Família Cristã

O benefício do ócio na vida das crianças

Estruturar uma agenda lotada na infância acaba tirando o tempo livre, essencial para um desenvolvimento saudável

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São tantas as opções de brinquedos, aplicativos e atividades lúdicas e educativas para se fazer com as crianças que as famílias se veem cada vez mais confusas sobre o que realmente importa proporcionar aos seus filhos.

Atividades esportivas, língua estrangeira, robótica, música, dança, aulas que desenvolvem o raciocínio lógico ou a cultura maker... São infinitas as opções de cursos que estimulam diversas competências e a sensação de que, se você não oferecer tantas atividades assim, é apenas o seu filho que está ficando para trás ou não está se desenvolvendo tanto quanto deveria.

Ao invés de se perguntar “o que mais posso fazer para estimular meu filho?”, os pais devem pensar em “como posso fazer para oferecer condições para que a criança se desenvolva de forma saudável e segura?”.

Sabemos que o estímulo é fundamental para o desenvolvimento dos pequenos, mas, no intuito de não ficar para trás, muitas vezes não se percebe que o excesso de atividades extracurriculares não está ajudando, ao contrário: só prejudica. Os excessos na infância roubam a possibilidade de brincar livremente, acabam gerando estresse e ansiedade.

Coordenadora do Núcleo da Associação Brasileira de Neuropsiquiatria Infantil, em Londrina (PR), Luciana Brites. Foto: Arquivo Pessoal

“O excesso de estimulação pode estressar a criança, assim como nós ficamos estressados em diversas situações, quando nos vemos diante de muitas coisas para pensar ao mesmo tempo. A criança tem o agravante de estar em desenvolvimento, então pode gerar sinapses e conexões prejudiciais no seu crescimento”, explica a pedagoga, mestre em Distúrbios do Desenvolvimento, CEO do Instituto NeuroSaber e coordenadora do Núcleo da Associação Brasileira de Neuropsiquiatria Infantil, em Londrina (PR), Luciana Brites.

Tempo livre

Estruturar uma agenda lotada para as crianças acaba tirando-lhe o tempo livre, aquele momento de não fazer nada. Um tempo de extrema importância para garantir o acomodamento de todas as informações que as crianças recebem em um único dia.

É a famosa expressão “ócio criativo”. A ideia por trás deste conceito é disseminada pelo sociólogo italiano Domenico de Masi, que defende que todos nós devemos ter um tempo para unir descanso, diversão e aprendizagem. Ele afirma que o sucesso no trabalho e o êxito na vida têm exigido cada vez mais criatividade e atividade intelectual. Por isso, é importante ajudar as crianças a praticar o ócio criativo desde cedo.

“O ócio é literalmente um tempo criativo. Quando a criança está sozinha, pode escolher o que quer fazer. A liberdade de escolha, a manipulação e a exploração do ambiente são essenciais para que ela possa ter curiosidade e se manifestar”, comenta Luciana Brites.

Benefícios

A capacidade de se entreter numa atividade lúdica ou que incentive a introspecção ajuda a criança a pensar, ter ideias e chegar a certas conclusões. Desse modo ela consegue criar hipóteses, resolver conflitos, compreender diferentes pontos de vista, aprender a se expressar, e tudo isso está relacionado ao desenvolvimento da inteligência emocional.

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É possível estimular o ócio criativo entre os pequenos sugerindo algumas brincadeiras, mas sempre respeitando a escolha da criança. Também é importante permitir que os erros aconteçam sem que haja repreensão ou julgamento. A ideia é que elas tenham tempo para ser, de fato, crianças.

Com tempo livre, a criança pode escolher o que fazer e do que brincar. É na brincadeira que a criança desenvolve toda a sua capacidade criativa, recriando o mundo e o cotidiano a partir da lógica e da perspectiva infantil.

Infância sem excessos

O excesso leva à adultização precoce. Por isso, é fundamental fazer uma curadoria prévia das informações a que a criança será exposta. E isso não vale apenas para as mídias em geral, mas também para as informações presentes nos ambientes que a criança frequenta, como escola, parques e casa de amigos.

Mas como, na prática, fazer essa curadoria dos assuntos e estímulos apresentados a elas, de acordo com a sua faixa etária? “Os pais devem usar as ferramentas de controle parental nos aparelhos que se conectam à internet e, acima de tudo, quando acontecer uma situação em que apareça uma cena inadequada para o seu filho, converse a respeito daquilo, na linguagem dele, explicando conforme o grau de entendimento e conforme a sua idade”, afirma a pedagoga.

Na busca por equilíbrio na rotina das crianças é essencial observar o ritmo individual delas e adequar os horários conforme os compromissos de toda a família. Permita, em certos momentos, que a criança escolha o que fazer, incentive o brincar livremente e garanta momentos de descanso.

 

Juliana Borga é jornalista, três vezes vencedora do Prêmio Dom Helder Camara de Imprensa. É mãe coruja da Helena e adora escrever sobre temas que colaboram para um mundo mais humano e solidário. Instagram: @juborgajornalista

 

 

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