Comunicação

Humano. Pós-humano. Transhumano. O que é isto? (Parte 1)

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Muitas e variadas são as narrativas que emergem nas últimas décadas na sociedade contemporânea, com respeito ao ser humano, evidenciando novos movimentos, novas teorias, correntes de pensamento, de pesquisas, também de defesas sobre a evolução do ser humano.

Assunto complexo em várias fontes, especialmente no campo da filosofia, antropologia, tecnológico, religioso e suas derivações. Tudo em movimento. Nada concluso, apesar da variedade de interpretações e literatura abundante.

Dada a complexidade do tema, este artigo não pretende adentrar filosoficamente sobre a “eterna” pergunta “Quem é o homem?”. O objetivo é incursionar brevemente na questão do pós-humano, transhumano, especialmente a partir do crescimento exponencial das tecnologias.

O humano em questão

Para dizer algo sobre o pós-humano, lembramos o movimento filosófico, literário, religioso – o Humanismo – que ocorreu nos séculos XIV e XV, na Península Itálica, no qual os humanistas rejeitavam o período medieval.

No início, empregava-se a expressão para os estudos de humanidades, isto é, literatura clássica, história, dialética, retórica, aritmética, filosofia natural e línguas modernas.

Mais tarde, o nome passou a representar a ideia de que o homem estaria no centro de tudo (antropocêntrica, ao contrário da mentalidade medieval que era teocêntrica). Surge, então, o antropocentrismo, onde o homem estaria no centro do universo, como o protagonista da história.

Daí por diante, os filósofos valorizaram o ser humano, a investigação por meio de métodos científicos.

Naturalmente, a religião não foi abandonada, nem deixou de fazer parte dos seres humanos, mas quem é o protagonista é o homem, dotado de inteligência e vontade, capaz de mudar o seu destino. A centralidade do ser humano é percebida, por exemplo, nas ilustrações e pinturas do Renascimento.

Entretanto, a condição humana na sociedade pós-moderna vem se alterando progressivamente. Filósofos, estudiosos, nos dizem que desde o século XIX, a percepção de nós mesmos, seres humanos, e a nossa relação com o mundo, mudou radicalmente.

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Pois, o uso de tecnologia para mediar as relações humanas e com o mundo à nossa volta só fez crescer e “cresceu” tanto que muita gente afirma que não somos mais humanos, somos pós-humanos.

Surge, então, o movimento pós-humano, que parte do pressuposto de que já ocorreu uma profunda transformação na vida do homem e que o resultado dessa transformação gera uma mudança em sua forma de ser, dando início à era pós-humana

O ser humano, indissociável da tecnologia

Segundo a pesquisadora Lúcia Santaella, em entrevista ao programa Capital Natural, o ser humano é, por natureza, indissociável da tecnologia e o tema do pós-humano é muito controverso: tem os tecnofóbicos (que são os céticos, rejeitam o uso de tecnologias digitais, evitam qualquer tipo de incorporação tecnológica) e os apocalípticos; tem também os tecnofílicos com uma visão muitas vezes acrítica às inovações tecnológicas, a aceitam e pautam suas vidas ao redor de novas tecnologias, inclusive achando que sem elas seria impossível conviver socialmente.

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A questão é que estamos vivendo com as tecnologias em todo lugar e, segundo Santaella, vem a pergunta “Aonde ainda somos humanos? Ao falar de pós-humano, a tendência é pensar que o humano não existe mais. “Mas não. O humano continua. É um ser em evolução constante”.

É sempre importante lembrar que o ser humano nasce inacabado, diz Santaella, “não nasce pronto. Aí vem toda a constituição psíquica do ser humano: o amor, o afeto, o ser cuidado, porque o ser humano nasce em estado de vulnerabilidade total, está sempre se refazendo. E a tecnologia já está instalada no homo loquens – você é atravessado pela linguagem”.

Joana T. Puntel, FSP, jornalista, pós-doutora em Ciências da Comunicação. Autora do livro: “Comunicação - diálogo dos saberes na cultura midiática” e “Igreja e sociedade: método de trabalho na comunicação”, Editora Paulinas. E-mail: [email protected].

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