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Passam dias, semanas e meses em nossas vidas, e os anos se sucedem com os tempos litúrgicos que reavivam a fé e a esperança no caminhar. Outra vez chega novembro, com a solenidade de todos os Santos e Santas e a comemoração dos fiéis falecidos, ambas vivenciadas sob a chave da esperança. Neste ano, os temas fortes do mês convergem entre si e podem ser iluminados pela máxima de Romanos: a lei é amar.
Passos convergentes
O Ano Jubilar da Esperança torna mais iluminada a meta da vida à luz da fé, conforme diz o Senhor no Evangelho segundo João: “não se agite o vosso coração. Credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fosse, eu vos teria dito, porque vou preparar-vos um lugar. Quando eu tiver ido e vos tiver preparado um lugar, virei novamente e vos levarei para junto de mim, a fim de que, onde eu estiver, estejais também vós” (Jo 14,1-4).
Essa é a meta confirmada por Jesus para quem o segue. O Papa Leão XIV, na mensagem do 9º Dia Mundial dos Pobres (16 de novembro), segue o eco da voz de Jesus quando repete com o salmista: “Tu és a minha esperança” (Sl 71,5) e o aplica: “a esperança cristã, à qual a Palavra de Deus remete, é certeza no caminho da vida, porque não depende da força humana, mas da promessa de Deus, que é sempre fiel.

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Essa esperança continua a indicar como verdadeiro horizonte os ‘novos céus’ e a ‘nova terra’ (2Pd 3,13), onde a existência de todas as criaturas encontrará o sentido autêntico.” “A esperança do salmista traz responsabilidades na história, porque a caridade é o maior mandamento social”, escreve o Papa. E continua: “a pobreza tem causas estruturais que devem ser enfrentadas e eliminadas. À medida que isso acontece, todos somos chamados a criar novos sinais de esperança que testemunhem a caridade cristã, porque a nossa verdadeira pátria está nos céus” (Fl 3,20).
Em Romanos, esperançar é amar
O Papa Francisco ensinou a Igreja a esperançar. E pode-se dizer que o autor de Romanos levantou e esclareceu as principais questões que confundiam a esperança dos cristãos provenientes do paganismo. A principal delas tratou da salvação eterna e da justificação, que é libertação do pecado mediante a fé em Cristo Salvador, porque a mera observância ritualista da Lei judaica não justifica do pecado, não santifica nem salva.
Outra questão de Romanos refere-se à fé de Israel.
O autor explica que a redenção vinda de Jesus Cristo não suprimiu a validade da promessa de Deus ao povo hebreu; ela continua eficaz mediante uma pequena porção de israelitas que se conserva fiel à Aliança com Deus: são aqueles que cultivam a fé de Abraão e constituem a verdadeira descendência prometida.
Por fim, a última parte da carta esclarece dúvidas e responde a uma pergunta que provavelmente surgiu nos interlocutores: talvez os cristãos de origem judaica se perguntassem se, sendo a Lei de Moisés secundária para a salvação mediante a fé, qual seria a lei que os identificava e deveriam praticar.
Do mesmo modo, os de origem pagã se questionavam se a lei civil de Roma ainda era indispensável para eles na condição cristã, ao que o autor dedica o capítulo 13 da carta.
Na vida cristã, o amor é a lei
O capítulo 13 vai dar o passo a passo da prática cristã na sociedade romana, primeiro frente às autoridades, pois, no plano de Deus, são elas que zelam pelas leis, punem os malfeitores e protegem quem faz o bem. Por isso, os cidadãos não podem se isentar dos deveres cívicos (13,1-7). Aqui, “cumprir a lei” não tem o sentido de obrigação; antes, significa realizá-la ou levá-la à sua potencial plenitude (Rm 13,8).
Na conclusão desse breve raciocínio, seguem-se duas afirmações pontuais. A primeira: “o amor não trabalha para o mal do próximo”; e a segunda: “a lei se cumpre plenamente por meio da prática do amor cristão” (Rm 13,10).

