“Não devemos olhar apenas para os grandes problemas da pobreza mundial, mas para o pouco que todos nós podemos fazer todos os dias" (17 de novembro de 2024, VII Dia Mundial dos Pobres)
O papa é a voz que defende os pobres. Foram tantos os pedidos de Francisco em defesa dos mais vulneráveis... Qual é o legado de Francisco ao defender a ideia de “construir pontes e não muros”? Quem responde é:
Dom Jaime Spengler, arcebispo de Porto Alegre e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Por uma Igreja próxima das situações humanas
“O magistério do Papa Francisco tem se empenhado para pôr em destaque vários temas de relevância não só para a comunidade de fé, mas também para toda a sociedade. Bastaria aqui recordar o título de alguns documentos deste pontificado: A Alegria do Evangelho; A Alegria do Amor; A Alegria da Verdade; Laudato si' (Sobre a Ecologia Integral); Fratelli Tutti (Sobre a Amizade Social); Alegrai-vos e Exultai (Sobre a Santidade); Vós sois a Luz do Mundo (Sobre a Tutela de Menores); Desiderio Desideravi (Sobre a formação litúrgica do Povo de Deus)... Estes documentos, entre outros, têm como motivação de fundo promover a comunhão e a unidade no seio da comunidade de fé, além de tocar em aspectos da vida dos batizados e batizadas enquanto participantes da sociedade e situados no meio ambiente, ou seja, num contexto geográfico, cultural, ambiental que necessita de cuidado, atenção, respeito e promoção.
Num mundo marcado por tensões diversas, também a proposta de uma nova economia e de um pacto em prol da educação são indicações deste desejo de promover a construção de pontes no seio da sociedade global. Sua voz tem encontrado receptividade em amplos espaços da sociedade.
Além de uma grande liderança religiosa, o Papa Francisco é certamente uma referência na abordagem de outras dimensões da existência humana.
O modo de se expressar, a linguagem utilizada, os gestos, a proximidade humana marcam o seu modo de ser, criando ampla sintonia... Vale ainda destacar sua determinação no sentido de desejar uma Igreja sempre mais simples, despojada, próxima das situações humanas cotidianas, sobretudo junto às periferias existenciais!
Os pequenos são os amados de Jesus. Esta pequenez se expressa de muitos modos! Acompanhando o pontificado não é difícil identificar os tantos sinais em prol dos mais vulneráveis. Neste âmbito, duas situações – sem desconsiderar outras – merecem destaque: os migrantes e os menores.
Desde o início de seu ministério petrino, o Papa Francisco foi sinal e testemunho da importância de atenção à questão dos migrantes. Ao mesmo tempo, vale destacar todo o empenho realizado para promover no seio da Igreja uma cultura de respeito e cuidado em relação aos menores. Não faltaram momentos delicados. Também não faltou a determinação de avançar neste âmbito. Também não faltaram situações de incompreensão...
A defesa dos mais vulneráveis está no coração do Evangelho. Vale aqui ainda recordar o capítulo 25 do Evangelho de Mateus (Mt 25, 31s). Jamais podemos esquecer este aspecto. O magistério do Papa Francisco traz as marcas da riqueza doutrinal, sem transcurar jamais a inspiração originária e os dados da bela e rica tradição da Igreja”.
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