Divisa entre Estados Unidos e México. Foto: Pixabay
Tem chovido notícias sobre a militarização das fronteiras. Exemplo emblemático ocorre nos confins entre Estados Unidos e México. Seguem as tentativas de cruzar para o Eldorado norte-americano, os aprisionamentos e as deportações. Não são poucos os riscos que os migrantes correm nessa empreitada.
A militarização das fronteiras tem como pano-de-fundo uma razão inconfessável: o temor dos migrantes. Nos últimos anos vimos assistindo, progressivamente, ao fortalecimento das forças armadas nos complexos fronteiriços que unem dois ou mais países.
A quase impossibilidade de migrar de um país a outro de forma regular, com os documentos em dia, concentrou grande quantidade de migrantes nos territórios limítrofes.
Estes últimos, de um momento a outro, sofreram uma dinâmica inusitada, marcada por acampamentos de migrantes e refugiados, tensões constantes e uma pressão crescente sobre os muros visíveis ou invisíveis que demarcam as nações.
Por que esse temor cada vez mais acentuado dos migrantes e refugiados? Por um lado, o medo do outro, do diferente e do estrangeiro constitui um sentimento que está sempre à flor da pele das pessoas, povos e culturas. De forma implícita ou explicita, normalmente o estranho representa uma ameaça à nossa visão de mundo, com seus valores e costumes, com seu modo de vestir, sua língua e sua culinária.
As diferenças, enfim, ainda que sejam capazes de enriquecer-nos reciprocamente, num primeiro momento tendem a levantar suspeitas e a procurar defesas, mesmo que inconscientemente.
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Daí que as pontes sejam mais raras do que os muros, e os nós mais frequentes do que os laços e relações. Mas no caso da militarização da zona fronteiriça, entram em jogo fatores de natureza diversa. No fundo e em geral, continua prevalecendo a famigerada ideologia da segurança nacional, herança maldita dos tempos da guerra-fria.
Mesmo depois de duas grandes guerras mundiais, o conceito de direitos humanos revela-se idealista, mas pouco real e concreto. Uma espécie de cereja do bolo para os países que se dizem democráticos.
Pe. Alfredo J. Gonçalves é sacerdote da Congregação dos Missionários de São Carlos (scalabrinianos), cujo carisma é atuar com migrantes e refugiados. Durante 5 anos, foi assessor do Setor Pastoral Social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), depois Superior Provincial e Vigário Geral na Congregação mencionada. Hoje exerce a função de vice-presidente do Serviço Pastoral dos Migrantes (SPM). Recentemente lançou o livro Retratos da Metrópole, organizado pela Missão Paz.