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A poluição atmosférica representa, hoje, um dos maiores fatores de risco ambiental para a saúde humana. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 50 mil brasileiros morrem a cada ano devido à poluição atmosférica. As crianças são um dos grupos mais vulneráveis, já que a poluição do ar pode causar danos irreversíveis à sua saúde.
As cidades brasileiras vêm atingindo picos de poluição, os chamados “episódios críticos” com mais frequência. O aumento vertiginoso do desmatamento e das queimadas só colabora com os poluentes presentes no ar que respiramos. Mas, afinal, quais são os danos causados e as soluções que devem ser adotadas para evitar esses problemas?
Mais vulneráveis
As crianças e adolescentes estão em fase de crescimento dos seus órgãos e como a poluição do ar é um contaminante, um elemento tóxico, ela causa danos no organismo durante seu processo de desenvolvimento, anomalias que podem se tornar crônicas. Há estudos que comprovam os impactos no desenvolvimento do cérebro, pulmão, coração e outros órgãos em geral. Inclusive, desde a placenta, durante a gestação, a criança já pode ser afetada pelos poluentes.
JP Amaral, gerente de natureza do Instituto Alana, conselheiro do Greenpeace Brasil e do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). Foto:Camila Svenson
“As vias respiratórias das crianças são menores e mais finas do que as dos adultos, o que facilita que a partícula de poluente se acumule e obstrua as vias. Outro fator é que as crianças estão mais próximas à altura dos escapamentos de carros, tornando o efeito da poluição mais nocivo devido à exposição direta ao ar poluído. Hoje, no mundo, 99% das crianças respiram um ar mais poluído do que o recomendado pela OMS. Vale lembrar também que uma criança respira, proporcionalmente, o dobro do que um adulto, o que significa que ela inala o dobro de poluição”, explica JP Amaral, gerente de natureza do Instituto Alana, conselheiro do Greenpeace Brasil e do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA).
Qualidade do ar em alerta
Para entender melhor os altos níveis de poluição, o Instituto Alana e o Instituto Ar fizeram o estudo “Qualidade do ar em alerta”. O levantamento traz uma análise comparativa de níveis críticos e de planos de emergência adotados em nove países: Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Estados Unidos, México, Espanha, França e Inglaterra.
O resultado mostra que o Brasil deixa muito a desejar quando se trata de proteger a população, em especial as crianças. “O objetivo principal do estudo é fornecer recomendações ao governo federal, uma vez que estamos iniciando a revisão de uma resolução no CONAMA que trata desses episódios críticos. Essa resolução irá estabelecer quais são os níveis dos episódios críticos e os planos de ação que os estados e, até mesmo, os municípios podem adotar”, acrescenta JP Amaral.
Medidas urgentes
As soluções a serem adotadas passam, em primeiro lugar, pelo setor de transporte nas cidades. Um dos principais fatores de emissão no Brasil são os veículos, especialmente caminhões e ônibus. Deve-se pensar em zonas onde esses veículos não possam circular, como áreas próximas a escolas, creches e hospitais pediátricos.
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“É preciso discutir o desmatamento e as queimadas. Além de uma fiscalização mais rígida, é necessário repensar o modelo econômico baseado na destruição das florestas e ter um controle maior no período das secas. Devemos reflorestar as cidades e os ambientes onde há pouca vegetação, já que as florestas urbanas funcionam como bolsões de purificação do ar”, destaca o gestor ambiental.
As áreas azuis das cidades, onde há a presença da água, devem ser valorizadas e preservadas, já que a poluição piora durante os períodos de seca por conta da falta de umidade no ar, que ajuda a remover os contaminantes.
O estudo defende a adoção de protocolos de saúde pública e de planos de ação para episódios críticos. No entanto, apenas o estado de São Paulo possui esse plano, que estabelece algumas normas, como o fechamento gradual de ruas e indústrias para restringir as fontes de poluição e garantir a saúde das pessoas. “O que almejamos é que, cada vez mais, estados e municípios adotem esses planos de ação para episódios críticos”, finaliza JP Amaral.