Fé cristã, amizade, amor humano e meio ambiente são temas frequentes nos textos e discursos do papa Francisco. Sua preocupação em relação às questões sociais e à Casa Comum estão presentes nas encíclicas Fratelli Tutti, Laudato Si’, Laudato Deum, Dilexit nos e na exortação apostólica Querida Amazônia.
“A experiência da Amizade social não é automática e nem gratuita, mas exige a decisão pessoal para se fazer um processo. É preciso: aproximar-se, expressar-se, ouvir-se, olhar-se, conhecer-se, esforçar-se por entender-se, procurar pontos de contato: tudo isto se resume no verbo dialogar” (Fratelli Tutti, 198)
Quem avalia as encíclicas de Francisco e sua preocupação com o meio ambiente é:
Rosana Manzini, coordenadora do Núcleo de Estudos de Doutrina Social da Igreja da PUC-SP, membro do grupo de pesquisa PHAES e da REDLAPSI (Rede Latinoamericana del Pensamiento Social de la Iglesia) e do conselho do CEBITEPAL-CELAM (Centro Bíblico Pastoral para a América Latina y El Caribe).
Palavras e gestos de amor e alegria
“Vejo as encíclicas de Francisco (Fratelli Tutti, Laudato Si’, Laudato Deum, Querida Amazônia) a partir da homilia que ele faz na missa quando assume o trono petrino. Se a gente se debruçar na homilia do dia 19 de março de 2013, a gente vai notar que ele puxa para si a responsabilidade de ser o guardião da Igreja e convida a cada um de nós a fazer o mesmo.
Ali ele já tinha a clareza da missão de ser o guardião, de ser aquele que cuida e que essa missão iria se ampliando, demonstrando em suas escolhas e ações o cuidado por cada um e o cuidado pela casa, aquilo que ele vai chamar de casa comum. É dessa forma que ele inicia o seu tempo e coloca a centralidade da pessoa humana como preocupação, como tarefa, como cuidado.
Naquele 19 de março de 2013, Francisco faz um gesto profético de um pontificado que iria ao encontro daqueles onde a vida era tirada, onde a vida era negada pelo egoísmo por decisões políticas e econômicas. Ele vai acompanhando as milhares de mortes no Mediterrâneo por rejeição aos refugiados e pergunta: ‘Adão onde estás?’. Ele coloca isso em tantos momentos, e ele fala que Adão é um homem desorientado, que perdeu seu lugar na criação, ele mostra onde a harmonia se quebra, onde o homem erra. E aí vem: ‘Caim, onde está teu irmão?’. Quando ele apresenta essa casa comum, todos os gestos e palavras dele vão revelando essa tessitura de uma teologia do cuidado. Francisco se coloca, também ele, como um irmão universal e vai deixando uma marca amorosa, uma marca terna diante dos grandes nós da atualidade.
O interessante é que essa marca, através de palavras e gestos foram sempre inundados de amor e alegria. E ele faz isso de uma forma simples, onde todos compreendem o gesto. Por isso, além dessas encíclicas escritas, esse pontificado teve as encíclicas dos gestos. Numa sociedade que legitimou a indiferença, Francisco nos lançou na busca da humanização, na busca de princípios, de valores que nortearam novos caminhos. Que poderiam possibilitar um reinventar de como conviver, de como resgatar a vida humana, a vida do planeta, a vida da casa comum. Essa teologia do cuidado nos mostrou que cuidar significa comprometer-se. E ele indica a estrada, orientando que todos sejam instrumentos de resgate dos pobres e na restauração da vida do planeta.
Quando Francisco aborda a crise climática na Laudato Deum, mostra que o mundo em suas decisões políticas não leva esta questão a sério. Então, é necessário que sejamos instrumentos para escutar o clamor do pobre e o clamor da Terra. E que é no encontro com o outro que isso acontece. Francisco falou sempre de uma Igreja em saída, de uma Igreja de campanha, de uma Igreja samaritana e a figura do bom samaritano é algo que permeou todo esse pontificado. É mudar o rumo, sair do caminho da mesmice, sair de uma rota planejada, ir ao encontro dos corpos violentados de tantas formas. Isso pressupõe mudança, conversão. Não é só uma questão de meio ambiente, como Francisco sempre apontou, tudo está interligado”.
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