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Série especial: Documentos do Concílio Vaticano II - A homilia tem destaque na Dei Verbum 

A Dei Verbum nas dimensões histórica, cristológica e pastoral. A homilia é o momento mais alto do diálogo entre Deus e o seu povo

Foto: Pexels

Dos 16 documentos produzidos no Concílio Ecumênico Vaticano II, a Constituição Dogmática Dei Verbum (DV), é uma das quatro Constituições promulgadas pelo Papa Paulo VI. Em 26 parágrafos, desenvolve o caráter cristológico, eclesiológico, antropológico e pastoral da revelação.

Trata também do esforço de dialogar com as tradições protestantes, com relação à primazia da Palavra na reflexão teológica, na liturgia e na pastoral de um modo geral. 

Dimensão histórica da revelação

Deus sempre falou. A Palavra é a fonte da comunicação de Deus. Assim se lê em Gn 1,1ss. Deus tudo criou proferindo sua palavra. 

Em "Repensar a Revelação", Andrés Torres Queiruga diz que "quando a pessoa vê o mundo como criação, isto remete a sua própria presença a outra presença - a do Criador - que aparece através dele". Queiruga fala desta "presença quase maciça" na Palavra: "Os céus cantam a glória do Senhor" (Sl 18).

A narrativa bíblica lembra que criando e conservando todas as coisas pelo Verbo (Jo 1,3), Deus dá aos homens testemunho perene de si mesmo, nas próprias coisas criadas, como afirma o Apóstolo Paulo (Rm 1,19s). No intuito de abrir caminho à salvação, manifestou-se ainda, desde o início, a nossos primeiros pais. Depois que caíram, despertou-os à esperança, prometendo a redenção (Gn 3,15). Não deixou, em momento algum, de cuidar do gênero humano, para que todos os que praticam pacientemente o bem (Rm 2, 6s) possam alcançar a salvação. Chamou Abraão para constituir um grande povo (Gn 12,2s), depois os patriarcas, Moisés e os profetas, enviou o salvador prometido, preparando assim, através dos séculos, a Verdade do Evangelho.

Ao considerar a dimensão histórica da revelação, o Concílio apresenta três fases da revelação: na criação, na origem da humanidade e na história do povo de Israel. Incialmente, a Constituição apresenta a revelação como “testemunho perene de si mesmo nas coisas criadas”. 

Dimensão cristológica da revelação

“Depois de falar muitas vezes e de muitos modos pelos profetas, Deus “nos falou agora pelo Filho” (Hb 1,1s). Enviou seu Filho, Verbo eterno, que "armou sua tenda entre nós"(Jo 1,1-18).

Este é um aspecto inovador e importante da Dei Verbum: a centralidade de Cristo na revelação.  O n. 4 da Constituição desenvolve e aprofunda este aspecto. Cristo é o mediador e plenitude da revelação. 

Dimensão pastoral e comunicativa na homilia

O número 24 da Dei Verbum, diz que um dos ministérios eclesiais em que a Palavra de Deus deve ser privilegiada é a homilia: “A palavra da Escritura santifica e alimenta igualmente todo ministério da palavra: a pregação pastoral, a catequese e a instrução cristã, na qual a homilia litúrgica desempenha um papel de grande importância”.

A Constituição Sacrosanctum Concilium define a homilia como: "exposição dos mistérios sagrados e das normas da vida cristã, a partir dos textos sagrados, no decurso do ano litúrgico. Recomenda-se vivamente a sua prática com parte integrante da liturgia nas missas dos domingos e festas de preceito, com a presença do povo, não se deve omiti-la".

A homilia deve ser pastoral, dialógica e exortativa

A homilia deve, a partir da Palavra proclamada, aprofundar e atualizar o encontro do ser humano com Jesus Cristo no Espírito Santo e levá-lo a tirar consequências práticas para a vida diária. Por isso, deve ser de cunho dialógico, exortativo e pastoral.

Na Evangelii Gaudium, o papa Francisco afirma que a homilia é “o momento mais alto do diálogo entre Deus e o seu povo” (EG 137). Afirmação fundamental cuja fonte se encontra no Concílio Vaticano II, na constituição Sacrosanctum Concilium sobre a liturgia (SC 52 e 33). 

Assim, a homilia não pode parecer “conferência ou lição” (EG 138), por mais “capaz que seja o pregador”. “Deve dar fervor e significado à celebração” e “ser breve”. Sem se prolongar demais.  

O pregador tem a obrigação de iluminar o dia-a-dia da comunidade, pela atualização da Palavra na vida concreta do povo e, à luz do Espírito Santo, ajudar os fiéis a interpretar os sinais do tempo na vida presente, tendo em conta sempre a mensagem central do Evangelho de Jesus Cristo. É primordial partir sempre da Palavra e deixar-se guiar por ela para a vida diária.

A nova evangelização

A Palavra de Deus, ao ser proclamada, manifesta e atualiza a salvação de Deus realizada na história, cumprida plenamente em Jesus Cristo.

A Constituição Dei Verbum deu novo impulso à valorização do estudo bíblico, dos métodos de exegese, da importância da Sagrada Escritura na teologia, nas pastorais, nos grupos de reflexão e nos movimentos eclesiais.

Leia também 

Homilia  
Ministério da homilia 
Homilia: espaço para comunicar esperança 
Homilia, partilha da palavra – vol. 3 

Constituição Sacrosanctum Concilium sobre a sagrada liturgia - 26

Dei Verbum - 37


 

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