A costumeira saudação universal de todos os começos de ano soou desta vez em tom mais alegre e esperançoso, afinada pelo diapasão da santidade.
Isso, porque na noite de Natal de 2024, o papa Francisco abriu mais uma vez a porta santa na basílica de São Pedro e inaugurou em Roma e em toda a Igreja um ano promissor de felicidade: o Jubileu da Esperança, que abre 2025 com atividades de reflexão, oração, partilha e ação acerca deste dom de Deus que nasce da certeza da fé, do impulso do amor e do envio que Jesus faz a quem o segue: “indo por todo o mundo, proclamai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16,15).
O tema do Ano Santo, Peregrinos de esperança, faz entender que todo Jubileu é um marco no caminho constante e sinodal da vida cristã em direção aos irmãos e irmãs e ao Reino de Deus.
A proposta de Francisco é como uma seta, uma direção do olhar sobre a maravilha de tudo o que existe; a conhecer a fundo o tema bíblico da libertação que nos ilumina no cuidado da Terra, Casa Comum de todas as criaturas; e a acolher quem mais precisa de ajuda e cuidado, na pessoa dos migrantes, prisioneiros, doentes, idosos, jovens dominados pelas drogas e transgressões, e todos os excluídos do direito a ter esperança de, pelo menos, viver em paz.
Tempo santo de alegria e júbilo
Muitas pessoas consideram impossível reservar um tempo de celebração improdutiva no dia-a-dia, sempre regido pela emergência funcional dos minutos!
No entanto, o jubileu consiste precisamente em dar-se o direito de “jubilar” pelo bem que Deus oferece: a esperança, a paz, a reconciliação, o amor, o perdão, a libertação.
Por isso, no primeiro dia de janeiro de 2025, celebramos o 58º Dia Mundial da Paz, que tem, como lema Perdoai-nos as nossas ofensas: dai-nos a vossa paz, inspirado nas encíclicas de Francisco Laudato Si' e Fratelli Tutti e no motivo de todo Jubileu que era celebrado pelo Povo de Deus nos tempos bíblicos.
A cada 50 anos, o povo de Israel cessava o trabalho agrícola e comemorava o descanso e a recuperação da natureza.
O Livro do Levítico dedica todo o capítulo 25 às instruções de como agir neste período: perdoar as dívidas dos empobrecidos injustamente, devolver as terras arrendadas dos endividados e libertar os escravos, adquiridos devido a dívidas.
Era um ano de imensa esperança e alegria para os que haviam perdido os bens por algum motivo, porque nele tinham garantidas a justiça e o direito de reaver a herança dos antepassados, a liberdade para trabalhar no que era seu e cuidar da família; era um ano de júbilo para todos, na certeza de que Deus nada deixaria faltar a ninguém de seu povo.
Na Igreja, os termos júbilo e alegria expressam os frutos do Espírito Santo no coração de quem é dócil a Deus e disponível para amar e servir os irmãos e irmãs.
Por isso, o ano que a Bíblia define como Jubileu, é também chamado Ano Santo ou Ano da Graça: tempo para aproximar-se da reconciliação e do perdão de Deus, converter-se ao Evangelho, alegrar-se e renovar a peregrinação espiritual individual e comunitária na fé, no amor e na esperança, a caminho da santidade.
Reconciliação, penitência e perdão são constitutivos das práticas do Ano Santo, porque no Ano Jubilar bíblico eram perdoadas as dívidas e restituídas as terras a quem as havia perdido.
Vale lembrar que o papa Francisco, na recente Carta Encíclia Dilexit nos, “Amou-nos”, ao referir-se à prática devocional de reparar o coração ferido de Jesus, esclarece que a reparação que o Senhor espera é que confortemos o coração das pessoas porventura prejudicadas por nós por meio da devolução do que perderam injustamente.
Isto é: reparar as consequências do pecado e da injustiça para assim receber o perdão de Deus e de quem foi por nós esquecido, ignorado, excluído ou injustiçado.
Vai-vens de esperança
É extenso e variado o programa do Ano Santo nos diversos âmbitos da Igreja, desde os grandes “jubileus” celebrados em Roma, aos quais acorrem pessoas do mundo inteiro, até as atividades organizadas nas Igrejas particulares de cada nação.
Dessa forma, as pessoas podem entrosar-se com alegria em tudo o que é programado para a vivência comunitária deste ano de graça especial de Deus nas dioceses, paróquias e comunidades.
Sob o lema geral Peregrinos da esperança, o Vaticano, dará início aos grandes eventos, sediando neste mês de janeiro o Jubileu do Mundo das Comunicações, aberto aos profissionais comunicadores cristãos do mundo todo, com destaque para o convite nominal do Papa a algumas pessoas que, em seus países, prestam relevante serviço à Igreja e ao Evangelho por meio da comunicação.
O Jubileu tratará de temas atuais da Igreja e da sociedade, tais como “comunicar a esperança e a paz” e “jornalismo a serviço da democracia”. O encontro está marcado para os dias 24 a 26, abrangendo a festa litúrgica da conversão de São Paulo Apóstolo, o primeiro e maior comunicador do Evangelho a todos os povos.
Por feliz coincidência, o VI Domingo da Palavra de Deus com o lema Espero na tua palavra (Cf. Sl 119), cairá no 3º Domingo do Tempo comum, justamente em 26 de janeiro, quando cristãos leigos e leigas, provenientes de vários países, serão investidos do ministério de catequistas e leitores da Palavra de Deus na liturgia.
Desse modo, a Igreja amplia e compartilha com seus filhos e filhas o dom batismal de proclamar, comunicar e testemunhar o Evangelho em todas as línguas e a todas as criaturas.
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O Domingo da Palavra será celebrado nas dioceses do mundo inteiro, no espírito do ano jubilar, a fim de que as pessoas compreendam como a Palavra de Deus, fonte de esperança e fé, é importante na vida quotidiana da Igreja e de suas comunidades.
A Igreja no Brasil, por ter uma grande tradição com o Mês da Bíblia, e por ser um período de férias, recorda o VI Domingo da Palavra de Deus, faz menção do tema, porém se dedica ao Mês da Bíblia, em setembro, que nesse ano encontra terreno fértil no espírito do jubileu, tendo como tema o estudo da Carta aos Romanos e o lema: A esperança não decepciona (Cf. Rm 5,5).
Reflexão pessoal ou comunitária
· Quais ações de Deus nos movem a jubilar e alegrar-nos neste Ano Santo?
· O que é peregrinar? O que a peregrinação interior de esperança realiza em nosso coração?
· Quais as “dívidas” que precisam ser sanadas? Quais as “devoluções” precisam ser realizadas por nós e na sociedade para termos verdadeira alegria neste ano?
· Você já tomou conhecimento da programação das atividades do Jubileu de Esperança em sua paróquia e diocese? Qual você irá participar?