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O autor ecoa em seu escrito o ensinamento de Jesus, quando foi interrogado pelas autoridades judaicas sobre a validade do imposto devido ao imperador romano: “dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mc 12,13-17). Com isso, coloca o imperador — que é autoridade máxima na terra — abaixo de Deus, a quem é devida a honra exclusiva.
Por outro lado, o imposto lembra dívida, e esta faz concluir que o cristão, na vida comunitária e social, deve unicamente o amor: “Amar o próximo como a si mesmo” (Mc 12,31).
Quem ama o próximo pratica a lei, porque a plenitude da lei é o amor. A quem age sob a força do amor, nada mais falta praticar, já que o amor é a plenitude cristã (13,8-14). Portanto, quem pratica a fé por meio do amor chegou à justificação, à santidade e à salvação.
Vida em Cristo
A última parte do capítulo 13 (vv. 11-14) ocupa-se do quê e de como fazer, porque era isso que os cristãos romanos precisavam saber com clareza. O autor tece uma síntese do agir ético da comunidade. Em primeiro lugar, mostra que a lei do amor traz um tempo novo: o tempo de se despojar dos comportamentos obscuros e despertar para a luz. A linguagem é apocalíptica, com as metáforas do dia e da noite, o que significa que a vinda de Cristo é a expectativa e a esperança cristã.

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Para começar, um lembrete: “vós tendes conhecimento do tempo em que estamos vivendo”, tempo voltado para a proximidade da parusia do Senhor Jesus, esperada para breve, conforme a crença do primeiro século da Igreja. Comparado com o dia, é a aurora. Como a noite finda e vem a claridade, é hora de abandonar as obras das trevas: comilanças e bebedeiras, orgias e libertinagens, contendas e ciúmes — vícios bem típicos da sociedade romana em que esses cristãos viviam.
A última exortação dessa série é: “revesti-vos do Senhor Jesus” (Rm 13,14a), que lembra a linguagem batismal das cartas paulinas, presente de modo especial no hino de Gálatas: “todos quantos fostes batizados em Cristo, vos revestistes de Cristo” (Gl 3,27), com ecos em Ef 4,24: “para vos revestirdes do homem novo, criado segundo Deus, na justiça e na santidade da verdade.”

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Assim, a Carta aos Romanos aborda a vida civil e comunitária dos cristãos de seu tempo em uma linguagem atual também para nós hoje, pois, como diz o Papa Leão, na mensagem acima citada: “a esperança do salmista traz responsabilidades na história, porque a caridade é o maior mandamento social”. Enquanto síntese, o capítulo 13 de Romanos pode ser pensado como indicativo do modo de vida de quem se revestiu do Senhor Jesus pelo batismo.
A sintonia dos temas de novembro se dá na esperança e na caridade, que são faces teologais do amor, na espera da vinda gloriosa do Novo Céu e da Nova Terra que o Senhor trará em sua vinda. Portanto, a Carta aos Romanos, estudada no Mês da Bíblia de 2025 em toda a Igreja do Brasil, vai mais uma vez esclarecer e iluminar a vida das comunidades e do Povo de Deus que caminha na esperança, unido a Cristo, rumo à bem-aventurança eterna.
Pausa para refletir
• De que modo Rm 13 ilumina nossa identidade cristã na Igreja e na sociedade?
• Como vimos a prática da lei do amor na vida das pessoas que amamos e que já estão na morada de Deus?
• Vemos sinais de que as leis civis de nosso tempo, voltadas para os mais necessitados, refletem o “amor ao próximo”?
Para quem deseja aprofundar o tema da esperança, indicamos a obra:
SILVANO, Zuleica Aparecida. A esperança na Sagrada Escritura: meditações e encontros. São Paulo: Paulinas, 2025.
Se desejar ler na íntegra a mensagem do Papa Leão XIV para o IX Dia Mundial dos pobres, acesse aqui.
