O mundo se tornou globalizado, a tecnologia nos conectou, rompeu as esferas culturais e isso modificou tudo em nossas vidas. Já não precisamos mais caçar como nossos ancestrais, a nossa sociedade se industrializou. A mecanização e automação não só modificou a nossa forma de trabalhar, como também alterou a subjetividade humana.
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Partindo do pressuposto de que a subjetividade é entendida em uma relação dialética, ou seja, a condição de sujeito individual se define somente dentro do tecido social em que este vive, a industrialização transformou o indivíduo em sujeito do desempenho e consequentemente a (hiper)produtividade e o (hiper)desempenho em ativos importantes.
Mas já parou para pensar nos efeitos da (hiper)produtividade na saúde mental de um indivíduo?
A partir do que escreveu o filósofo sul-coreano Byung- Chul Han em seu livro intitulado Sociedade do Cansaço, o sujeito não é somente o “sujeito obediente”, do século passado, descrito por Michel Foucault, mas o sujeito produtivo e pró-ativo, empresário de si, que já não está sob coerção alheia.
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Logo, (hiper)produtividade se fundamenta na mudança do paradigma do dever pelo paradigma do poder, entretanto, o poder não cancela o dever, o sujeito produtivo tem de ser também disciplinado e organizado. O poder traduzido pelo verbo yes, we can! eleva o nível de produtividade influenciado pela técnica disciplinar, o imperativo de dever.
Entretanto, o excesso de positividade advindo da ideia de que o poder é ilimitado gera uma violência psíquica, a qual pode ser entendida como um processo de banalização do perigo, onde a exaustão, o esgotamento e o sufocamento são resultantes da (hiper)produção e do (hiper)desempenho.
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De acordo com Byung- Chul Han a violência da positividade não é privativa, mas saturante, não excludente, mas exaustiva, sendo inacessível a uma percepção direta, pois se trata de uma violência sistêmica e invisível presente em todos os espaços da sociedade, cuja consequência é o adoecimento do indivíduo. Por isso, doenças como depressão, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, transtorno de personalidade limítrofe e síndrome de Burnout são característicos deste século.
Então como podemos recuperar a saúde mental numa sociedade do cansaço
Entendendo que a saúde mental diz respeito à capacidade de um indivíduo desenvolver-se, gerenciar suas emoções, responder às demandas da vida e a capacidade de estabelecer vínculos comunitários e sociais, e o cansaço seria a resposta do corpo para o excesso de positividade e autocobranças, as formas pela qual podemos recuperar a saúde mental é por meio de uma vida contemplativa, do ócio ou o tédio e da psicoterapia, porém, o cuidado da mente não está dissociado do corpo, por isso atividades físicas, cuidados com o sono, alimentação saudável e, caso necessário, procurar por um psiquiatra são ações de autocuidado importantes para pensarmos o Ser em sua integralidade.
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Apesar de parecer óbvio, por que é tão importante frisarmos a questão do descanso?
Hoje vivemos em uma sociedade muito pobre de interrupções, de entremeios, pausa e descanso, de modo que é possível afirmar que a (hiper)produtividade criou uma ilusão de que estarmos constantemente ocupados e trabalhar por longas horas ininterruptas é sinônimo de ser mais produtivo e bem-sucedido. Entretanto, a pura inquietação não gera nada de novo, pelo contrário, enfraquece a nossa capacidade de acolher e elaborar alguns sentimentos, tais como angústia e medo, que radicam num espectro de negatividade e pessimismo.
Falar sobre descanso, vida contemplativa, ócio e cuidados com a saúde física e emocional se tornaram contra intuitivos em um mundo globalizado, que tem produzido cada vez mais pessoas depressivas e ansiosas. Portanto, deveríamos estar fundamentalmente cansados da falta de pausa e perpetuação do (hiper)desempenho e não desconsiderar aquilo que temos de mais humano, as emoções.