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Quarta-feira de cinzas: descer do palco e regressar ao coração

A quarta-feira de cinzas marca o início da Quaresma, ou seja, os 40 dias em preparação à Páscoa do Senhor

Foto: Pixabay

Na quarta-feira de cinzas, dia 5 de março deste ano, realiza-se a celebração da imposição de cinzas nas pessoas. Qual é o sentido desta celebração?

São Paulo Apóstolo, falando aos coríntios, define bem o que é: “É agora o momento favorável, é agora o dia da salvação” (Cf. 2Cor 6,2).

Um tempo favorável, tempo de salvação, pois, ao receber as cinzas, o cristão demonstra sua intenção de manter-se fiel no caminho do seguimento de Jesus Cristo. Reconhece o seu caráter transitório, ou seja, reconhece a sua própria fragilidade, expressa pelo Senhor que o criou, no primeiro livro da Bíblia: “Tu és pó, e em pó te hás de tornar" (Cf. Gn 3,19). 

Apresentar a Deus o coração

No ano passado, na celebração das cinzas, o Papa Francisco lembrava: “A vida não é um teatro, a quaresma nos convida a descer do palco do fingimento. Não tenhamos medo de nos despojar dos revestimentos mundanos e voltar o coração ao essencial (Papa Francisco, 14 de fevereiro de 2024).

Em sua homilia, Francisco recordou que a Quaresma nos mergulha em um banho de purificação e despojamento: ajuda-nos a retirar toda a “maquiagem”, tudo aquilo de que nos revestimos para brilhar, para parecer melhores do que somos:

“Voltar ao coração significa tornar ao nosso verdadeiro eu e apresentá-lo diante de Deus tal como é, nu e sem disfarces. Significa olhar dentro de nós mesmos e tomar consciência daquilo que somos realmente, tirando as máscaras que muitas vezes utilizamos, reduzindo nossa exaltação e abraçando a verdade de nós mesmos”, comentou o Papa.

Descer do palco e regressar à verdade

O gesto de receber as cinzas visa reconduzir-nos à realidade essencial de nós mesmos: somos pó, a nossa vida é como um sopro, mas o Senhor – Ele, e só Ele – não deixa que ela desapareça: “As cinzas postas sobre a nossa cabeça nos convidam a redescobrir o segredo da vida”, diz Francisco.

Foto: Freepik

Destruir as máscaras para sentir-se amado

Acrescenta o Papa, na sua meditação: “Enquanto continuares a usar uma armadura que cobre o coração, a disfarçar-te com a máscara das aparências, a exibir uma luz artificial para te mostrares invencível, permanecerás árido e vazio. Pelo contrário, quando tiveres a coragem de inclinar a cabeça para te olhares intimamente, então poderás descobrir a presença de um Deus que desde sempre te amou; finalmente despedaçarão as couraças de que te revestiste e poderás sentir-te amado com amor eterno.”

O Senhor habita em nossa fragilidade

Os elementos principais do tempo quaresmal, “a esmola, a oração e o jejum”, são caminhos que nos levam de volta ao coração, ao essencial da vida cristã. 

Este é um convite do Senhor para nós que, muitas vezes, vivemos na superfície, nos agitamos para sermos notados e sentimos a necessidade de ser admirados e apreciados. 

“Por isso, nos diz o Senhor: entra no segredo, volta ao centro de ti mesmo. Aí, onde se abrigam também tantos medos, sentimentos de culpa e pecados, precisamente aí desceu o Senhor para te curar e purificar. Entremos no nosso quarto interior: aí habita o Senhor, é acolhida a nossa fragilidade e somos amados sem condições”, convida Francisco.

Silenciar para escutar a Deus 

Recordamos, tantos santos que souberam permanecer à escuta do Senhor. Sobre isto, disse o holandês, teólogo, padre e escritor, autor de 40 livros sobre vida espiritual, Henry Nouwen: 

“Inclinemos o ouvido do coração Àquele que, no silêncio, nos quer dizer: “Eu sou o teu Deus, Deus de misericórdia e compaixão, o Deus do perdão e do amor, o Deus da ternura e da solicitude. Não te julgue a ti mesmo. Não te condenes. Não sintas aversão de ti.  Permite-me enxugar as tuas lágrimas, deixa que a minha boca se aproxime mais do teu ouvido e te diga: Eu te amo, te amo, te amo”.

O Papa nos encoraja, dizendo: “Reconheçamo-nos pelo que somos: pó amado por Deus; e, graças a Ele, renasceremos das cinzas do pecado para a vida nova em Jesus Cristo e no Espírito Santo”, concluiu o Pontífice. 


 

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