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Eu vou conseguir? Testemunho missionário de Padre Simone Bruno

Neste mês missionário, conheça a história vocacional missionária deste sacerdote italiano que adotou o Brasil como sua terra de missão

 

Padre Bruno Simone. Foto: Arquivo Pessoal

“Essa era a pergunta que me fiz quando me deram a destinação da minha missão: uma periferia da grande São Paulo, na região do Jardim Ângela, região que no ano 1996 "ganhou” o título de lugar mais violento do mundo. 

Desde os meus 16 anos sonhava em ser missionário, mas quando chegava o dia concreto e o lugar concreto da destinação as pernas ficavam bambas. 

Lembro que os missionários que estavam lá, antes de mim, contavam muitas situações que davam um certo medo: eu admirava muito os meus irmãos de comunidade que continuavam dando a vida dia após dia, mas me perguntava se eu ia conseguir a segurar firme em um clima de contínuo perigo e de violência, eu que nasci em uma ilha muito linda e tranquila da Itália, a Sardenha, e que nunca tinha entrado em contato com situações de homicídios, sequestros, assaltos e coisas do tipo. 

Nas semanas antes da minha viagem da Itália pedi a Deus que me desse o dom da serenidade e da coragem para viver bem o meu serviço aos meus irmãos brasileiros que ainda não conhecia, mas que já amava. 

Lembro como fosse ontem que quando o avião pousou em São Paulo, ao descer da escada beijei o chão como sinal de respeito em honra da vida sagrada das pessoas com que teria vivido por 11 anos, que depois descobri serem os mais fecundos da minha vida. 

Lembro que no dia da nossa chegada (éramos três missionários chegando juntos) passando pelos vários bairros da cidade, nos aproximando da periferia o cenário pouco a pouco mudava: começavam a aparecer as favelas de que sempre tinha escutado falar e que tinha visto nos documentários. 

Com minha surpresa o meu coração ao invés de sentir medo entrava sempre mais em uma paz e um desejo de fazer-me um com a história e a vida do povo que via ao meu redor: sim, o Espírito estava mudando de dentro os meus sentimentos fazendo com que os meus olhos se abrissem para ver algo de muito mais profundo. 

Nos dias, semanas, meses e anos a seguir nunca mais apareceu aquela pergunta: “eu vou conseguir”? Compreendi que a missão não era algo que tinha que enfrentar sozinho, mas com a força do Espírito, porque é Ele o verdadeiro protagonista da missão. 

Lembro que em uma madrugada com os jovens da nossa comunidade vivemos uma vigília missionária na qual, depois de um tempo de oração, partilha e formação saímos pelas ruas da comunidade pelas 3h da madrugada indo ao encontro dos jovens que estivessem nos pancadões para que eles pudessem perceber que Jesus estava indo ao encontro deles, como o bom pastor que vai ao encontro da ovelha perdida. 

Com essa procissão de jovens fomos para o bairro “Santa Julia”, na periferia de Itapecerica da Serra (grande São Paulo) e passamos na frente de um pancadão onde estava acontecendo tráfico de droga e prostituição. 

Percebi que tinha um certo perigo, mas também percebi que muitos jovens esperavam e precisavam de um sinal de luz naquela treva em que se encontrava por vários motivos, e de fato quando entramos na festa com Jesus Eucarístico alguns jovens se ajoelharam e choraram: não esperavam que Jesus fosse atrás deles naquele lugar. 

Na manhã seguinte os jovens me perguntaram: você não teve medo de entrar no pancadão com Jesus Eucaristia? Eu mesmo reparei que o Espírito Santo deu a força.

Aquele Bruno que saiu da Itália não era mais o mesmo do Bruno que tinha chegado no Brasil. 

Hoje, com os meus irmãos e irmãs da comunidade, estamos em uma nova experiência há três anos no nordeste brasileiro, no estado do Sergipe, com um projeto missionário que apresenta um contexto totalmente diferente. 

Quando cheguei, em uma noite insone em que estava preocupado com a nova missão, voltou aquela pergunta de 11 anos antes: “eu vou conseguir?”. 

Mais uma vez compreendo que não sou eu, nem nós sozinhos como comunidade, mas é na força do Espírito que a missão ad gentes acontece, porque a missão não é nossa e sim do Espírito e nós somos os seus colaboradores. E se você também se perguntar: “Eu vou conseguir?” Garanto-lhe: vai se maravilhar com a obra do Espírito Santo na missão”.

 

Padre Simone Bruno é um missionário italiano da Comunidade Missionária de Villaregia. Tem 45 anos e, há 27 anos, faz parte dessa família eclesial a serviço da missão ad gentes, com o enfoque no anúncio, a partir de uma vida de comunidade, inspirada na Santíssima Trindade em confiante abandono nas mãos providentes de Deus. 
 

Aos 18 anos de vida deixou a ilha da Sardenha, onde nasceu e trabalhou com a pastoral juvenil e na animação missionária por 16 anos no contexto italiano.
 

Aos 34 anos, partiu para o Brasil como diácono e foi ordenado sacerdote na periferia de Itapecerica da Serra (SP), aos 36 anos. Trabalhou sempre na pastoral juvenil e na animação missionária por 10 anos no contexto do sudeste do Brasil. Há dois anos está como coordenador do Conselho Missionário Diocesano (COMIDI) no estado de Sergipe, na diocese de Propriá, onde com uma pequena fraternidade da sua comunidade está animando o Projeto Missionário “Ide e fazei discípulos”. 

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