando com C'est la confiance de 2023.
Será um novo capítulo de um magistério marcado pela atenção a uma categoria frágil e vulnerável, vítima de abuso sexual e não só, de exploração, de violência, crianças privadas da infância, da brincadeira e do tempo livre, como destacado em muitos painéis no encontro.
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Jubileu das crianças
O Papa também dedica um evento jubilar às crianças nos dias 24 e 25 de maio, na expectativa da segunda edição da Jornada Mundial da Criança, após a primeira realizada em maio passado no Estádio Olímpico de Roma, ocasião em que o Papa afirmou que, neste mundo de guerras, “é sempre possível fazer a paz”. E fazer a paz, a partir da contribuição dos pequeninos, de suas necessidades e de seus desejos.
A infância na periferia da existência
Francisco falou das “periferias difíceis, nas quais os pequenos são frequentemente vítimas de fragilidades e problemas que não podemos subestimar”. Periferias marcadas por “pobreza, guerra, privação da escola, injustiça e exploração.
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Periferias que não são apenas aquelas empoeiradas de uma favela ou de um cortiço, mas também as periferias dos países ricos, onde o mundo não está imune à injustiça".
Além disso, segundo a cultura da eficiência, a própria infância, como a velhice, é uma “periferia” da existência.
Matar o futuro
“Matar os pequenos significa negar o futuro” e, muitas vezes, estão sob a influência de drogas, reféns de gangues criminosas, são forçados a fazer isso. Foi citado ainda o individualismo exagerado dos países desenvolvidos que é um veneno para os pequenos. “Às vezes”, acrescentou Francisco, "eles são maltratados ou até mesmo reprimidos por aqueles que deveriam protegê-los e alimentá-los; são vítimas de brigas, de angústia social ou mental e das dependências dos pais".
No coração do Papa também estão as crianças que morrem no mar, no deserto, nas travessias, “nas muitas rotas das viagens de esperança desesperada”. Algumas morrem por falta de cuidados ou por vários tipos de exploração. Injustiças que, para as Organizações Internacionais, fazem parte da “crise moral global”.
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São situações diferentes diante das quais nos fazemos a mesma pergunta: como é possível que a vida de uma criança termine assim? Não. Não é aceitável e devemos resistir a essas práticas. A infância negada é um grito silencioso que denuncia a iniquidade do sistema econômico, a criminalidade das guerras, a falta de assistência médica e de educação escolar.
O coração cheio de piedade
Compromissos como o Encontro Internacional no Vaticano são, para Francisco, uma forma de não se habituar a essas tragédias e um estímulo para recuperar “o que há de mais nobre no coração humano: a piedade, a misericórdia”. Uma preocupação, acrescenta ele, que muitas vezes compartilhou com representantes de outras comunidades religiosas.
Os números
Com os números em mãos, o Papa apresenta o drama da infância negada, falando de 40 milhões de crianças deslocadas por conflitos, cerca de 100 milhões desabrigadas, 170 milhões de crianças “vítimas de trabalho forçado, do tráfico, de abuso e exploração de todos os tipos, incluindo matrimônios forçados”. Há um fenômeno crescente de menores desacompanhados.
As crianças "invisíveis"
Outra grave injustiça é a dos cerca de 150 milhões de crianças “invisíveis” que não têm existência legal e nem acesso à educação ou à assistência médica, tornando-se ainda mais vulneráveis, podendo cair no tráfico de pessoas e ser vendidas como escravas.
Recordemos dos pequenos que, muitas vezes, lutam para serem registrados, das crianças sem documentos nas fronteiras, primeiras vítimas desse êxodo, do desespero e da esperança de milhares que saem do Sul em direção aos Estados Unidos, e de muitos outros.
A lição da história
“Infelizmente, essa história de opressão das crianças se repete”, diz o Papa, pensando nos relatos dos avós sobre a Primeira Guerra Mundial. Mesmo quando criança, permanece indelével “a escuridão, os odores desagradáveis, o frio, a fome, a sujeira, o medo, a vida perdida, a perda dos pais, do lar, o abandono, todos os tipos de violência”.
Enxergar com os olhos de quem viveu a guerra é a melhor forma para entender o valor inestimável da vida. Mas também ouvir as crianças que hoje vivem na violência, na exploração ou na injustiça serve para reforçar o nosso “não” à guerra, à cultura do desperdício e do lucro, em que tudo se compra e vende sem respeito nem cuidado pela vida, sobretudo aquela pequena e indefesa.
Olhares e silêncios que falam
É preciso ouvir também aqueles que não têm o direito de falar, como as crianças suprimidas pelo aborto, “uma prática homicida que corta a fonte de esperança de toda a sociedade”.
É importante ouvir: devemos perceber que as crianças pequenas observam, entendem e recordam. E com seus olhares e silêncios nos falam. Vamos ouvi-las!
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Direitos das crianças
Direito à educação
O Papa Francisco defende que todas as crianças têm direito à educação, independentemente da situação migratória.
Ele alerta para a “catástrofe educativa” que afeta milhões de crianças e jovens que não têm acesso à escola.
Direito à alimentação, saúde e cuidados
O Papa Francisco defende que as crianças têm direito à alimentação, cuidados com a saúde e acesso a recursos.
Ele alerta para as ameaças que afetam as crianças mais jovens em várias regiões do planeta.
Direito à família
O Papa Francisco defende que a família é fundamental, que os pais devem educar as crianças com liberdade e valores.
Direito à paz
O Papa Francisco defende que a paz é o principal direito das crianças, que a guerra destrói a vida.
Ele pede que os governantes se empenhem nas negociações para pôr fim a todos os conflitos em curso.
Direito a brincar
O Papa Francisco defende que as crianças têm direito a brincar em paz e liberdade.
Conclusão
Aos participantes do Encontro Internacional sobre os Direitos das Crianças, disse Francisco: "A presença de vocês, a sua experiência e a sua compaixão deram vida a um observatório e, sobretudo, a um "laboratório": em vários grupos temáticos, vocês desenvolveram propostas para a proteção dos direitos das crianças, considerando-as não como números, mas como rostos".
"Tudo isso dá glória a Deus, e a Ele o confiamos, para que o seu Espírito Santo o torne fecundo e fértil", destacou o Pontífice.
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