Serviço de Animação Bíblica (SAB)

Espírito pascal e coração novo - Dicas Bíblicas / Março 2024

A simbologia e as práticas do tempo quaresmal são bíblicas

Foto: Irmã Zuleica Silvano, fsp

A quaresma é a primeira parte do Ciclo da Páscoa e ocupa quase todo o mês de março no calendário litúrgico. Vem do início da Igreja, que visava orientar os catecúmenos na oração, no jejum e na renúncia à idolatria, às paixões e aos vícios, a fim de receberem o batismo na Vigília Pascal. 

Até hoje, os 40 dias penitenciais de sobriedade alimentar, oração, caridade e reconciliação com Deus e com o próximo, se estendem a toda a comunidade cristã, conforme ensina o apóstolo Paulo: “Pelo batismo fomos sepultados com ele na morte, a fim de que, assim como Cristo foi ressuscitado, dos mortos pela glória do Pai, também nós caminhemos em uma vida nova, pois se nos tornamos intimamente unidos a ele pela semelhança com sua morte, também o seremos com sua ressurreição” (Rm 6,4-5).

A prática e a simbologia do tempo quaresmal são bíblicas. Vêm do jejum e oração de grandes personagens que se encontraram com Deus: Moisés esteve no monte Sinai, por 40 dias e 40 noites “sem comer pão nem beber água”, e desceu com o decálogo dos dez mandamentos, como lemos em Ex 34,28; o profeta Elias caminhou por 40 dias e 40 noites sem comer nem beber, até o Horeb, o monte de Deus (1Rs 19,8); Jesus passou 40 dias e 40 noites no deserto em jejum e oração, e de lá saiu pronto para a missão que o Pai lhe deu (Mt 4,1-11). A liturgia é um reviver constante da Palavra de Deus, que vem das épocas bíblicas e se estende por toda a Igreja em todos os tempos. Por isso, qualquer passagem da Escritura que se proclame e se escute, sempre iluminará e confirmará os mistérios da fé que a Igreja crê, pratica, ensina e celebra.
 
Neste ano, a profecia de Ezequiel foi escolhida para os estudos do Mês da Bíblia, na Igreja do Brasil. Ezequiel profetiza aos israelitas exilados na Babilônia e frustrados em sua identidade de povo de Deus. O profeta diz que o descaso com a fé e as injustiças resultaram na invasão de Jerusalém e do Templo e no exílio do povo em terra estrangeira. 

O capítulo 18 do livro de Ezequiel fala precisamente da responsabilidade pessoal e da conversão. Os israelitas exilados sabiam que a causa da desgraça coletiva era o pecado da idolatria e da injustiça praticado em Jerusalém. Pensavam que o motivo do exílio fosse que Deus pune o pecado de uma geração na outra, e ironizavam: “os pais comem uvas verdes e os dentes dos filhos ficam gastos”. Com isso, queriam dizer que Deus era injusto ao castigá-los por culpas que não eram deles. Mas estavam duplamente equivocados: primeiro, porque Deus não castiga, e os revezes da vida se explicam por razões naturais; segundo, porque eles também não seguiam a fé que aprenderam dos antepassados, portanto, não eram tão inocentes como se imaginavam. 

O profeta corrige as duas ideias errôneas e traz um entendimento novo da justiça de Deus: a consciência individual e a responsabilidade pessoal. Diz que Deus acompanha a conduta de cada pessoa, como se lê no capítulo 18,4-9: “Se alguém é justo e pratica a justiça” [...] “não oprime ninguém, devolve o penhor de uma dívida e não rouba, dá do seu pão ao faminto e ao nu cobre com vestimentas, não dá empréstimo com usura e não aufere lucros; da iniquidade desvia sua mão; executa um juízo conforme a verdade entre um homem e outro; em meus preceitos caminha e os meus mandamentos observa, agindo conforme a verdade, este é justo: certamente viverá, oráculo do Senhor Deus”.

Ezequiel insiste na responsabilidade de cada um pelo bem ou pelo mal, como em 18,12-13: (o injusto) “Oprimiu o aflito e o indigente, praticou roubos, não devolveu o penhor e elevou aos ídolos os seus olhos; cometeu abominações, deu empréstimo com usura e auferiu lucros: acaso viverá? Todas estas abominações ele cometeu: certamente morrerá. Seu sangue estará sobre ele”. Além disso, o profeta mostra, em 18,21, que a justiça de Deus não é castigo e sim, misericórdia: “Se o ímpio se converter dos pecados que praticou, observar todos os meus preceitos e praticar o direito e a justiça, certamente viverá. Não morrerá”. Deus fala ainda em Ezequiel 18, 3-31: “Pelo proceder de cada um eu vos julgarei, casa de Israel! [...] Lançai fora todas as transgressões que cometestes e forjai para vós um coração novo e um espírito novo!”. 

“Convertei-vos” é o pregão quaresmal da Igreja e o espírito novo profetizado por Ezequiel é derramado no coração de quem se fortalece pelo jejum, a oração e a caridade; abandona o pecado, assume a reconciliação e renasce com o Senhor Ressuscitado no Mistério Pascal. Feliz Páscoa!

Pausa para reflexão

- O que sei do Ano Litúrgico? Conheço seus fundamentos bíblicos? 
- Tenho alguém que precise do meu abraço de reconciliação nesta quaresma? 
- Como entendo a “responsabilidade pessoal” que Ezequiel ensina? 
- Consigo assumir aquilo que Deus me pede? 
 

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