Foto: Viviani Moura, fsp
A última viagem do Papa Francisco ao Iraque confirma todo o caminho do seu pontificado. A palavra de Francisco é carregada de sentido, por isso eloquente, encarnada. Quem não se lembra do dia de oração na Praça de São Pedro, em 27 de março? Ele continua falando com suas atitudes.
Durante esta viagem disse aos repórteres que se sentia obrigado a fazer a viagem "emblemática" porque o país "foi martirizado por tantos anos". E na primeira saudação pediu que “cessem as armas”.
Ir ao encontro é um gesto que fala tão alto, é importar-se com o outro e com a Paz. E neste ir ao encontro do povo iraquiano o Papa carrega o lema “Somos todos irmãos”. Com esta chave ele vai tecendo cada passo, cada encontro. Recebido com alegria e vibração pelo povo e muita segurança por parte das autoridades porque é preciso proteger a vida! E Francisco foi visitar os cristãos e todo o povo como peregrino da paz e penitente! Sua presença é consolo para tantos que sofrem.
Na missa de domingo, 7 de março, no Estádio Franso Hariri, ele não deixa de lembrar o sofrimento: “Aqui, no Iraque, quantos dos vossos irmãos e irmãs, amigos e concidadãos carregam as feridas da guerra e da violência, feridas visíveis e invisíveis!” E reflete que a tentação é responder a esses fatos dolorosos com uma força humana, com uma sabedoria humana.
Foto: Viviani Moura, fsp
E convidando ao perdão, lembra que “a atitude de Jesus, ao contrário, mostra-nos o caminho de Deus, aquele que Ele mesmo percorreu e por onde nos chama a segui-lo.” A alegria expressa no canto e na dança revelam que o peregrino da paz, deixou marcas no coração e também foi marcado, pois ele diz, levo todos no coração. Confirmando-os na fé ele também diz: “Hoje, posso ver e tocar com a mão que a Igreja no Iraque está viva, que Cristo vive e age neste seu povo santo e fiel.”
Como lembramos no início deste texto, não há como não se lembrar da oração do Papa Francisco na Praça de São Pedro, no dia 27 de março de 2020, às 18hs de Roma, quando rezou e deu a bênção urbi et orbi para a cidade de Roma e para toda a humanidade. Em suas palavras ele confiou a todos ao Senhor: “deste lugar que atesta a fé rochosa de Pedro, gostaria nesta tarde de vos confiar a todos ao Senhor, pela intercessão de Nossa Senhora, saúde do seu povo, estrela do mar em tempestade”.
O gesto, as imagens, as palavras, que contemplamos marcam este momento da história. O cenário: ao cair da tarde, 18hs, dia chuvoso, Praça de São Pedro vazia. Francisco vestido de branco em meio ao escurecer, chão molhado, a passos lentos e firmes dirige-se ao espaço preparado para a sua catequese. O branco parece ser uma luz em meio ao escuro do cair daquela tarde chuvosa. O vazio da Praça, o caminhar sozinho, no silêncio em meio a certa escuridão pode ser interpretado como solidão.
Entretanto, esta cena, densa de sentido, mostra o líder do povo católico, na audácia dos seus gestos, como o cordeiro que leva sobre si toda a humanidade. Uma pessoa e um ambiente povoados de sentido. Sem mensurar número que acompanharam essa transmissão do Vaticano, naquele momento a Praça de São Pedro se tornou pequena para tantos fieis, rezando com o Papa dos quatro cantos do mundo!
Dele ouvimos a reflexão do texto escolhido para a ocasião, a tempestade acalmada (Mc 4, 35-40), uma catequese a ser vista, revista e vivenciada. A imagem dos discípulos com Jesus na barca e o medo deles de naufragar! O Papa começa com a expressão “Ao entardecer...”, desenhando o cenário chuvoso de fim de tarde, mas, sobretudo, o cenário de medo pelo momento da pandemia! As trevas parecem tomar conta das pessoas e do cenário mundial e, como os discípulos, perguntamos: “Senhor, não te importas?” E neste barco estamos todos nós. Ninguém se salva sozinho!
As palavras do Pontífice intensificam o sentido quando ele se dirige à entrada da Basílica para rezar, em silêncio, diante do Ícone da Virgem Maria e do Crucificado, uma cruz milagrosa, trazida da Igreja de São Marcelo, que curou o povo da “peste”, no século 16. De pé, aos pés da virgem Maria; de pé aos pés da Cruz, o Papa reza em segredo ao Pai. Gesto que contemplamos denso de espiritualidade e sentido.
Momento de profunda contemplação foi a adoração ao Santíssimo Sacramento. O tempo de silêncio prolongado, na adoração, calou fundo no coração de quantos ontem e hoje rememoram aquela oração de extrema confiança “Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?” Palavra que tocou a quem abriu o seu coração para acolher este momento de bênção para a cidade e para o mundo.
Se neste dia de oração Francisco lembra que estamos todos no mesmo barco em meio às tempestades e turbulências da vida, “Mas tu, Senhor, não nos deixes à mercê da tempestade. Continua a repetir-nos: ‘Não tenhais medo’ (cf. Mt 14,27). E nós, juntamente com Pedro, ‘confiamos-te todas as nossas preocupações, porque tu tens cuidado de nós’” (cf. 1Pd 5,7), Em sua viagem ao Iraque ele consola o povo e se sente consolado:
“A Igreja no Iraque, com a graça de Deus, fez e continua a fazer muito para proclamar esta sabedoria maravilhosa da cruz, espalhando a misericórdia e o perdão de Cristo especialmente junto dos mais necessitados. Mesmo no meio de grande pobreza e tantas dificuldades, muitos de vocês oferecem generosamente ajuda concreta e solidariedade aos pobres e atribulados”.
E confirma o motivo de sua visita: “Esse é um dos motivos que me impeliu a vir em peregrinação até junto de vocês, ou seja, para agradecer e confirmar na fé e no testemunho. Hoje, posso ver e tocar com a mão que a Igreja no Iraque está viva, que Cristo vive e age neste seu povo santo e fiel.”