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Em um mundo tão agitado, em que a velocidade é o denominador comum dos seres humanos, precisamos aprender a desacelerar e parar, diminuir nosso ritmo, a fim de nos tornarmos mais conscientes dos eventos que acontecem ao nosso redor.
As notícias na televisão e o bombardeio da Internet nos expõem a um cansaço mental e emocional contínuos.
As más notícias estão por toda parte, enquanto a realidade das boas notícias parece estar escondida de nós. Entre trabalho, família e responsabilidades, abrimos pouco espaço em nossa vida para que Deus nos visite em nossa alma. Muitas vezes cumprimos os preceitos da religião, mas raramente estamos a sós com o dono do amor.
Precisamos nos recolher para sermos serenos, precisamos nos recolher para nos encontrarmos, precisamos nos recolher para permitir que Deus venha até nós e seja o verdadeiro mestre de nossa alma.
Vivemos preocupados em fazer muitas coisas - até mesmo coisas boas - fora de nós, mas não deixamos que Deus faça muito em nós, porque não sabemos ficar “sem fazer nada” e, menos ainda, ficar a sós com Ele.
Precisamos entrar em nós mesmos para abrir a porta para que Deus venha, fale conosco e compartilhe suas notícias. Precisamos ficar em silêncio e silenciar as vozes e os barulhos externos para que a melodia da voz de Deus ressoe em nosso interior.
Deixar de lado tantas ocupações nos ajuda a concentrar nossa atenção em Deus e, a partir dele, começar a repensar nossa vida. Precisamos do toque delicado de Deus de que falava São João da Cruz.
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Simone Weil falou sobre o desejo de experimentar o vazio, deixando de lado tudo o que não é de Deus. Ela disse que “o homem só escapa das leis deste mundo pelo espaço de um lampejo. Momentos de quietude, de contemplação, de pura intuição, de vazio mental, de aceitação do vazio moral.
Nesses momentos, ele é capaz do sobrenatural”1. São necessários apenas alguns momentos para que Deus transforme nosso encontro com ele em um momento sobrenatural e amoroso.
Mas, para esvaziar-se, é preciso deixar ir e desapegar-se. Corbí diz: “Os mestres insistem na necessidade inevitável do desapego. O desapego retira do ego a possibilidade de se constituir como um núcleo de dependências e revela seu vazio”2. Precisamos não depender de nada ou de ninguém para nos esvaziarmos e não cairmos na crença de que somos mais importantes do que realmente somos. É preciso aceitar humildemente nossa pequenez.
Reservemos um tempo para o recolhimento tentando deixar de lado as preocupações e ocupações, necessidades e problemas. Reservemos tempo para estar com Deus naquela cela interior onde somente Ele pode entrar. É assim que podemos receber sua visita, como ele prometeu em João: “Se alguém me ama, obedecerá à minha palavra. Meu Pai o amará, nós viremos a ele e faremos morada nele” (14,23).
Diego Pereira Ríos, 45 anos, uruguaio morando em Toledo, PR. Doutorando em Filosofia pela UNIOESTE, Mestre em Teologia Latino-Americana pela UCA de El Salvador, Professor de Filosofia e Religião, escritor. Autor de 8 livros sobre filosofia, teologia, educação e poesia.
1 Weil, Simone, La gravedad y la Gracia, Madrid: Trotta, 2007, p. 62.
2 Corbí, Marià, Métodos de silenciamiento, Bubok, 2006, p. 27.