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A discussão não é tão nova. Novidade são as aprovações políticas de proibição ou restrição dos aparelhos celulares baseadas nas pesquisas pós-pandemia.
Uma das maiores evidências recentes veio de um relatório do ano passado da Unesco, órgão das Nações Unidas, que compilou estudos que relacionam o uso de celulares e os resultados educacionais em 14 países.
A conclusão foi de que os efeitos são negativos, com impacto principalmente na memória e na compreensão. Com isso, países como Finlândia, Holanda, Portugal, Espanha e Estados Unidos recentemente aprovaram políticas restritivas dos dispositivos digitais, o mesmo acontece agora no Brasil.
Depois que o Estado de São Paulo proibiu o uso de celulares por estudantes em escolas públicas e privadas, outros estados começaram a adotar medidas mais rígidas até que, em 18 de dezembro de 2024, o Senado aprovou o projeto de lei que veta o uso de celulares nas escolas de todo o país.
Uma aliada da educação
Quando utilizada de forma direcionada, a tecnologia é muito benéfica para o aprendizado, é uma aliada poderosa no processo educativo, ampliando as possibilidades de ensino e aprendizagem. Porém, é essencial avaliar o equilíbrio entre os benefícios e os possíveis prejuízos.
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Pesquisas mostram que o aluno pode levar até 20 minutos para se concentrar novamente no que estava aprendendo após usar o celular para atividades não acadêmicas. Mesmo o aparelho desligado ou usado por um colega, dizem os estudos, pode levar a problemas de aprendizagem.
Mais distração, menos interação
A presença de smartphones em ambientes educacionais está associada a uma redução significativa no desempenho acadêmico devido à fragmentação da atenção, à constante tentação de verificar notificações, redes sociais ou jogos.
Os professores também enfrentam dificuldades em manter a dinâmica das aulas diante dessas distrações. Já nos intervalos escolares, o impacto dos celulares vai além da questão individual: eles diminuem a socialização e a interação entre os estudantes.
“O intervalo deveria ser um momento de descanso, brincadeiras e conexão social, fundamentais para o desenvolvimento socioemocional. Em um mundo onde as crianças têm cada vez menos oportunidades de brincar livremente e se engajar em interações não mediadas por tecnologia, proteger o intervalo escolar da influência dos smartphones é crucial”, defende a co-fundadora do Movimento Desconecta, Fernanda Prada Machado.
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Ela estuda há anos os efeitos prejudiciais da exposição às telas no desenvolvimento das crianças, incluindo as que possuem transtornos de linguagem e TEA (Transtorno do Espectro do Autismo). “Os celulares podem introduzir riscos adicionais, como o aumento da ansiedade, do cyberbullying, da exposição precoce a conteúdos inapropriados e, mais recentemente, a participação em apostas online – um problema crescente entre jovens. Combater esses malefícios requer tanto a conscientização das famílias quanto políticas educacionais que priorizem o bem-estar e o desenvolvimento integral dos alunos”, acrescenta.
A lei decreta a proibição, mas isso resolve o problema?
Não. De nada adianta o aluno ficar sem celular durante as aulas e, à noite, passar horas rolando vídeos infinitos nas redes sociais ou jogando on-line.
É nesse ponto que pais, mães e cuidadores entram em cena. É essencial que eles estejam atentos, presentes e comprometidos com o controle do conteúdo, o tempo de tela, e as interações que seus filhos têm na internet.
“O preço pelo mau uso das telas é alto: riscos de pedofilia, automutilação, depressão, e impactos profundos no desenvolvimento emocional. Adiar o uso de smartphones é uma escolha que pode fazer toda a diferença. Esse adiamento é a alternativa mais segura para priorizar o bem-estar e o desenvolvimento socioemocional das crianças”, finaliza Fernanda Prada Machado.
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