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Neste ano de 2025, celebramos o tempo da quaresma em uma perspectiva diferente, porque vivemos o jubileu ordinário, cujo tema é Peregrinos de Esperança.
A liturgia, em si, é um caminho, e a vida se faz caminhando – ainda que, não raras vezes, tenhamos a tentação de permanecer à beira do caminho, chorando as feridas, esperando que seja Deus a nos erguer.
O primeiro passo deve ser sempre nosso: “eu quero caminhar”. Quando decido, o Senhor me toma pela mão e me acompanha, mas preciso dar o primeiro passo. Em um ano jubilar, a palavra caminho se torna mais importante porque, historicamente, um grande março dos jubileus é a peregrinação.
Nesse sentido, é importante que vivamos a quaresma deste ano com foco não na palavra conversão, mas encarando a mudança de vida como uma peregrinação: é “deixar-se um pouco para trás” para “ir um pouco à frente de si mesmo”.
A mudança, porém, só se faz quando há esperança: é preciso crer que, de fato, que se pode ser diferente, ainda que o mundo continue, por vezes, a enxergar o cristianismo como um escândalo. É claro que o objeto último da nossa esperança é o próprio Cristo, com quem, um dia, esperamos nos encontrar.
No entanto, essa mesma esperança já pode ser antecipada e vivida aqui, porque Jesus não está lá nos céus, longe de nós; ao contrário, é possível contemplá-lo no rosto de cada irmã e irmão, sobretudo dos pobres e necessitados.
Na mensagem para a quaresma deste ano, o Papa Francisco sintetizou nossa caminhada quaresmal nesses três aspectos: caminhar, juntos e na esperança. Lembrou-nos de que todos somos peregrinos na vida, e deixou-nos as seguintes questões: como me deixo interpelar por essa condição? Estou realmente a caminho ou paralisado, estático, com medo e sem esperança, acomodado na minha zona de conforto?
Depois, lembrava-nos de que somos chamados a percorrer este caminho em conjunto, porque o Espírito Santo nos motiva a sair de nós mesmos para irmos ao encontro de Deus e dos nossos irmãos, e nunca a fechar-nos em nós mesmos. Por isso, o apelo final à conversão: o da esperança, da confiança em Deus e na sua grande promessa, a vida eterna.
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Nesse sentido, em geral, a espiritualidade do tempo quaresmal se articula em torno de três eixos: oração, caridade e jejum, que, no fundo, nos levam às únicas três realidades que nunca se acabam: a oração liga-nos a Deus; a caridade, ao próximo; o jejum, a nós mesmos. Deus, os irmãos, a minha vida: estas são as realidades que nunca se dissipam e, sobre as quais, todos precisamos investir.
No fundo, como nos falou o Papa Francisco na homilia da missa da quarta-feira de cinzas em 2021, a quaresma é uma viagem que envolve toda nossa vida; tudo de nós mesmos. É o tempo para verificar as estradas que estamos percorrendo, para encontrar o caminho que nos leva de volta à casa, para redescobrir o vínculo fundamental com Deus, do qual tudo depende. A quaresma não é uma fileira de promessas: é discernir para onde nosso coração está indo.
Há, porém, um tríplice movimento nesses três eixos da nossa existência: com a oração, a quaresma nos convida a olhar para o Alto, o que nos liberta de uma vida puramente horizontal, com tempo apenas para nós mesmos, esquecendo-nos de Deus; depois, com a caridade, para o outro, que nos liberta daquela sensação de acreditar que as coisas estão bem somente se para mim estão indo bem; por fim, com o jejum, para dentro de nós mesmos, porque nos ajuda a sermos generosos com os irmãos. Oração, caridade e jejum são, nas palavras do Papa Francisco, "três investimentos num tesouro que dura até à vida eterna".
A vivência disso tudo é caminho marcado por uma profunda esperança, sem a qual jamais seremos capazes de contemplar a Terra Prometida.
Todos os anos, aqui no Brasil, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) nos propõe a Campanha da Fraternidade (CF), como uma expressão da vivência do tempo quaresmal. Ela nos ajuda a viver a oração – já que devemos rezar pela causa a que ela nos propõe! -, a caridade e sobretudo o jejum.
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Três são as palavras-chave de todas as CF: comunhão, na busca de construir uma verdadeira fraternidade; conversão, na tentativa de se deixar transformar pela vida fecundada pelo Evangelho; e partilha, como o que é visível naquilo que diz respeito ao Reino de Deus que recorda a fé, o esforço do amor, a constância na esperança em Cristo Jesus (cf. 1Ts 1,3).
Neste ano, o tema da CF é Fraternidade e Ecologia Integral, e o lema Deus viu que tudo era muito bom (Gn 1,31). Vivamos a quaresma em comunhão, na esperança de que, unidos, testemunhamos um rosto bonito, de esperança, da nossa Mãe Igreja.
Pe. Tiago Cosmo da Silva Dias pertence ao clero da Diocese de São Miguel Paulista (SP).