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O que acontece quando ignoramos nossas emoções?

Um olhar psicanalítico na perspectiva freudiana 

Foto: Domingo Alvarez- Unsplash

Ignorar as emoções não é apenas um ato de negação momentânea, mas um movimento psíquico com profundas consequências para o sujeito. Na perspectiva da psicanálise freudiana, as emoções, ou mais precisamente os afetos, estão intrinsecamente ligados aos processos inconscientes que estruturam nosso modo de ser no mundo.

Sigmund Freud, em sua obra A Interpretação dos Sonhos1, já apontava que os conteúdos psíquicos reprimidos — desejos, lembranças ou afetos — não desaparecem. Eles se deslocam, condensam-se e se manifestam de forma disfarçada por meio de sintomas, sonhos ou atos falhos. Assim, ao ignorarmos nossas emoções, não as eliminamos; apenas as empurramos para o inconsciente, onde ganham novas formas e continuam a agir sobre nós.

Foto: Joanne Glaudemans - Unsplash

A repressão (Verdrängung), conceito central na teoria freudiana, é o mecanismo que mantém fora da consciência conteúdos considerados inaceitáveis pelo ego. Quando emoções intensas — como tristeza, raiva ou medo — são continuamente reprimidas, elas podem retornar sob a forma de sintomas físicos (somatizações), crises de ansiedade, depressão ou até compulsões. Freud, em Metapsicologia2, alertava que “aquilo que não se elabora retorna como sintoma”. 

Foto: Marcos Paulo Prado - Unsplash

Além disso, o ato de ignorar as emoções compromete o processo de simbolização, essencial para a elaboração psíquica. A não escuta do que sentimos nos afasta da escuta de nós mesmos, prejudicando o autoconhecimento e o desenvolvimento subjetivo. Torna-se, então, um modo de existência baseado na defesa, na alienação de si e no sofrimento silenciado.

A clínica psicanalítica nos mostra que dar lugar às emoções — mesmo as mais difíceis — é um passo fundamental para a transformação psíquica. O sujeito que se permite sentir, elaborar e simbolizar torna-se mais livre, mais integrado e menos refém do retorno do recalcado. Por isso, deve-se acolher o que se sente para abrir espaço para a cura, a verdade e a liberdade de ser inteiro.

 

João Carlos Rodrigues Junior é professor e psicanalista. Possui Especialização em Neuropsicologia com ênfase em Reabilitação Cognitiva, Neuropsicopedagogia Institucional, Clínica e Hospitalar, Especialização em Psicologia da Sexualidade e em Teoria e Técnicas Psicanalíticas.
 

Referências bibliográficas

FREUD, Sigmund. Obras completas, volume 4: A interpretação dos sonhos (1900); tradução Paulo César de Souza. — 1ª ed. — São Paulo: Companhia das Letras, 2019.

FREUD, Sigmund. Introdução ao narcisismo: ensaios de metapsicologia e outros textos
(1914-1916).  Tradução e notas: Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

 

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