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Madre Maurina, uma vida castigada

Única religiosa presa e torturada durante o regime militar brasileiro tem sua história contada em documentário

Making Off do documentário “Maurina, o outono que não acabou”. Foto: Renata Prado

O ano de 2024 marca os 60 anos do início da Ditadura Militar no Brasil. Entre 1964 e 1985 o país foi governado por generais do Exército, um período marcado por crimes políticos, torturas e mortes.

Foram mais de 400 mortos e outras centenas de torturados, entre eles uma freira: Madre Maurina Borges da Silveira. Ela nasceu em Minas Gerais, mas mudou-se para Ribeirão Preto (SP), onde administrou por muitos anos o orfanato Lar Santana, na Vila Tibério.

Madre Maurina Borges da Silveira. Foto: Arquivo Pessoal

A única religiosa presa e torturada durante o regime militar brasileiro foi acusada de participar do grupo guerrilheiro Forças Armadas de Libertação Nacional (FALN) e foi presa em 1969 sob a acusação de ceder o porão do Lar Santana para membros do grupo fazerem reuniões. 

Madre Maurina ficou na cadeia de Cravinhos (SP) e também em presídios de São Paulo e Tremembé (SP). Depois, ficou exilada por nove anos no México e voltou ao Brasil após a anistia. Ela morreu em 2011, aos 84 anos, em um convento de Araraquara (SP). A religiosa sofria de Alzheimer.

Documentário brasileiro

Gabriel Silva Mendeleh, diretor do documentário “Maurina, o outono que não acabou”. Foto: Joel Silva

O responsável pela divulgação da história da madre é Gabriel Silva Mendeleh, diretor do documentário “Maurina, o outono que não acabou”. O filme mostra entrevistas de ex-presos políticos de Ribeirão Preto e São Paulo que conviveram e testemunharam a rotina e as torturas a Maurina nas prisões.

Também contou com o depoimento de historiadores, jornalistas, religiosos e o advogado de defesa da religiosa. As entrevistas são intercaladas com imagens de arquivo e de reportagens da época, bem como animações e reconstituições com atores que dão vida à narrativa, reproduzindo os depoimentos e uma carta escrita pela própria religiosa enquanto extraditada no México. 

Um desafio, segundo Mendeleh, pois muitos documentos dessa época desapareceram ou foram queimados. “As informações vinham com muitas lacunas, foi um trabalho árduo checar as informações e ter certeza do que estávamos falando. Sem falar do medo das pessoas em falar sobre a ditadura. Recebi muitos nãos. A maioria das pessoas era bem receptiva até o momento que eu falava de madre Maurina, aí as portas se fechavam”, comenta Gabriel.

Coincidência

O interesse de Gabriel por biografias de religiosas foi despertado numa palestra de Maria Valéria Resende, escritora premiada e irmã da Congregação de Nossa Senhora, Cônegas de Santo Agostinho. “Ao assistir sua palestra passei a entender melhor o ato de resistência que é ser freira e como é a divisão de gênero dentro da Igreja. Trocamos e-mails, comecei minha pesquisa até me deparar com a história da madre Maurina. Chamou minha atenção por ela ter vivido na minha cidade e no bairro onde eu morava na época, e eu não ter a menor ideia de sua existência”, lembra.

Madre Maurina juntamente com Dom Paulo Evaristo Arns. Foto: Arquivo Pessoal

O diretor explica que resolveu contar essa história para mostrar que a ditadura esteve presente em todo o Brasil. “Há uma sensação de que no interior e no Brasil profundo não aconteceu nada. O que não é verdade. Talvez as maiores agruras aconteceram nos interiores, pois era mais difícil das pessoas ficarem sabendo. Há ainda muito o que falar sobre a ditadura, é um tema que boa parte da população não conhece. Carregamos resquícios deste período até hoje, basta ver os métodos de abordagem usados pela polícia. Nossa democracia ainda é muito jovem e muito frágil”, finaliza Gabriel Mendeleh.

Assista ao trailer do documentário:

Veja na galeria abaixo as fotos do Making Off do documentário: “Maurina, o outono que não acabou”

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