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Legado de Francisco: diálogo inter-religioso

"Cada homem e cada mulher é como um pedaço de azulejo de um imenso mosaico, que já é bonito em si mesmo, mas somente junto com outros pedaços compõe uma imagem, no convívio das diferenças". (Audiência da plenária do Dicastério para o Diálogo Inter-religioso, 06 de junho de 2022)

Sobre o legado de Francisco em relação ao diálogo inter-religioso, veja a opinião de:

João Décio Passos, livre-docente em Teologia pela PUC-SP. Professor no Programa de Pós-graduação em Ciência da Religião na mesma universidade. Editor na Paulinas Editora.


Aos moldes de São Francisco de Assis

“A meu ver o Papa Francisco adotou esse nome, não somente como uma homenagem ou uma devoção. Ele de fato adotou o nome ‘Francisco’ como uma programática. E aí eu vejo três direções nessa programática inspirada em São Francisco de Assis. 

A primeira são os pobres, por isso ele coloca a opção pelos pobres como algo central, inerente à fé cristã, a ponto de dizer que a opção pelos pobres é uma realidade evangélica que nenhuma hermenêutica eclesial tem o direito de relativizar. O segundo ponto é a questão ecológica, e aí a Laudato si' fornece a grande referência, o mapa, a crítica e a reflexão de um papa sobre a temática da crise climática e planetária numa perspectiva de ecologia integral.

Já o terceiro item é pouco refletido: São Francisco de Assis atravessa a fronteira das Cruzadas no norte da África e vai ao encontro do chefe militar que estava em guerra com os árabes e reza com ele, senta-se com ele. Então, no contexto das Cruzadas que entendiam os islâmicos como grandes inimigos da Europa, São Francisco rompe com essa barreira e vai ao encontro. E aqui está o ponto da contribuição do papa Francisco para o diálogo inter-religioso.

Francisco dialoga com as igrejas ortodoxas e coloca o patriarca Bizantino, Bartolomeu I, como interlocutor direto na Laudato si', formando uma parceria na reflexão ecológica. Francisco dialoga também com o mundo protestante, celebrando com a bispa luterana por ocasião dos 500 anos da Reforma Protestante – o que causou um escândalo tremendo. E Francisco dialoga com o islamismo: jamais houve um papa na história que tivesse dialogado tanto com o mundo islâmico. 

Podemos citar inúmeros eventos, mas destaco quando ele escreve a Fratelli Tutti e convida como parceiro para escrever a encíclica o Grande Imã Ahmed el Tayeb com quem se encontrou em Abu Dhabi. Ele escreveu, com o islâmico esta grande carta sobre fraternidade humana em prol da paz mundial e da convivência comum. Trata-se de um documento inédito, histórico.

Outro momento interessante é quando ele vai ao Iraque e à Ur, se encontrando com o mundo islâmico, entendendo Abraão como grande pai. Francisco tem esses gestos e ensinamentos. E sabe onde ele avançou? O papa Francisco criou um novo paradigma ao dizer que Deus é o autor da diferença e as diferenças não ameaçam. Eu não tenho que fazer o diferente ser igual a mim. 

Havia uma tendência muito eclesiocêntrica do diálogo inter-religioso. Um pensamento que justificava ‘eu dialogo, mas só porque aqui há elementos semelhantes à minha verdade’. Francisco rompe com essa ideia de dialogar porque o Deus deles é semelhante ao meu. Eu dialogo exatamente porque ele é diferente de mim e as diferenças são legítimas e queridas por Deus, e resta, portanto, entrar em um diálogo das diferenças. Cada um tem a sua verdade e a gente entra em diálogo para buscar junto a verdade e caminhar junto.

Francisco entende que o diálogo tem uma dimensão humanitária, dialogamos com as religiões por causa da humanidade, dialogamos com as religiões pensando na convivência humana universal, pacífica, justa e fraterna”.

 

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