Foto: Luciana Falcão
Eles são uma manifestação da cultura popular brasileira e fazem parte da cultura nordestina. Os poemas da Literatura de Cordel são ricos em rimas, escritos em linguagem popular e na perfeição das métricas dos seus versos.
O termo “cordel” é de herança portuguesa, introduzido no Brasil no século XVIII. Em Portugal, os folhetos ficaram conhecidos como “folhas volantes” e na Espanha, como “pliegos sueltos” (folhas soltas). O estilo adquiriu força no Brasil na década de 70 influenciando escritores como João Cabral de Melo Neto, Ariano Suassuna e Guimarães Rosa.
Em meados do século XIX, o poeta Leandro Gomes de Barros (1865 - 1918) cria o “sistema cordelístico” brasileiro, que transforma o cordel em um produto rentável, capaz de ser amplamente distribuído e popularizado. Leandro Gomes de Barros é considerado “o pai” da Literatura de Cordel, sendo um dos maiores cordelistas da história, com centenas de folhetos publicados, e títulos que alcançaram milhares de cópias vendidas.
“João Grilo foi um cristão
que nasceu antes do dia
criou-se sem formosura
mas tinha sabedoria
e morreu depois da hora
pelas artes que fazia”
(Trecho de Proezas de João Grilo, de João Martins de Athayde)
As histórias descritas nos cordéis retratam as dificuldades e as curiosidades regionais. A origem destes textos vêm dos casos cantados por repentistas, tradicionais violeiros que narram histórias improvisadas e rimadas. Alguns contam com personagens folclóricos, o que fortalece a cultura local e colabora na preservação dos costumes regionalistas.
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Impossível dissociar a Literatura de Cordel da Xilogravura. Apesar de serem “artes” independentes, sua junção deu muito certo. Os primeiros folhetos não tinham ilustrações na capa e, com a intenção de alcançar mais pessoas, considerando que boa parte da população não era alfabetizada, os editores passaram a inserir imagens para ilustrar os livretos. A união da Literatura de Cordel com a Xilogravura representou um marco na trajetória dessas duas artes populares, sucesso garantido.
Xilo = madeira e Gravura = desenho; portanto
a Xilogravura é um desenho (carimbo) talhado na madeira.
Patativa do Assaré, Silvino Pirauá Lima, José Camelo de Melo Resende, Antônio Ferreira da Cruz são alguns dos principais cordelistas brasileiros. Em 2018, o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) concedeu a Literatura de Cordel o título de Patrimônio Cultural Nacional.
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Hoje em dia, os folhetos, além de pendurados em barbantes ou cordéis (cordas finas) nas feiras, estão também nas redes sociais. Cordelistas contemporâneos seguem divulgando a cultura brasileira, mantendo o gênero pulsante, preservando a tradição e propondo transformações e atualizações. Conheça alguns deles:
- Fábio Sombra: Tem o YouTube como aliado de sua literatura;
- Salete Maria da Silva: Aproveita o cordel para tratar de temas das transformações sociais no país como questões de gênero, violências, causas políticas e educacionais;
- Maria Godelivie: Possui uma carreira acadêmica sólida, veja o blog;
- Arievaldo Viana Lima: Faleceu em 2020, mas deixou um legado com muitas obras, uma das mais conhecidas é A moça que namorou com o bode, veja seu blog;
- Bráulio Bessa: ficou conhecido em todo o país por participar do programa da Fátima Bernardes na televisão. Possui canal no YouTube.
Conheça os produtos Paulinas que se relacionam com o tema:
Mitos e lendas do folclore do Brasil
Cordel do negrinho do pastoreio
Juliana Borga é jornalista, três vezes vencedora do Prêmio Dom Hélder Câmara de Imprensa. É mãe coruja da Helena e adora escrever sobre temas que colaboram para um mundo mais humano e solidário. Instagram: @juborgajornalista