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Assim que cheguei à Itália, um amigo me presenteou com um livro incrível chamado “O coração nos fala sobre Deus”, ou “O coração te fala de Deus”, do Papa Francisco. O livro é maravilhoso e aborda o tema do discernimento, algo essencial para nossa vida. Quero pedir emprestado o título do Papa Francisco para compartilhar uma reflexão com vocês.
Gostaria de falar pelo coração, com ele e para ele, nestas poucas linhas que vamos ler juntos(as). Não desanime e, antes de achar chato, desafio você a ler mais um parágrafo. Prometo que não será cansativo – já há muita coisa assim por aí.
Quando os discípulos de Emaús (Lucas 24,13-35) estavam andando e conversando sobre o que havia acontecido com Jesus de Nazaré, Ele apareceu de repente no caminho deles e começou a conversar.
Suas palavras eram tão cheias de amor que, depois, os discípulos disseram que seus corações ardiam. O coração batia mais forte, uma sensação diferente ocorria naquela conversa. Aqui podemos pensar em algo: Jesus fala, a mente procura fazer o raciocínio lógico, mas quem sente é o coração.
Podemos começar dizendo que a primeira coisa que deve acontecer para apresentar Jesus a si mesmo ou aos outros todos os dias é acolher, escutar e caminhar junto com Ele. Ele é o Caminho que conduz à fraternidade, a Verdade que salva da maldade humana, a Vida que restaura a dignidade de tudo e de todos.
Sem o enamoramento pela pessoa de Jesus, esse estado constante de ardor, de vontade de estar junto, de ficar próximo, de partilhar a vida, de se sentir interpelado, mas também consolado, não podemos seguir adiante. Aqui não se trata de algo puramente intelectual, mas místico, que parte da própria vida, e não de um manual.
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Transcende o papel, é uma relação, é reciprocidade. Jesus está conosco, mas que espaço estamos dando a essa relação? Essa é uma das chaves para o agora: permitir que o “metaverso” se encarne em saudáveis relações reais e benéficas, construtoras de iniciativas que promovam o bem comum, uma relação verdadeiramente transformadora, que saia do somente “eu” para o “nós”.
A Igreja tem enfatizado muito a importância da escuta, inclusive esse foi o tema do 56º Dia Mundial das Comunicações Sociais. O Papa Francisco nos disse em sua carta anual que o verbo “escutar” tem papel decisivo na comunicação.
Lembrei-me do saudoso Chacrinha, um dos grandes apresentadores do nosso país, que dizia: “Quem não se comunica, se trumbica”. A mensagem central aqui não é apenas se comunicar falando, mas, sobretudo, fazer uma comunicação recíproca, de escuta mútua, que seja autêntica, sincera, capaz de realmente tocar ou mudar algo em nós, às vezes até o silêncio é comunicativo.
O primeiro passo, então, é colocar o coração aberto; o segundo, permitir que esse coração se comunique com o coração de Jesus. Comunicar com o coração significa deixá-lo sempre “vivaz”, permitir que ele faça o seu trabalho: como no corpo humano o coração bombeia o sangue, assim devemos deixar que o “coração” trabalhe para tecer relações saudáveis e construtivas, permita-se ser amado e amar.
Na exortação apostólica Christus Vivit, o Papa Francisco cita Samuel, que abriu seu coração para escutar a voz de Deus (1Sm 3,9-10); também o rei Davi, porque Deus olha o coração, e não as aparências (1Sm 16,7). Sempre o coração de Deus permitindo ser encontrado e o ser humano em busca desse amor. Ele diz, no parágrafo 34: “Ser jovem, mais do que uma idade, é um estado do coração”.
Ele ainda cita tantos jovens que abriram o coração à voz do Senhor, como São Domingos Sávio, que “abriu o seu coração a uma alegria contagiosa”, procurando ficar perto dos que mais sofrem. Podemos citar o mais novo santo deste milênio, o então Beato Carlo Acutis, que em breve será canonizado, que abriu o seu coração para comunicar Jesus através da internet e assimilou de tal forma o Evangelho que viveu a harmonia entre a realidade virtual e real, fazendo tanto bem às pessoas.
Um coração fechado, obtuso, intransigente, dificilmente se permite ser amado e, assim, não procura mergulhar no mistério do Amor Misericordioso e Amoroso de Deus. Um coração fechado é um coração atrofiado, paralisado, amedrontado, sem grandes sonhos, e Deus não deseja a “miudeza” de espírito.
Sim, meus irmãos e irmãs, a chave é o coração, e é por ele que seremos julgados. Quantas pessoas conseguimos ou procuramos amar, suportar, acolher, dignificar, restaurar, incluir, abençoar e caminhar junto? A lei do amor, a única e suprema lei, é a chave que pode iluminar nossa vida no agora.
Por mais corações agradecidos, esperançosos, capazes de sonhar todos os dias por um mundo melhor. Deus, o eterno jovem, nos ajude a caminhar juntos(as) rumo à “civilização do amor”.