Foto: Matheus Miguel Jacinto
É interessante esta reflexão que uma amiga partilhou comigo...ser fiel está fora de moda! Será? Uma coisa é certa: ao olharmos para os textos sagrados, descobrimos como, desde o início, os nossos antepassados tiveram dificuldade em ser fiéis ao Senhor e à Aliança concluída com eles.
Ou seja, a fidelidade parece ser um desafio que a pessoa humana, por constituição, tem dificuldade em assumir.
Pode ajudar-nos a fazer esta pergunta: Como eu vivo os compromissos assumidos, desde os mais simples do dia a dia até os mais vitais que tem a ver com as minhas escolhas de vida? Já que, como diz Jesus: “Quem é fiel nas pequenas coisas, também é fiel nas grandes” (Lc 16,10).
Dar uma parada e se fazer algumas perguntas a respeito do rumo que a nossa vida está tomando, é tão necessário quanto desafiador. Parece que não temos (ou não queremos ter) tempo para pensar, para refletir.
Continuamente conectados com o mundo ao nosso redor e desconectados com o nosso mundo interior, temos dificuldade de encontrar em nós mesmos respostas que possam dar sentido ao nosso viver.
E a reflexão sobre fidelidade nos fala de vínculos, de doação, de entrega, de relações, de renúncia a tudo o que pode afetar a escolha feita e de busca de tudo o que pode fortalecê-la.
Neste sentido é interessante observar como nos dias de hoje tendemos a ir “aonde me leva o coração” (entendido mais como emoções do momento, que como realidade profunda que envolve todo o nosso ser), na perspectiva da cultura do descarte que me leva a querer hoje e descartar amanhã, pessoas, coisas, trabalhos, escolhas de vida, tendo como única referência o meu bem-estar.
Quantas vezes podemos nos reconhecer na imagem usada por São Paulo na Carta aos Efésios: a de “crianças, jogadas pelas ondas e levadas para cá e para lá por qualquer vento de doutrina” (Ef 4,14), com o grande risco de perder de vista o POR QUE de uma decisão tomada, a razão que nos levou a fazer uma escolha vocacional.
Quando falamos de fidelidade na vocação assumida nos deparamos muitas vezes com algumas realidades que eram evidentes e claras quando dissemos o nosso SIM, seja na vocação matrimonial, consagrada, sacerdotal ou leiga e que parecem se desfocar ao longo do tempo.
Foto: Matheus Miguel Jacinto
A principal delas é a nossa relação com o Senhor, fonte de cada e qualquer vocação. Neste sentido é importante voltar mais que ao “porquê”, ao “POR QUEM” da nossa escolha.
Um casal de amigos que celebra neste ano os 25 anos de casamento me disse o seguinte: “para nós, como casal, ser fiéis hoje é nos lembrar da promessa feita pelo Senhor antes, durante e depois do nosso matrimônio: lembrarmos que Ele nos escolheu por primeiro e sem Ele não podemos ser fiéis a esta promessa. Mas nós, esposos cristãos, acreditamos realmente nesta fidelidade?”.
Um QUEM que toma também, o rosto de pessoas que nos ajudam a não perder a direção e, se perdida, nos ajudam a reencontrá-la, de amigos, de acompanhantes espirituais, de outras famílias, dos destinatários da missão, de pessoas que com o próprio testemunho de fé, de vida e de perseverança nos dizem que vale a pena ser fiéis às escolhas feitas.
Foto: Matheus Miguel Jacinto
Poderia estar apresentando outras realidades que precisamos reavivar para reassumir, dia após dia, a vocação assumida. Mas prefiro deixar essa “missão” para você: dedique um tempo para pensar na sua história vocacional, no jeito que está vivendo a sua vida e, em clima orante, peça ao Senhor que lhe mostre o que precisa redescobrir como realidade central da sua resposta vocacional. E a partir disso, como se diz, mãos na massa e bom caminho!
Irmã Annalisa Arrigoni, das irmãs Apostolinas, cuja missão é anunciar, com todos os meios, o Evangelho da Vocação, para favorecer o encontro das pessoas, sobretudo os jovens, com Jesus Mestre Caminho Verdade e Vida que chama e envia. Mora na Diocese de Oliveira (MG) onde está a serviço com suas irmãs, da pastoral vocacional diocesana.