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Vivemos imersos em uma cultura marcada pelo imediatismo, que valoriza a satisfação instantânea e a busca por resultados rápidos. Essa mentalidade, inevitavelmente, afeta as relações interpessoais, especialmente os relacionamentos amorosos.
A pressa em encontrar um parceiro, a expectativa de um relacionamento “perfeito” desde o início e a dificuldade em lidar com desafios naturais da convivência podem gerar decisões precipitadas e instabilidades afetivas. Ainda assim, muitos jovens têm buscado viver relacionamentos com profundidade, fé e compromisso, demonstrando que é possível cultivar um amor com propósito em tempos de vínculos frágeis e efêmeros.
“As pessoas continuam amando e sendo atraídas, mas, no ‘tempo líquido’ em que vivemos, isso se dá muitas vezes a partir da ausência e da solidão. Parece que o ‘propósito’ vem depois do ‘estar junto’. No passado, o compromisso para a vida toda (até que a morte os separe), era quase inquestionável. Ele vinha antes do ‘ficar’. Hoje, esse propósito é confrontado pela ideia de experimentar todas as formas de prazer e amor possíveis. As pessoas se veem diante do desafio de escolher como amar e a quem amar. Isso é um fenômeno típico da nossa era, marcada por excessos de informação, conexões e experiências instantâneas”, reflete frei André Luiz Boccato de Almeida, OP, professor de Teologia na PUC-SP, psicanalista e especialista em Educação Sexual.
Andreza e Matheus
Na contramão desse cenário, Andreza Oliveira Ortega e Matheus de Sales Rodrigues, de 27 e 28 anos, começaram a se aproximar no último ano da faculdade de Educação Física. Pouco tempo depois, iniciaram o namoro. “Essa é uma fase muito importante, pois é quando conhecemos de verdade a pessoa com quem pretendemos passar a vida. Precisamos observar se temos os mesmos valores, se nos damos bem, se há respeito”, afirma Matheus.
O casal Andreza Oliveira Ortega e Matheus de Sales Rodrigues. Foto: Arquivo Pessoal
Após quatro anos de namoro, veio o noivado e, em seguida, o casamento. “Enfrentamos alguns desafios, como o período em que moramos longe um do outro por causa do trabalho. Mas essas dificuldades nos fortaleceram. Hoje celebramos três anos de casados. Acredito que, atualmente, muitas pessoas têm dificuldade em respeitar valores e crenças, e acabam desistindo no primeiro obstáculo. Mas é possível viver um amor profundo quando fortalecemos os laços desde o namoro e escolhemos fazer o outro feliz todos os dias”, conta Andreza.
Autenticidade
Do ponto de vista da fé cristã, a base de um relacionamento duradouro é o amor comprometido e fiel. “A fidelidade não é algo pronto, mas fruto de uma construção conjunta. Ela exige tempo, convivência e amadurecimento. E é preciso lembrar que a cultura contemporânea está mais moldada pela desconfiança do que pela confiança. As redes sociais, por exemplo, são ambientes que alimentam a curiosidade, o julgamento e a insegurança”, observa frei André.
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Segundo ele, é possível viver um namoro com fé e compromisso, desde que se leve em conta a autenticidade e a história de vida de cada pessoa. O casamento, enquanto sacramento, é uma possibilidade real e bela, mas exige um processo de discernimento.
“É fundamental oferecer escuta, formação, acompanhamento e sensibilidade humana. Sem isso, corremos o risco de propor ideais inalcançáveis para pessoas reais. Precisamos, como Igreja, separar as pessoas das tendências culturais, das mentalidades e dos desejos que as movem. Muitas vezes, nos falta viver concretamente aquilo que o Papa Francisco propõe na Amoris Laetitia: acompanhar, discernir e integrar. Não podemos exigir das pessoas apenas o ideal sem ajudá-las a integrar o seu real. É urgente recuperar nelas o sentido profundo do amor, do compromisso e da fidelidade. E isso deve ser feito com misericórdia, sem culpabilizações excessivas por escolhas equivocadas ou experiências dolorosas do passado”, conclui frei André.
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