Foto: Freepik
Quando ouvimos falar em letramento, vem à mente uma pessoa letrada, alfabetizada, com domínio do código alfabético, da leitura, em texto escrito, normalmente do impresso. Tornou-se parte do senso comum que a escola é o lugar da alfabetização, onde a pessoa vai para aprender a ler e a escrever, em contraposição aos analfabetos, que não dominam o código da leitura e da escrita, lembrando que a escola precisa ensinar a ler o mundo.
Com a digitalização, ainda que alguma publicação seja impressa, normalmente está disponível também em plataformas digitais. Somos quase que “forçados” a entrar, uma vez que a sociedade digitalizou os serviços do dia a dia, como compras em lojas para diversos produtos e serviços, operações bancárias, entre outros.
Foto: Freepik
Por sua vez, o letramento digital diz respeito às práticas sociais de leitura e produção de textos em ambientes digitais. Também requer o desenvolvimento de habilidades para o manuseio de ferramentas como computador, e-mails e outros dispositivos móveis em celular, tablet, aplicativos, WhatsApp, SMS, redes sociais, em diferentes plataformas.
O ambiente digital traz também a ideia da multimídia, hipertextos, nos quais as informações são apresentadas em diferentes linguagens: texto escrito, áudios, fotos, vídeos, ícones, navegação.
Enquanto um texto escrito também é visual, sua lógica é linear, a internet, pela organização programada, também chamada de arquitetura, trabalha com hiperlinks, hipertextos; um tema chama outro, entendido como pensamento não linear.
Toda essa mudança no acesso ao conhecimento interfere na cognição, no modo de apropriar-se do conhecimento, no modo de conceber o mundo e as coisas. Por isso, que o letramento digital também requer a capacidade de compreender, analisar, comunicar e aplicar habilidades cognitivas ao contexto digital, para comunicar-se em diferentes situações.
Tudo requer novos conhecimentos, novo aprendizado e o conceito de letramento digital faz parte do currículo das escolas, já no Ensino Fundamental. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) considera o letramento digital como uma competência a ser desenvolvida pelos estudantes, para o domínio de ferramentas de busca a fim de selecionar as informações e saber operar recursos digitais, aplicativos e softwares na internet, bem como saber interagir e relacionar-se com outras pessoas.
Outro aspecto recomendado é compreender o lugar das tecnologias na sociedade, por meio da reflexão e do debate, a fim de servir-se delas de forma crítica, respeitando os princípios éticos.
É uma formação que ajuda a viver em um novo contexto, muito complexo, onde é preciso saber selecionar o que ver, o que acessar, saber administrar o tempo, uma vez que o ambiente digital é amigável e sedutor. Neste sentido, precisamos saber ler o mundo por meio dos recortes que as telas apresentam.
Foto: Pexels
Mas não basta ser usuário da internet. O letramento digital também possibilita ser produtor de conteúdo, ter pautas construtivas e propositivas em favor de temáticas que interessam a uma vida cidadã saudável, com respeito ao ser humano, ao meio ambiente e aos interesses do bem comum, tendo em conta a inclusão.
As competências adquiridas podem contribuir para uma cultura de paz, de solidariedade, de modo que as redes sociais contribuam para os ideais da humanidade.
Importa sermos propositivos neste ambiente que oferece muitas possibilidades e também armadilhas. Por isso, a educação para a comunicação no ambiente digital tem em conta os valores da veracidade, do respeito ao outro, seja criança, jovem, adulto ou terceira idade.
Foto: Pixabay
O letramento digital é uma prática que vai além das tecnologias, do saber ler e escrever, mas possibilita a sociabilidade, a convivência e propostas de transformação da realidade.
Para o papa Francisco, a comunicação é a cultura do encontro, um encontro que reconhece o outro, seja o ser humano, o meio ambiente e toda a criação como espaço de convivência, onde tudo está interligado.
O diálogo entre as pessoas em todos os âmbitos é fundamental para uma cultura de paz, também no ambiente digital.
Helena Corazza, FSP, jornalista, doutora em Ciências da Comunicação. Autora do livro: “Educomunicação. Formação pastoral na cultura digital”, Paulinas Editora. E-mail: [email protected]