Maio no Brasil é tempo de outono, de ventos fecundos que espalham, pelos campos, as sementes e o pólen amadurecidos no verão. Lembra o vento forte do Espírito que, em Pentecostes, abriu as janelas da sala onde estavam Maria e os discípulos e os impeliu a comunicar a Boa-Notícia do Senhor, que congrega os que estão dispersos e inaugura a comunicação do amor e da unidade, linguagem plenamente humana, que brota do coração e é compreendida sempre na língua materna.
A Solenidade litúrgica de Pentecostes, o 58º Dia Mundial das Comunicações com o tema Inteligência artificial e sabedoria do coração: para uma comunicação plenamente humana; e a Semana de oração pela Unidade Cristã (SOUC), promovida pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), com o tema: Amarás a Deus e a pessoa próxima (Lc 10,27), são as principais datas de maio para a vida cristã no Brasil, e sintonizam com a perene e sempre atual profecia bíblica.
Ezequiel é o profeta escolhido para os estudos do Mês da Bíblia de 2024. E o capítulo 36 do livro dá voz a Deus que, em um maravilhoso estilo poético, conclama todos os elementos naturais pela palavra do profeta: “Montes de Israel: ‘ouvi a Palavra do Senhor!’” (36,1). “Assim diz o Senhor Deus aos montes e às colinas, às torrentes, às planícies e aos lugares devastados; aos lugares arrasados e às cidades abandonadas que se tornaram saque e escárnio para o resto das nações que lhe estão ao redor” (36,4). A mensagem central é que Deus vai trazer o povo de volta do exílio na Babilônia, para que reconstrua Jerusalém arrasada pelos inimigos. Vai preparar tudo para a chegada dos repatriados e convida as árvores e os campos que cobrem os montes a ajudá-lo na tarefa: “Mas vós, ó montes de Israel, produzireis os vossos ramos, e dareis o vosso fruto para o meu povo de Israel, pois ele está prestes a voltar. Eis que venho a vós, volto-me para vós. Sereis cultivados e semeados” (36,8-9). Deus vai restaurar a harmonia do povo com a terra. E o profeta Ezequiel continua: “Multiplicarei sobre vós os homens e os animais, eles se multiplicarão, e frutificarão. Farei com que vos habitem como outrora e vos tratarei melhor do que antes” (36,10-11).
O Ezequiel, no capítulo 36 de seu grande livro, não se omite de revelar toda a verdade que Deus lhe fez ver. Adverte os israelitas exilados de que serão trazidos de volta, não porque merecem, pois se esqueceram de seus compromissos com a fé e se voltaram para a idolatria. Mas com essa libertação, Deus quer mostrar às nações que não abandonou seu povo, e manda o recado por meio do profeta: “Dize, portanto à casa de Israel: Assim diz o Senhor Deus: Não é por respeito a vós que eu faço isto, ó casa de Israel, mas pelo meu santo nome, que profanastes entre as nações para onde fostes” (36,22).
Deus vai congregar o povo, chamá-lo da terra estranha e trazê-lo para casa, mas antes os israelitas deverão ser libertados da idolatria, como descreve Ezequiel: “Aspergirei sobre vós uma água pura e sereis purificados. De todas as vossas impurezas e de todos os vossos ídolos vos purificarei. Eu vos darei um coração novo, e um espírito novo porei em vós” (Ez 25-26).
Neste tempo de guerras e de cidades destruídas, pode-se entender a voz profética do papa Francisco que, na trilha de Ezequiel, nos alerta na mensagem do 58º Dia Mundial das Comunicações: “Nossa reflexão só pode partir do coração humano, de um olhar espiritual, recuperando a sabedoria do coração entendido biblicamente como sede da liberdade e das decisões mais importantes da vida. Por isso, a sabedoria do coração é a virtude que permite combinar o todo com as partes, as decisões com suas consequências, as grandezas com as fragilidades, o passado com o futuro, o eu com o nós”. Ao falar da Inteligência Artificial, continua o Papa: “A revolução digital pode tornar-nos mais livres” [...], mas “dificulta a comunicação interpessoal e traz o risco de danificar nossa própria humanidade. A informação não pode ser separada da relação existencial: implica o corpo, o situar-se na realidade; exige o rosto, o olhar, a compaixão e a partilha. Só assim, cresce na aliança entre as gerações, entre quem tem memória do passado e quem tem visão de futuro”.
Memória do passado e visão do futuro é o que o capítulo 36 de Ezequiel propõe em nome de Deus: “Farei com que guardeis os meus preceitos e observeis os meus julgamentos e os pratiqueis. Habitareis na terra que dei aos vossos pais. Sereis o meu povo e eu serei vosso Deus” (27-28). E então, dirão os que passam: “Esta terra assolada tornou-se como o jardim do Éden: e as cidades devastadas, desoladas e arruinadas são agora fortificações habitadas” (36,36).
No Brasil, nós, pessoas cristãs, podemos celebrar a fé e orar em liberdade e segurança. No entanto, isso não significa que a violência em nome de Deus esteja ausente. Este ano, somos convidados(as) a nos dar a oportunidade de ir ao encontro de irmãos e irmãs que vivem a fé de maneira diferente da nossa. Experimentar o amor na diversidade é encontrar Deus revelado na pessoa próxima. Estes encontros nos tornam pessoas melhores, menos conflitivas e mais amorosas. Esta é a síntese do objetivo da a mensagem da Semana de oração pela Unidade Cristã deste ano. Todas as datas celebradas convergem para a sintonia com o Espírito Santo que congrega quem está na dispersão.
Pausa de reflexão
1) O que existe em comum entre as três mensagens: amar a Deus e a pessoa próxima; para uma comunicação plenamente humana; eu vos darei um coração novo e um espírito novo?
2) Quais palavras dessas mensagens mais ecoam em mim e inspiram as minhas atitudes?
3) Quais delas eu me proponho a vivenciar neste mês de maio?
Para aprofundar sobre o livro de Ezequiel sugerimos o subsídio do Mês da Bíblia do Serviço de Animação Bíblica (SAB). Para conhecer e adquirir, clique aqui.