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Aquilo que conhecíamos como humano está passando por profundas transformações. Toda a filosofia ocidental, na visão de Santaella, foi tecnofóbica, no sentido que ignorou a tecnologia. “Então, a ideia que nós temos do humano é de uma essência imutável, uma ideia forjada no Iluminismo”.
Especialmente a partir da 2ª Guerra Mundial (1939-1945), estamos atravessando aquilo que se chama “a grande aceleração”. Isto provoca, sobretudo, aceleração dos processos da comunicação e da comunicação humana, máquinas que começam a substituir o orgânico, isto é, máquinas que estendem a capacidade humana não apenas muscular ("já existiam as máquinas musculares, mas elas são “burras”); agora, essas máquinas começam a estender nosso aparelho sensório, máquinas cerebrais, que são as digitais (inteligência artificial, nanotecnologias...).
Mas, neste assunto, então, nas diversas interpretações do pós-humano crítico é não aceitar que os ciclos evolutivos do humano eram mais lentos, as coisas tinham certa durabilidade, e isto trazia certo conforto.
Só que a grande aceleração está provocando, ao mesmo tempo, em nós, pânico, angústia, vertigem e, concomitantemente, fascínio. (“é disso que vivem os filmes de Hollywood”, diz Santaella).
Uma das grandes questões hoje, portanto, gira em torno da crítica ao antropocentrismo: o ser humano deixou de ser o centro do universo. Ele está interligado, como o próprio papa Francisco nos aponta na encíclica Laudato Sì (2015).
Na abundância de interpretações, de estudos que vão se desenvolvendo, há uma única certeza, a de que está surgindo uma nova antropologia. Não sabemos, com precisão, qual é o limite, e isto é bastante assustador porque ultrapassa a nossa capacidade individual de ver as coisas, “o nosso cérebro ficou insignificante perto do que é a inteligência coletiva hoje” (Santaella).
Entretanto, quando se fala de pós-humano, é preciso evitar posições bem confortáveis, isto é, ficar cético ao achar que se trata de “coisa da cabeça de pessoas! E por isso, não se enfrentam os dilemas.
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Mas pode-se cair também na tecnofilia dos transumanistas, que prometem a vida eterna através da transposição da sua mente para um outro corpo artificial (como no filme Matrix)”.
A pesquisadora alude ao fato de que perdemos completamente a noção do limite entre realidade e ficção. “A ciência avançou a tal ponto que o que ela coloca diante de nós, hoje, é uma realidade - será que é verdade? Ou será que não!. Será que é ficção? Ou é realidade!”.
Ouvimos também falar em transumanismo. Basicamente, é um movimento de pensadores, geralmente cientistas, com o intuito de eliminar as limitações do ser humano.
A prática do transumanismo consistiria em fazer uso das tecnologias para uma transposição da sua mente para outro corpo artificial, como mencionado acima.
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Pelo exposto, basicamente, mas pela grande complexidade dessa temática, em movimento, não existe conclusão definitiva, em termos de consenso, sobre essas correntes de pensamento, de pesquisas, algumas já em prática.
Elas estão “em movimento” e são acrescidas e aprofundadas, conforme avançam as novas tecnologias com suas incidências sobre o ser humano.
A Igreja Católica acompanha com atenção o desenvolvimento de pensamento das várias correntes, admite a necessidade de se aprofundar uma “nova antropologia”, coloca o ser humano, como ser interligado (Casa comum) e defende a primazia do ser humano na sua dignidade de criatura criada à imagem e semelhança de Deus (Gênesis). Tudo isto implica reflexões filosóficas, antropológicas, teológicas.
Joana T. Puntel, FSP, jornalista, pós-doutora em Ciências da Comunicação. Autora do livro: “Comunicação - diálogo dos saberes na cultura midiática” e “Igreja e sociedade: método de trabalho na comunicação”, Paulinas Editora. E-mail: [email protected].
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